01/02/2008 - 0:00
Aquele velho ditado que do boi tudo se aproveita exceto o berro começa a fazer sentido para a cadeia dos produtores de hortaliças orgânicas. Em Natal, estes agricultores se encontram todos os sábados na feira de Agroecologia, que acontece no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Promovida pelo Sebrae- RN, pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado e Associação Zuzu Angel, a feira tem por objetivo incentivar a economia solidária. Uma das formas é por meio do reaproveitamento das hortaliças. Após a feira, em vez de eles levarem para casa ou darem um fim às leguminosas que não foram vendidas, eles repassam a artesãos, participantes da feira. Clementino Câmara e sua esposa, Iuná Chaves, são uns dos beneficiados. Farmacêutico químico, Câmara produz domesticamente 18 tipos de sabonetes, entre eles sabonetes de alface, cenoura, pepino e tomate. Como sua matéria-prima é apenas o extrato, ele extrai e repassa as fibras para um chef de cozinha, que produz pães e bolos.
Cada sabonete tem 120 gramas e é vendido por R$ 5, valor barato se comparado ao praticado na Europa, em que sabonetes assim chegam a custar 12 euros. Câmara também está fazendo um gel à base de algas marinhas, aroeira e babosa, que tem capacidade de penetrar no sistema circulatório periférico. “A vantagem é que não tem conservante nem produto sintético”, explica. Para este ano, está se juntando ao casal um médico dermatologista. “Nossa idéia é iniciar uma pesquisa sobre sabonetes indicados para escara, feridas normais em idosos pelo fato de ficarem muito tempo na mesma posição”, diz.
SUCESSO NA FEIRA: ao todo são vendidos 18 tipos diferentes de sabonetes produzidos a partir de hortaliças
VALOR AGREGADO: produto vendido a R$ 5 no Brasil chega a custar 12 euros na Europa
Outro que compra as sobras de hortifrutigranjeiros para fazer seus produtos é Laércio Severino. Em casa, fabrica xaropes fitoterápicos que são vendidos na feira por R$ 3 a garrafa de 250 gramas. O projeto começou em 1984, quando Severino se aposentou. Desde então fez vários treinamentos em universidades da região e hoje elabora xaropes para problemas respiratórios, verminoses, anemia e contra tosse. O primeiro, inclusive, é usado num projeto social do Sesi há 14 anos e a estimativa é de que 80 mil meninos já tomaram o produto. “Não faço nem empenho de divulgar, quem usa que divulga para mim”, diz Severino.