No dia 8 de novembro, a presidenta Dilma Rousseff ligou para o presidente reeleito dos Estados Unidos, Barack Obama. A conversa durou dez minutos. Além de cumprimentá-lo pela vitória nas eleições, Dilma falou sobre o potencial para expandir a relação comercial e os investimentos entre os dois países, em seu segundo mandato. De acordo com fontes da presidência, Dilma e Obama querem se reencontrar em breve. Desde o ano passado, eles estiveram juntos em duas ocasiões. “Esses encontros muito nos interessam”, diz o embaixador Rubens Antonio Barbosa, que já ocupou vários cargos no governo brasileiro, com passagem por Washington, entre 1999 e 2004, e hoje é consultor e presidente do conselho superior de comércio exterior da Fiesp. “Os EUA são um mercado aberto de mais de US$ 1 trilhão e há áreas em que o Brasil pode avançar, entre elas o agronegócio.”

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2011, o comércio exterior brasileiro movimentou US$ 483 bilhões. Desse total, as exportações somaram US$ 256 bilhões. Neste ano, de janeiro a outubro, o valor das vendas externas já chegou a US$ 202,3 bilhões. Mas as compras americanas de produtos agrícolas brasileiros ainda representam uma pequena fatia desse bolo. Nos últimos anos, os Estados Unidos gastaram, no País, algo em torno de US$ 5 bilhões por ano, no setor primário, um quarto do que o Brasil vende para a União Europeia e metade do que vai para a China.

Para Barbosa, falta uma agenda brasileira para o agronegócio. “Apesar do potencial, as negociações com os americanos são árduas porque eles têm muita força”, diz. “É preciso estar, permanentemente, na mesa de negociação, no quintal deles.” Nesse sentido, dois movimentos paralelos são necessários: um de parte dos empresários do agronegócio – em busca de nichos de mercado – e outro do governo, melhorando a competitividade dos produtos brasileiros. “Há campos muito vantajosos para o Brasil, entre eles o de biomassas”, diz Barbosa. “Tudo o que se refere à energia, aí incluído o etanol de cana-de-açúcar, está no radar dos Estados Unidos.”

Nos dez primeiros meses do ano, a receita do Brasil com a venda de etanol aos Estados Unidos foi de US$ 1,2 bilhão, do total acumulado de US$ 22,7 bilhões pelas exportações para aquele país, no período. Segundo os dados do Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro, do Ministério da Agricultura (Mapa), neste ano, entre os dez produtos mais vendidos aos americanos, o etanol é o terceiro item da lista, atrás de óleos brutos de petróleo e produtos semimanufaturados de ferro ou aço. Na comparação com o mesmo período de 2011, o etanol foi o item que apresentou a maior alta – quase o dobro. Na última safra, os EUA atravessaram uma das piores secas de sua história e hoje têm dificuldade em equacionar a demanda por etanol à base de milho.

Na lista americana de compras de produtos de origem agropecuária no País ainda estão o café em grão cru, em quarto lugar, com US$ 849 milhões, e os produtos florestais, em sétimo lugar – entre eles a celulose – com US$ 708,6 milhões. Esses dois segmentos aparecem acima do comércio de aviões, outro nicho promissor para o País, que até o momento faturou US$ 561 milhões.

O Brasil ainda exportou aos Estados Unidos, por valores acima de US$ 100 milhões, sucos e couro bovino, e, na faixa superior a US$ 40 milhões, frutas e carne bovina, suína e de aves. Segundo Barbosa, o aumento do comércio de carnes é uma das possibilidades, mas também é um dos setores que mais necessitam de atenção por parte do governo. “Os grupos Marfrig e JBS-Friboi, duas empresas brasileiras que figuram entre as maiores do mundo, no setor, já estão nos Estados Unidos”, diz o embaixador Barbosa. No caso da carne bovina, no entanto, se o governo brasileiro não insistir nos acordos sanitários, essas empresas não conseguirão ir além da carne industrial, o chamado corn beef, alerta Barbosa.

Ao contrário da carne in natura, com maior valor agregado, o corn beef é um produto que não leva risco sanitário ao rebanho americano de 89 milhões de animais, segundo a US Livestock Marketing Information Center, de Denver, no Estado do Colorado. Os Estados Unidos brandem o princípio da precaução em relação à febre aftosa para não comprar carne in natura do Brasil. O País controla a doença através de vacinação, enquanto os americanos erradicaram o vírus da aftosa na década de 1920, através do abate de todos os animais infectados. Mas, para a Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec), essa discussão ainda está na mesa. “No próximo ano, os Estados Unidos terão que abrir as negociações porque a carne in natura faz parte do contencioso do algodão que corre na Organização Mundial do Comércio”, diz Fernando Sampaio, diretor executivo da Abiec.

As questões pendentes, como a da carne, deverão ser aplainadas no segundo mandato do presidente americano, que já fez um importante gesto ao abolir as barreiras de importação do etanol brasileiro, no primeiro semestre deste ano. Para Gabriel Rico, CEO da Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), a reeleição do presidente Barack Obama  traz como ponto positivo a continuidade dos processos iniciados em seu primeiro mandato. “A deferência que Obama deu ao Brasil é clara”, diz Rico. “O Brasil está entre os dez países mais importantes para a diplomacia americana.” E o que é melhor: o País é considerado uma potência comercial e política por suas próprias características. “Obama tem destacado o Brasil dos demais países da América Latina, passando a vê-lo numa relação direta com os Estados Unidos”, afirma Rico.