19/05/2025 - 12:11
A Bayer, multinacional alemã do setor químico e farmacêutico, enfrenta uma das maiores crises jurídicas e financeiras de sua história no momento atual. O problema, todavia, não é recente, e remonta a aquisição da Monsanto feita em meados de 2018.
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A compra da Monsanto foi feita pela cifra de US$ 63 bilhões, sendo uma das maiores da história da indústria. Só que, com a gigante, vieram problemas judiciais aos montes e a aglutinação dos ativos e passivos também pesou no balanço da gigante alemã do setor farmacêutico.
Após a compra, a Bayer se tornou uma empresa substancialmente mais endividada e, além disso, passou a gastar bilhões de dólares em tribunais.
A causa disso é o herbicida Roundup, que fez com que a empresa enfrentasse 67 mil processos judiciais nos Estados Unidos, nos quais já foram desembolsados mais de US$ 16 bilhões em acordos.
Desse valor, cerca de US$ 10 bilhões foram desembolsados e, atualmente, restam US$ 6,2 bilhões provisionados para novas demandas, segundo dados financeiros do primeiro trimestre de 2025.
Em janeiro de 2024, um júri da Pensilvânia chegou a condenar a companhia em US$ 2,25 bilhões depois de determinar que o herbicida causou câncer em um homem.
Um dos casos mais célebres, que se tornou documentário, foi o de Dewayne Johnson, que foi o primeiro a ir a julgamento público dentre as milhares de ações que estavam sendo movidas contra a empresa nos EUA.
Johnson é um ex-jardineiro e zelador de escola pública na Califórnia que trabalhava aplicando herbicidas, incluindo o Roundup, da Monsanto, quase diariamente em áreas externas de uma escola onde era responsável pela manutenção. Em 2014, ele foi diagnosticado com linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer que afeta o sistema linfático. Na época, ele tinha pouco mais de 40 anos e os médicos consideraram seu caso terminal.
Em agosto de 2018, um júri em San Francisco deu ganho de causa a Johnson e determinou que a Monsanto pagasse US$ 289 milhões em indenizações (valor que depois foi reduzido para cerca de US$ 78 milhões em apelação, e posteriormente ajustado de novo).
A IstoÉ Dinheiro entrou em contato com a assessoria da Bayer, que não retornou até a publicação desta reportagem. O espaço
Recuperação judicial bate à porta após problemas judiciais da Monsanto
Diante da pressão financeira e jurídica, a companhia contratou os escritórios Latham & Watkins e AlixPartners para estudar alternativas legais, segundo informações do The Wall Street Journal.
Uma das opções em avaliação seria a apresentação de um pedido de Chapter 11 — equivalente à recuperação judicial nos Estados Unidos — para subsidiárias da Monsanto, com o objetivo de suspender os processos e negociar um plano de pagamento no âmbito da Justiça de falências americana.
A estratégia, embora viável, encontra obstáculos.
Casos semelhantes envolvendo outras empresas enfrentaram resistência no Judiciário norte-americano. Johnson & Johnson, por exemplo, tentou utilizar esse mecanismo para lidar com mais de 60 mil processos relacionados a alegações de contaminação por amianto em talcos para bebê.
A Justiça rejeitou os pedidos. Situação semelhante ocorreu com a 3M, que buscou a proteção judicial para uma subsidiária responsável por protetores auriculares. Após negativa, a empresa optou por um acordo de US$ 6,01 bilhões.
Bayer avalia caminhos alternativos
A Bayer, paralelamente, recorre a outras frentes. A empresa intensificou sua atuação junto a parlamentares estaduais e federais nos Estados Unidos, propondo mudanças legislativas que possam reduzir a exposição a litígios futuros.
Além disso, aguarda uma possível decisão da Suprema Corte norte-americana, prevista para os próximos meses, sobre a aceitação de um recurso relacionado às alegações contra o Roundup.
No campo financeiro, a Bayer aprovou, em abril de 2025, uma emissão de ações equivalente a 35% de seu capital, buscando captar US$ 9 bilhões para reforçar o caixa e enfrentar os custos dos processos.
No mesmo período, a companhia anunciou a segregação do negócio de glifosato dentro de sua divisão agrícola, medida que pode facilitar o gerenciamento jurídico e financeiro do caso.
Em paralelo aos processos em massa, a Bayer sofreu novos reveses. Em janeiro, um júri na Geórgia condenou a companhia ao pagamento de US$ 2,1 bilhões, incluindo US$ 2 bilhões em danos punitivos.
A empresa afirma que irá recorrer da decisão e reitera que decisões anteriores sofreram reduções de até 90% em instâncias superiores.
O CEO da Bayer, Bill Anderson, declarou que reduzir o passivo jurídico relacionado ao glifosato até o fim de 2026 é uma prioridade. Enquanto isso, os impactos financeiros seguem afetando os resultados.
No primeiro trimestre de 2025, o EBIT da empresa foi de 2,324 bilhões de euros, queda frente aos 3,092 bilhões de euros do mesmo período no ano anterior. Desse total, 587 milhões de euros foram destinados a itens especiais, em grande parte relacionados a provisões para os litígios do Roundup.
A Bayer estima que a definição desse contencioso ocorra nos próximos 12 a 18 meses, período em que a companhia deverá definir se levará adiante o pedido de recuperação judicial para subsidiárias da Monsanto ou buscará novos acordos e decisões judiciais.