Na carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para justificar o descumprimento da meta de inflação de 2022, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, argumentou que o estouro do objetivo foi um “fenômeno global”, citando os impactos da guerra na Ucrânia sobre os preços de commodities e sobre os bens industriais, considerando também o efeito da política de covid zero na China.

“As pressões advindas dos preços de commodities e das cadeias produtivas globais refletiram mudanças no padrão de consumo causadas pela pandemia, com parcela proporcionalmente maior da demanda direcionada para bens e impulsionada por políticas expansionistas, e, no caso de 2022, foram agravadas pela eclosão da guerra na Ucrânia.”

Na carta, Campos Neto citou que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação do grupo dos países avançados deve atingir 7,2% em 2022, após ter sido em média 1,51% entre 2010 e 2019. “A elevação significativa da inflação em 2021 e 2022 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países emergentes.”

No caso das commodities, o BC citou que o movimento dos preços de petróleo foi de maior magnitude do que dos produtos agropecuários e metálicos. Em relação aos bens industriais, Campos Neto ressaltou que o aumento refletiu gargalos na oferta global, especialmente no primeiro semestre de 2022. “A guerra na Ucrânia e a restrição de mobilidade na China acentuaram essas limitações e desequilíbrios.”

O BC ainda destacou que a guerra da Ucrânia e o estresse hídrico em importantes produtores globais afetaram os preços de grãos no ano passado, o que foi um fator relevante para a alta de alimentos como farinhas, pães e massas.