09/07/2018 - 10:00
Especial – Brasil no Mundo
Fazendeiros franceses tomaram o noticiário internacional no fim de 2017, em uma série de protestos contra o presidente Emmanuel Macron. O motivo? Na época, Macron anunciava a abertura do mercado francês a produtos agropecuários mais baratos, vindos de outros países. Enfurecidos com a concorrência, agricultores bloquearam rodovias e tomaram o centro de Paris, na região do Arco do Triunfo. Os protestantes usavam máscaras de Macron com nariz de Pinóquio, personagem infantil que contava mentiras. É com esse tipo de protesto, que não é recente na história do comércio internacional, que as representações oficiais brasileiras do agronegócio precisam lidar no exterior. Negociar exige disposição para o enfrentamento, e cabe às representações pavimentar a melhor estrada. Para melhorar esse trabalho, até o fim de 2019, um fato inédito deve acontecer. Pela primeira vez, o Brasil terá no exterior 25 adidos agrícolas. Hoje são 13. “É a primeira vez que temos esse tamanho de enviados ao exterior”, diz Alexandre Pontes, diretor de Negociações Não Tarifárias da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “É com o trabalho deles que o País pretende crescer ainda mais nas negociações do agronegócio”. Com isso, o setor terá 45 delegações. Elas estarão distribuídas em 42 países, além da União Europeia e de duas organizações internacionais, a Organização Mundial do Comércio e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.
O trabalho dos adidos não é uma tarefa simples. O comércio global caminha para acordos que necessitam de uma costura fina, como o que é esperado ainda para este ano, entre a União Europeia e o Mercosul. O acordo de livre-comércio entre os dois blocos é uma negociação cheia de avanços e retrocessos que já dura 19 anos. “É obviamente um acordo complicado”, afirma o embaixador Orlando Leite Ribeiro, diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos (DPR) do Ministério das Relações Exteriores. “Mas tem tudo para ser firmado ainda em 2018, porque os europeus querem acessar o mercado brasileiro.”
Mas o trabalho não termina aí. No rastro dessa negociação estão outras de grande peso para a economia. Acordos com a China, os Estados Unidos, o Canadá e o México podem ajudar o País a alcançar a meta de aumentar a participação no comércio internacional de produtos agropecuários, hoje de US$ 1,1 trilhão. O País sairia de 8,7% para 10%, o que somaria R$ 110 bilhões em exportações.
Para dar sustentação a esse trabalho, o governo federal deve lançar também, ainda este ano, o plano “O Melhor do Agro Brasileiro”. Anunciado no fim de 2017, a iniciativa serve para divulgar as ações de consolidação da imagem do agronegócio.
Segundo o economista e diplomata, Rodrigo Estrela de Carvalho, chefe da Divisão de Agricultura e Produtos de Base do MRE, o Brasil tem muito a ganhar reforçando sua imagem. “A nossa agropecuária é altamente competitiva”, diz Carvalho. “Além de ser sustentável, é capaz de suportar aumento de produtividade sem precisar derrubar uma árvore sequer.” Investir na imagem de um país no exterior é vital para a sua prosperidade e a melhoria de estratégias multidimensionais, para fixar a sua marca.