Mizutani, da Raízen: “Até 2016, renovaremos todas as nossas lavouras”

A Raízen Energia, joint venture entre Shell e Cosan, líder absoluta do mercado nacional de açúcar e álcool, seguida pela francesa Louis Dreyfus, decidiu ajustar seu plano estratégico para 2015. Antes, a empresa previa investir R$ 1 bilhão por ano, até aquela data, para elevar sua capacidade de moagem em suas 24 usinas dos atuais 62 milhões para 70 milhões de toneladas de cana. Diante do crescimento da concorrência na Europa e na Ásia e do envelhecimento dos canaviais de seus fornecedores, com a consequente redução da produtividade, a Raízen reviu suas projeções para baixo. Já na próxima safra, deverá ser moído um volume de no máximo 54 milhões de toneladas. “É muito aquém do que se esperava”, afirma o vicepresidente de açúcar, etanol e bionergia da Raízen, Pedro Mizutani. “A mudança na previsão tem a ver com o que ocorre no mercado.”

Como mostra o exemplo da Raízen, a renovação dos canaviais é um dos grandes gargalos para o setor. Afinal, um canavial mais velho tem rendimento muito inferior no período de corte. Por isso mesmo, a líder do mercado brasileiro de etanol vai dar uma ênfase maior no rejuvenescimento de sua lavoura: já está decidido, por exemplo, que no próximo ano deverão ser renovados 100 mil hectares de cana, o equivalente a 20% total de sua área de plantio. “Até 2016, renovaremos toda a nossa lavoura”, diz Mizutani. De acordo com ele, hoje os canaviais da empresa têm, em média, 3,2 anos de idade, abaixo da média do setor, de 3,5 anos. Em 2012/2013, a idade deverá cair para 2,8 anos, mas mesmo assim continuará acima da média ideal de 2,5 anos.

Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) apontam que 59% dos canaviais eram considerados jovens em 2008, estavam no terceiro ou quarto cortes e produziam 90 toneladas de cana por hectare. Sem a renovação, a participação de cana jovem caiu para 45%, com produtividade de apenas 68 toneladas/hectare na atual safra, devendo chegar a 41% em 2012. “De três anos para cá, com a crise do setor de açúcar e álcool, a renovação ficou abaixo do esperado”, afirma Jacyr da Silva Costa, presidente da Açúcar Guarani, controlada pelo grupo francês Tereos. “Com escassez de crédito, o setor está adiando os projetos de novas usinas e também reduzindo os aportes básicos no campo.” Em 2012, a companhia renovará 20% dos seus canaviais, concentrados no noroeste do Estado de São Paulo. Já os seus fornecedores deverão realizar uma renovação mínima, segundo o executivo. “A reforma prioritária não será nas lavouras, mas nos caixas desses fornecedores, que estão com dívidas passadas”, afirma.

 

A partir do ano que vem, as usinas receberão financiamento de até R$ 50 milhões do governo para reformar suas lavouras de cana-de-açúcar

 

 

 

Em junho deste ano, o Plano Agrícola e Pecuário 2011/2012 do governo federal criou uma linha de financiamento para a renovação de canaviais de até R$ 1 milhão por produtor, com prazo de pagamento de cinco anos e com 18 meses de carência. Na época, o governo avaliou ainda uma linha específica para as usinas renovarem as lavouras próprias, que poderia chegar a R$ 50 milhões por companhia. Mas isso valerá apenas no ano que vem. Até lá, a oferta de cana-de-açúcar pode, inclusive, cair, já que a área a ser renovada demorará a produzir. Relatório divulgado pela Unica na última semana de novembro registrava que o volume de cana-de-açúcar moído nas usinas da região Centro-Sul do Brasil no período de abril a outubro deste ano somou 459,56 milhões de toneladas, contra 501,23 milhões de toneladas no mesmo período da safra anterior.

Na mesma semana, durante a abertura da Sugar Week do Brasil, promovida pela Unica em São Paulo, o presidente da entidade, Marcos Jank, enfatizou que espera uma política clara e mais abrangente do governo, que permita ao etanol competir de forma justa com a gasolina. “É preciso reduzir custos, gerar ganhos de eficiência e produtividade”, afirmou Jank. “Assim como desenvolver novas tecnologias.” Neste ano, a produção de cana-de-açúcar não crescerá, pela primeira vez em dez anos. Dados da Unica apontam que o volume produzido no período 2011/2012 deve se aproximar ao da safra de 2010/2011, ou seja, 560 milhões de toneladas. “A questão da quebra da safra já era anunciada quando o setor estava com excedente de etanol”, disse Jank à DINHEIRO RURAL. “Por isso, é preciso que o governo nos ajude.”