Os Bancos Centrais não podem ficar esperando que os desequilíbrios econômicos no horizonte atual se resolvam e devem se concentrar em manter a inflação baixa e estável, afirmou o gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Agustín Carstens. Diante de desafios tanto do lado da oferta quanto da demanda, na esteira da pandemia e da guerra na Ucrânia, a condução da economia para um “caminho durável”, na sua visão, começa pela redefinição de políticas macroeconômicas, com foco em ações que gerem crescimento sustentável à frente.

“Nesse ambiente, os bancos centrais não podem esperar suavizar todos os desequilíbrios econômicos e devem se concentrar em primeiro lugar em manter a inflação baixa e estável”, afirmou Carstens, durante o seminário de Jackson Hole, evento que reúne banqueiros centrais de todo o mundo no interior de Wyoming, nos Estados Unidos. “A política monetária precisa enfrentar o desafio urgente de lidar com a atual ameaça inflacionária”, acrescentou.

Para o gerente-geral do BIS, uma espécie de banco central dos bancos centrais, o mundo pode estar diante do que a aviação chama de “coffin corner”. “É o ponto delicado em que uma aeronave voa abaixo de sua velocidade de estol (perda de sustentação) e não consegue gerar sustentação suficiente para manter sua altitude”, explicou.

Carstens também chamou atenção para o papel da política fiscal, que deve andar alinhada com os limites da demanda na economia. Isso porque estímulos às economias podem, depois, ter de ser retirados pela política monetária, afirmou.

“Em vez disso, os escassos recursos fiscais devem ser usados para enfrentar as restrições de oferta, incluindo aquelas impostas pelas mudanças climáticas, envelhecimento da população e infraestrutura, por meio de ações favoráveis ao crescimento e apoio a amplas reformas estruturais”, listou o gerente-geral do BIS, lembrando que esse ambiente também pressiona a inflação.

Segundo ele, a pandemia e guerra foram um “rude despertar econômico e humanitário” e para combater a covid-19 decidiu-se “parar a economia global no ar”. “Foi ingênuo esperar que seria fácil reacender o motor do crescimento, recuperar rapidamente a velocidade e voar novamente sem problemas”, disse.

Na sua visão, os formuladores de políticas se acostumaram a décadas de ampla oferta e, sem experiência em calibrar estímulos para reiniciar um motor que havia sido desligado intencionalmente, tiveram de recorrer às ferramentas já conhecidas do lado da demanda. “As consequências para a inflação quando a oferta não pôde mais acompanhar pegou muitos de nós desprevenidos”, comentou.

Um desafio importante à frente, ainda que as interrupções nas cadeiras de fornecimento causadas pela pandemia e pela guerra desapareçam, segundo ele, é de que a importância de fatores relacionados à oferta para a inflação provavelmente seguirá “alta”. Carstens atentou ainda para o risco de a recente recuperação de pressões inflacionárias se mostrar “mais persistente”.

“A economia global parece estar à beira de uma mudança histórica, já que muitos dos ventos a favor da oferta agregada que mantiveram a inflação sob controle parecem prestes a se transformar em ventos contrários”, avaliou.

No contexto atual, enfatizou também a importância da cooperação internacional em um ambiente de “crescentes impulsos protecionistas e populistas”, mencionando a necessidade de aprimorar a globalização em vigor, que tem perdido forças. “Uma solução poderia ser promover uma forma de globalização melhor e mais sustentável, em vez de reduzir significativamente a integração comercial”, defendeu.

De acordo com Carstens, quanto antes os formuladores de políticas reconhecerem a necessidade de uma redefinição e se comprometerem com estratégias de crescimento sustentável, focadas na revitalização do lado da oferta, “mais forte e resiliente” será a economia global. “Se conseguirmos fazer isso, novos ventos favoráveis poderão surgir, com benefícios substanciais tanto para o crescimento quanto para a estabilidade de preços”, concluiu.