01/10/2010 - 0:00
Ao se articular na discussão do Código Florestal como há muito não fazia, a bancada ruralista semeou seu futuro. Reforçada pelo apoio de empresas e associações do setor agropecuário, o grupo chegou às eleições estimando colher a maior safra de deputados e senadores dos últimos anos. O otimismo sustentava-se em pesquisas nos Estados que apontavam a provável reeleição dos mais atuantes do ruralismo. Melhor, indicava que esse núcleo ampliaria sua força no Congresso Nacional até 2014 com a vitória de figuras com influência no campo e fora dele. O mais conhecido desses expoentes é o ex-governador de Mato Grosso Blairo Maggi, um dos maiores empresários rurais do país. Popular em seu Estado e com prestígio entre produtores de todos os portes, de pequenos a grandes, ele é visto como o interlocutor que faltava aos ruralistas para levar seus anseios ao governo e unir a desarticulada bancada num período repleto de votações sensíveis para o agricultor.
“O agronegócio tem que ser tratado como o setor mais estratégico para o desenvolvimento brasileiro”
Blairo Maggi, líder da bancada ruralista
A expectativa em torno de Maggi baseia-se no trânsito e na proximidade que tem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O capítulo rural no programa de governo da candidata do PT, Dilma Rousseff, por exemplo, traz sugestões oferecidas pelo ex-governador. Vinculando sua imagem à de Lula, Maggi pautou sua campanha propondo melhora nas condições de produção para pequenos e médios agricultores e a luta pela regularização fundiária, processo que se arrasta mesmo com a aprovação de uma nova lei para o tema, em 2009. Ao longo da corrida eleitoral, porém, enfatizou que não quer ser visto como um candidato ruralista, mas alguém comprometido com os interesses de Mato Grosso.
Explorou mais sua nova faceta: a de empresário rural comprometido com a sustentabilidade ambiental – a antítese do troféu “Motosserra de Ouro”, concedido em 2005 por ONGs ambientalistas aos maiores desmatadores. Um discurso que repetiu nos encontros com entidades rurais e que cai como uma luva nas pretensões da nova bancada ruralista, que tenta se reinventar sob a bandeira da preservação com pragmatismo.
A conquista de uma bancada com maior peso nas votações do Congresso se tornou uma meta das principais associações e empresas do setor. Segue o raciocínio de que, dado seu peso na economia, o setor agrícola deve buscar eleger um número de representantes compatível com sua importância na economia. “É fundamental. O agronegócio ficou maior e seus problemas, Parlamentar da Agropecuária conta com 236 membros na Câmara. Desses, estima-se que não mais de 60 votem fechados com as propostas de interesse do agronegócio, ou apenas um quarto de seu contingente. “São os que estabelecem uma dissidência. Os demais votam como mandam seus partidos”, analisa o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar (Diap), ressaltando que a eleição de figuras como Maggi traz a perspectiva de romper a histórica desarticulação do grupo no Congresso.
A extensa agenda de assuntos com impacto direto no dia a dia do campo impõe à bancada a busca por coesão nos próximos quatro anos. Grande assunto dos últimos meses, o novo Código Florestal marcou uma vitória dos ruralistas, que conseguiram aprovar o texto do deputado Aldo Rebelo em comissão especial. Mas a proposta ainda precisa ser votada no plenário da Câmara e tramitar pelo Senado. A prioridade número 2 é barrar a votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) do trabalho escravo, travada desde 2005 por falta de acordo com a bancada.
Outros temas sensíveis na pauta são: mudanças na legislação trabalhista, a questão fundiária, a dívida agrícola e a demarcação de terras indígenas e quilombolas, além da criação de novas reservas florestais. “Vamos trabalhar para adequar a legislação ambiental à realidade do setor produtivo. A lei não pode inviabilizar o setor rural”, disse à DINHEIRO RURAL o deputado Moreira Mendes, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, em sintonia com a “preservação com pragmatismo”.
Bancada turbinada: antes do resultado final da eleição, estimava-se que os ruralistas elegeriam 100 parlamentares
As eleições deste ano marcaram também a intensa participação de entidades do setor em prol de candidatos alinhados com o campo. A Sociedade Rural Brasileira, por exemplo, promoveu encontros com empresários e os incentivou a contribuir com campanhas ruralistas.
“Conclamamos nossos associados para que ajudassem e contribuíssem. É uma coisa democrática”, conta Cesário Ramalho da Silva. Isso explica o número de candidatos diretamente ligados ao campo, como Irajá Abreu, filho da senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), e Alexandre Kireff, presidente da Sociedade Rural do Paraná. Outro caso emblemático é o do arrozeiro Paulo César Quartiero, líder da resistência contra a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol e candidato a deputado federal por Roraima, que fez campanha cobrando união ao setor. “Permitimos que os ambientalistas formassem a agenda nacional. Precisamos mudar isso”, conclama.