15/11/2022 - 16:13
O ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e professor do MIT, Olivier Blanchard, afirmou nesta terça, 15, que não acredita que nenhum banco central no mundo deve querer criar uma recessão para atingir de qualquer maneira a meta de inflação de 2%. A expectativa do economista, que fala em evento do Bradesco BBI em Nova York, é de que a taxa de inflação esteja mais próxima de 3% do que de 4% em países desenvolvidos.
“Não acho que BCs vão deixar de fazer o que tem de fazer. Mas vão mais lentamente. No fim de 2023, vamos estar perto de onde gostaríamos de estar”, disse, comentando em certo momento que o que o deixaria preocupado é se Donald Trump fosse eleito para a presidência dos EUA em 2024 e colocasse outra pessoa à frente do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) em substituição a Jerome Powell.
Segundo Blanchard, por muito tempo, ele achou que os bancos centrais estavam atrás da curva, mas não mais. Para ele, a taxa de juros nos EUA talvez tenha de chegar a 5% e a maioria do efeito da política monetária do Fed ainda vai ser sentida à frente.
Em sua participação na 12ª edição do Bradesco BBI CEO Forum, em Nova York, Blanchard fez uma diferenciação entre a situação da inflação nos EUA e na Europa. O economista afirmou que a inflação cheia nos EUA tem arrefecido com a redução dos preços de energia e a normalização das cadeias de suprimentos, mas que “é preciso fazer mais” para colocar a inflação estrutural sob controle. “Não resolvemos questão de inflação nos EUA. O mercado de trabalho está muito aquecido.”
Já na Europa, Blanchard avalia que a inflação oficial deve ficar pior nos próximos meses devido ao aumento dos preços de energia no inverno em meio aos problemas de oferta causados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.
Por outro lado, o economista afirma que não há pressão na inflação europeia por causa do mercado de trabalho. “A maioria da inflação na Europa é importada.” Ele ainda acrescentou que algumas economias na Europa já estão em recessão e mais devem entrar.
“Questão de energia na Europa é complexa, com limitação de preços e oferta. Há incerteza sobre impactos na economia quando houver racionamento de gás no fim do inverno. Cadeias de suprimentos quando rompem tem impactos inesperados. Pode ser que tenha recessão por oferta na Europa e o Banco Central Europeu não terá muito o que fazer.”
Crise do euro
Blanchard afirmou que há uma chance de uma crise do euro em caso de um algum país do bloco adotar uma política fiscal irresponsável, especialmente considerando a possibilidade de o Banco Central Europeu (BCE) ter de aumentar mais os juros do que o precificado atualmente.
Contudo, citando como exemplo a Itália, Blanchard disse que devem evitar o máximo possível esse problema.
“Eu diria que há uma preocupação, mas não estou muito preocupado”, disse, em participação na 12ª edição do Bradesco BBI CEO Forum, em Nova York.
‘Suspeito que o Fed resistirá (à pressão do mercado)’
O economista-também disse que os bancos centrais ao redor do mundo precisam de credibilidade para tomar decisões e parar de agir no momento em que julgarem necessário sem, contudo, sofrer pressão por parte do mercado. Essa postura, em sua visão, ocorrerá também por parte do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA).
“Em teoria, quando se mexe na taxa de juro, no dia seguinte é possível ver o resultado na economia, mas na prática isso não existe, até que a inflação realmente caia você continua apertando até virar”, afirmou durante a 12ª edição do Bradesco BBI CEO Forum, em Nova York.
Ele acrescentou que o papel dos bancos centrais é antecipar onde estará a economia daqui a um ano e cuidar para que chegue no lugar certo. “A função do banco central é pausar (o aperto) mesmo quando os números não estão bons. Haverá pressão do mercado, mas suspeito que o Fed resistirá a isso.”
Segundo Blanchard, os bancos centrais precisam ter alta credibilidade. “A maioria dos bancos centrais tem credibilidade nesse momento, mas vão ter de pausar (o aperto) antes que os números desejados cheguem.”