14/07/2022 - 20:12
Mesmo sem o apoio da Prefeitura de São Paulo, os blocos de carnaval anunciaram nesta quinta-feira, 14, que pretendem sair pelas ruas da capital no próximo fim de semana e pela terceira vez este ano. Inicialmente pensado e proposto pela administração municipal, o “Esquenta de Carnaval” nos próximos dias 16 e 17 foi cancelado na semana passada, após dois editais de patrocínio terem falhado em atrair investidores para o evento.
“Reiteramos que quem cancela o carnaval não é a ausência de empresa patrocinadora. O carnaval se faz ao momento que pessoas se reúnem na rua pública para brincar, batucar, cantar e serem felizes”, afirma uma nota oficial assinada pelos coletivos Arrastão dos Blocos, Comissão Feminina do Carnaval de Rua e Fórum dos Blocos. Juntos, eles representam quase 40 blocos de rua.
No texto, os coletivos afirmam que os mais de 200 blocos que haviam se cadastrado previamente no site da Prefeitura ficaram sabendo do cancelamento do evento pela mídia. Eles acusam a Prefeitura de “falta de diálogo, de confiança, de coragem e de sensibilidade” e afirmam que já estavam “na preparação e contratação de fornecedores, que despenderam tempo, energia, expectativas e recursos” novamente “jogados ao abandono e à falta de respeito”.
O embate entre os blocos de rua e a Prefeitura atingiu seu ápice em abril deste ano, após uma reunião com representantes da Secretaria Municipal da Cultura ter se encerrando entre gritos e sem uma solução para viabilizar os desfiles naquele mês.
De um lado, a Prefeitura afirmava que não havia tempo hábil ou verba suficiente para investir na infraestrutura e segurança necessárias para o carnaval de rua. Do outro, os coletivos diziam que isso só aconteceu porque não houve diálogo e preparação, uma vez que manifestaram o interesse em sair na mesma época que as escolas de samba.
A solução proposta pela administração municipal foi realizar a terceira folia do ano, o “Esquenta de Carnaval”, que aconteceria no próximo fim de semana para atender à demanda dos blocos de rua. No início do mês, entretanto, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que se não houvesse patrocínio privado para custear o evento, “a Prefeitura não vai colocar dinheiro público” para bancar os desfiles.
Alguns blocos de rua acabaram saindo naquele mês, mesmo sem o apoio da Prefeitura para itens básicos como coleta de lixo, banheiros químicos ou segurança. Ainda assim, o trânsito em muitas vias do centro foi controlados por agentes da CET previamente informados dos trajetos dos desfiles.
Segundo apurou a coluna Direto da Fonte, as marcas de cerveja que geralmente patrocinam o carnaval não tiveram interesse em apoiar o evento por entenderem que o frio nesta época do ano poderia influenciar negativamente o consumo da bebida. O cancelamento oficial do evento foi anunciado uma semana depois da declaração de Nunes.
Na nota desta quinta-feira, os coletivos afirmam que a secretária municipal de Cultura Aline Torres teria prometido a realização do evento mesmo que não houvesse empresa patrocinadora. Agora, eles temem que o cortejo do ano que vem também seja proibido.
“Se em abril, a Prefeitura tentou nos proibir, em julho, ela queria nos penalizar. (Esses) são momentos extraordinários, que exigiam da política pública outra solução. Mas nesta gestão, como todas as outras, quem tem a última palavra é na realidade a empresa patrocinadora”, diz o texto.
O Estadão procurou a Secretaria Municipal da Cultura, que ainda não quis se pronunciar sobre o desfile.