Os bloqueios nas rodovias realizados por manifestantes bolsonaristas em Mato Grosso causaram transtornos para alunos que participaram do segundo dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no domingo, 20, no interior do Estado.

A situação que chamou mais atenção envolveu os alunos dos municípios de Bom Jesus do Araguaia e Cocalinho impedidos de chegar ao local das provas no município de Querência (716 km de Cuiabá) de ônibus. Eles desceram do ônibus e caminharam cerca de 5 quilômetros. Na entrada de Querência, dois bloqueios estão instalados.

Segundo depoimentos de professores e alunos que sofreram ameaças dos manifestantes, “o clima foi tenso e assustador”. Uma professora que preferiu não se identificar disse que recebeu um pedido de socorro dos seus alunos que estavam em um dos ônibus impedido de seguir viagem. “Eles estavam apavorados”, disse, acrescentando que “os manifestantes estavam armados”.

Os ônibus transportavam estudantes de seis municípios, segundo a professora, para fazer prova em Querência.

Alunos de Nova Nazaré desceram na entrada do município de Querência para chegar aos locais das provas: “Andamos basicamente seis quilômetros para chegar até o local da prova”, disse um aluno num vídeo enquanto caminhava.

Uma estudante que preferiu não se identificar contou que uma aluna dentro do ônibus fez o L e o ônibus foi impedido de passar. “Descemos debaixo de palavrões e vaias mandando a gente ‘montar no L’, mandando a gente tomar naquele lugar e um monte de coisas e tivemos que nos locomover a pé, alguns conseguiram carona, mas já chegando ao local da prova”.

Alunos contaram que a professora Glaucia Vieira, diretora regional de Educação em Querência, estava no local. Em nota, ela disse que esteve no local para “negociar” com os manifestantes para liberarem os ônibus que transportava alunos do Enem.

Segundo ela, tudo ficou acertado, mas num determinado momento “alguém dentro do ônibus fez um L, causando desconforto nos manifestantes que voltaram atrás e decidiram impedir a passagem de todos os ônibus que traziam estudantes de municípios vizinhos para a prova”.

O jornalista Ismael Roberto da Rádio Liberdade, em Querência, o primeiro a noticiar a situação dos estudantes, disse que parecia uma procissão de alunos na estrada. “Eu seguia pela estrada quando vi aqueles jovens caminhando sob o sol escaldante e fui conversar com eles, fiquei penalizado porque sei que a prova é o futuro dos adolescentes.”

A estudante Julia Souza da Escola Estadual Getúlio Vargas que seguia para fazer a prova na escola estadual 9 de Julho contou à Rádio Liberdade: “Estávamos vindo de Cocalinho desde as 6 horas, e faltando apenas duas horas para início fomos impedidos de seguir e tivemos que descer para fazer a prova.”