23/01/2019 - 13:25
O Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa completa 25 anos em março deste ano, ultrapassando a marca de 6 mil divulgações ininterruptas. O Indicador, já em 1994, quando foi lançado, assim como todo Indicador de preços, foi vislumbrado como um instrumento de redução da assimetria de informações no mercado de boi. Contudo, diferente de muitos outros indicadores já criados ou disponíveis, este Indicador nasceu com o objetivo precípuo de se tornar a referência para liquidação financeira do contrato de mercado de futuro do boi gordo, lançado à época pela Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo, a atual B3.
Antes da criação do Indicador, havia alguns levantamentos locais ou regionais de preços, com metodologias de levantamento e processo de cálculo pouco detalhados. No dia a dia, o pecuarista, por exemplo, necessitava consultar várias fontes para ter ideia do movimento das cotações. Criado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP, hoje mantido em parceria com a B3, esta referência de preços para contratos futuros prestou-se para facilitar a comercialização física pelo setor, reduzindo o custo de transação, as incertezas do mercado e o oportunismo. Seu uso tem sido generalizado pelos agentes da cadeia produtiva do boi gordo no Brasil.
Durante as mais de duas décadas de existência do Indicador, o mercado passou por várias transformações. É o caso da redução do número de escritórios de negócios, intermediando a relação pecuarista-frigorífico, do aumento da importância do mercado externo como destino dos produtos desse setor e da internacionalização dos frigoríficos. Isto apenas para citar três exemplos. É claro que essas transformações também se refletiram em desafios para o Cepea e para a B3, no sentido de ajustar a metodologia à nova conformação do mercado.
O rebanho bovino do País aumentou mais de 35% entre 1994 e 2017, segundo o IBGE. Observou-se, neste período, uma intensa movimentação da produção para as regiões Norte e Centro-Oeste. O estado de Mato Grosso passou de sexto lugar em número de animais para o primeiro. No entanto, foi a região Norte que teve as maiores mudanças. Rondônia e Acre aumentaram os seus rebanhos em mais de 300% e 500%, respectivamente, neste período. Esse fortalecimento e interiorização da atividade, tanto primária quanto do processamento industrial do boi, foram acompanhados pelo Cepea, que ampliou seus levantamentos sobre o mercado de boi nessas regiões.
A concentração da indústria da carne e a já mencionada redução do número de intermediários e escritórios de comercialização, ao lado da expansão geográfica da produção, tornaram ainda mais desafiadora a função do Cepea de acompanhar a movimentação do mercado com base em amostra representativa e métodos adequados cientificamente, mantendo o Indicador como referência merecedora da confiança dos agentes do mercado de futuros e do mercado físico.
Mas não foram apenas as mudanças na estrutura do mercado e nas estratégias dos seus agentes que desafiaram e desafiam permanentemente o Cepea. As mudanças em tecnologia de informação e na comunicação são tão relevantes e motivadoras quanto as primeiras para a equipe do Cepea. Pecuaristas, antes isolados em suas propriedades, com acesso muitas vezes só viabilizado pelas visitas que a equipe técnica realizava nas regiões produtoras, atualmente estão conectados não somente com o restante do mercado brasileiro, via instrumentos de comunicação modernos, como com o resto do mundo.
Para acompanhar estas mudanças e aproveitando-se da disponibilidade de novas tecnologias, o Cepea lançou em 2016 o aplicativo “Cepea Boi”, no qual o produtor pode informar o seu negócio e ter acesso a informações na palma da sua mão.
Assim como o mercado pecuário está evoluindo constantemente, o uso de aplicativos precisa acompanhar, de forma dinâmica, as mudanças tecnológicas e sua difusão entre os agentes de mercado, adaptando-se às mais recentes inovações. A partir deste ano, o pecuarista passa a receber atenção especial na forma de avisos sobre novidades e publicações que interessam ao setor, elaborados por pesquisadores do Cepea, e, ao mesmo tempo, os lembretes para que informem seus negócios.
Atualmente, são contatados por ligações telefônicas, e-mail e aplicativo mais de seis mil agentes do mercado, entre frigoríficos, pecuaristas, escritórios de compra e venda de gado e leiloeiras e divulgados valores referentes aos mercados de reposição e animais para abate, em 24 regiões em 11 estados do País, além de preços de carne negociada na Grande São Paulo.
Essa história só foi possível porque, desde seu início, os agentes atuantes no mercado se predispuseram a fornecer dados ao Cepea, reconhecendo a importância para eles próprios da informação elaborada com base em métodos cientificamente recomendados. O Indicador não existiria sem a participação ativa e comprometida do setor produtivo e das instituições que o amparam. Constitui, sobretudo, um ativo para todos seus usuários, ilustrando como a ação coletiva e colaborativa dos agentes de produção, comércio e serviços em parceria com as instituições de pesquisa, como o Cepea, com o apoio de instituições voltadas para a melhoria dos mercados, como a B3, pode resultar em benefícios para toda cadeia produtiva e, por extensão, à sociedade como um todo.
* Gabriela Garcia Ribeiro é gestora da equipe do Indicador do boi gordo Esalq/BM&FBovespa