No Brasil, mais de 90% do gado abatido ainda é engordado no pasto. Significa que, no ano passado, para os 37 milhões dos 41 milhões de animais entregues à indústria frigorífica, o capim foi o principal componente da dieta. Mas, quem cria boi no pasto a partir de março fica com um olho no céu e outro na calculadora. Se as chuvas cessam e falta comida no cocho, vende-se o gado. Se não falta, é hora de segurar a boiada e ganhar com o preço mais elevado na entressafra, em alguns meses do segundo semestre do ano, principalmente outubro e novembro. Nesses meses, o gado do confinamento já foi abatido e as chuvas que caem a partir de outubro ainda não são suficientes para que o capim volte com força. Em 2012, porém, o clima tem sido atípico, dificultando as previsões sobre o preço da arroba até o fim do ano. Em muitas regiões do País, choveu bem até o fim de julho, como ocorreu em Mato Grosso. Em Goiás, aconteceu o mesmo em março, abril e um pouco menos em maio. Com o pasto mais verde, os pecuaristas conseguiram diminuir os custos de produção dos últimos meses e mantiveram a entrega de reses aos frigoríficos. “Por isso, não faltou animal no mercado e os preços da arroba não evoluíram”, diz José Manoel Caixeta, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). No final do mês passado, os frigoríficos estavam pagando pela arroba R$ 83, cotação abaixo do que Caixeta considera ideal, que seria em torno dos R$ 90. “Tudo indica que teremos um segundo semestre de preços abaixo do esperado”, afirma Caixeta.

Aposta incerta: Pessina, da BM&fBovespa, diz que o cenário atual dificulta o futuro do mercado de boi gordo

Projeção: Caixeta, da Faeg, acredita que os preços da arroba no segundo semestre ficarão abaixo do esperado

 

Por enquanto, com a entressafra atrasada, por causa da chuva fora de época, e com mais boi no gancho do frigorífico, o preço da carne ao consumidor tem caído em praticamente todas as regiões do País. No final de julho, as cotações da carne no Paraná estavam 30% abaixo da média de igual período do ano passado. Um quilo de filé mignon, que em julho de 2011 custava R$ 40, podia ser encontrado por até R$ 25. A picanha, que custava acima de R$ 30 podia ser encontrada por R$ 24 o quilo.

No Mato Grosso, Estado que tem o maior rebanho bovino do País, a entressafra sempre foi um período de ebulição no mercado. A perda média de peso dos animais, no pasto, pode chegar a cinco arrobas. Por isso, nos últimos anos, o maior investimento dos pecuaristas locais tem sido em infraestrutura para confinar o gado. No ano passado, os produtores matogrossenses confinaram 813 mil animais, ficando somente atrás de Goiás.No entanto, Daniel Latorraca, gestor do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), alerta que as expectativas dos confinadores, pode não se realizar. “O ânimo dos pecuaristas, que era muito bom nos primeiros meses do ano, começou a virar”, diz Latorraca. “Acho que o confinamento vai ser menor, porque o preço da comida para o gado, na entressafra, tende a aumentar, desestimulando o sistema.” O preço do milho, o principal componente da ração animal, que custava em torno de R$ 16 a saca em abril, subiu para R$ 21 no final de julho. “Com a seca nos Estados Unidos, a tendência para o preço do cereal é aumentar ainda mais no mercado interno.”

O preço da arroba em Mato Grosso também não tem contribuído para que o pecuarista faça caixa. Em abril, a média era de R$ 83 e no final do mês passado, de R$ 81. Com o preço do boi ladeira abaixo e o do milho ladeira acima, há anos não se via tanto pessimismo entre os pecuaristas. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), o valor nominal da arroba, no País, já recuou 9% desde dezembro do ano passado.

As cotações dos contratos futuros de boi gordo, negociados na BM&FBovespa para outubro, o pico da falta de boi na entressafra, mostra o preço da arroba a R$ 97,95. Caso essa cotação se confirme ela vai ficar abaixo do que o mercado físico pagou pela arroba no ano passado. Em outubro de 2011, uma arroba de boi gordo valia, em São Paulo, R$ 101. “Esse cenário dificulta o futuro do mercado de boi gordo”, afirma Alberto Pessina, diretor regional para São Paulo, da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon). A pecuária, que vem de dois anos de preços bastante firmes durante todos os meses do ano, pode não fechar no azul em 2012.