01/09/2009 - 0:00
Confinadores sul-mato-grossenses, como os irmãos José e Nedson Rodrigues, faturam alto com a produção do novilho
superprecoce, abatido aos 13 meses com até 20 arrobas
É muito comum ouvir no meio pecuário que o confinamento não é um bom negócio. Para muitos, é arriscado. Segundo os mais tradicionais, os investimentos são altos e o retorno nem sempre é garantido. Esta teoria, no entanto, já é coisa do passado para muitos criadores. Graças à introdução de uma genética de ponta – com direito a cruzamentos especiais – e ao manejo adequado, os confinadores sul-mato-grossenses estão provando que a atividade é, sim, viável. E bota viável nisso.
Hoje em dia, os melhores confinamentos conseguem abater animais de até 20 arrobas em 13 meses – ou um terço do tempo necessário para “acabar” um animal criado a pasto.
Seria um milagre pecuário? Segundo Nedson Rodrigues, presidente da ASPNP – Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Novilho Precoce, a resposta é não. Para ele, isso é apenas o reflexo do profissionalismo que tem imperado na pecuária da região. Ele mesmo é um exemplo de confinador de sucesso. Ao lado do irmão, José, Nedson toca um rebanho com mais de seis mil cabeças na fazenda da família, em Bandeirantes (MS). Dos 7,5 mil hectares da propriedade, apenas dois são dedicados ao confinamento, atividade considerada a mais rentável do criatório.
Vida curta: desmamados aos oito meses, os animais são confinados logo em seguida e abatidos cinco meses depois
Pecuarista tradicional, possui cerca de seis mil cabeças, e faz cria, recria e engorda. Desde 1999, porém, vem investindo pesado em confinamento. Veterinário por formação, conta com o know-how de sua esposa, Patrícia, mestre em qualidade da carne, para forjar cruzamentos industriais mais eficientes no quesito ganho de peso. A aposta da vez é o cruzamento chamado “three cross”, mistura tripla entre as raças nelore (25%), angus (25%) e limousin (50%). Com uma genética apurada, os melhores machos chegam a 20 arrobas em 13 meses, enquanto as fêmeas da mesma idade atingem até 15 arrobas.
“O ganho vem na rapidez do giro. O custo de produção é bem maior, mas o giro é três vezes mais rápido que o do gado criado a pasto”, explica Nedson, lembrando que a quantidade de animais confinados depende das cotações do boi gordo na bolsa. “O sucesso da atividade depende do preço no mercado futuro. Com a arroba a R$ 80, já da para ganhar um bom dinheiro. Acima disso, é tudo lucro”, continua. Seu irmão tem opinião bem parecida. “O confinamento é um pouco arriscado, mas já é o maior faturamento da fazenda. Não tem como não fazer”, diz.
Um dos pioneiros da atividade em Mato Grosso do Sul, Nedson é considerado por muitos um dos maiores especialistas em novilho superprecoce do Estado. Com um olho clínico, consegue identificar em meio ao seu rebanho os animais com potencial para engorda. Para esses, a vida, infelizmente, será curta. Desmamados aos oito oito meses, os novilhos são confinados logo em seguida e abatidos de quatro a cinco meses depois, com um ganho de peso superior a 1,5 quilo ao dia. Este ano, os irmãos Rodrigues devem fazer cerca de 450 novilhos superprecoces, além de outros 200 precoces, abatidos aos 24 meses.
A UNIÃO FAZ A FORÇA – Assim como Nedson e José, existem centenas de confinadores em Mato Grosso do Sul. Apenas a Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Novilho Precoce conta com 210 associados, que abatem anualmente quase 50 mil cabeças, fornecem sua carne para grandes redes varejistas nacionais e exportam para o mundo todo. Mas, se o negócio vai bem hoje, é devido ao trabalho feito 15 anos atrás por um homem de muita visão: Armando Araújo, fundador da ASPNP.
Empresário de sucesso, chegou à região no início dos anos 1980 e desde então vem tentando organizar os confinadores sul-mato-grossenses.
Armando Araújo: pioneiro na luta pelos interesses dos confinadores de Mato Grosso do Sul
“A associação surgiu por causa de incentivos do governo para o melhoramento do rebanho no Estado. Os criadores que se enquadrassem na lei ganhavam incentivos, como a isenção do ICMS”, conta Araújo, 74 anos, dono de “apenas” 1,2 mil cabeças confinadas – mas não menos engajado na luta pelos interesses da classe.
Graças ao seu trabalho à frente da ASPNP, hoje os criadores recebem pelas fêmeas o mesmo valor pago pelos machos, mais um prêmio de 3%. Além disso, ele foi o responsável pela primeira e até agora mais importante parceria da entidade: com o Carrefour. Desde 2000, a associação tem o certificado do programa “Garantia de Origem” do Carrefour, fato que atesta a qualidade de sua carne, produzida sob os mais rigorosos conceitos de qualidade, saúde animal, responsabilidade social e ambiental. Atualmente, a rede varejista compra em média 40 mil animais/ano, mas a perspectiva é de aumento no volume para os próximos anos