O presidente do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês), Haruhiko Kuroda, voltou a afirmar em discurso que a recente ampliação da banda do instrumento de controle de curva de juros da entidade não foi um passo em direção a uma “saída” da postura extremamente acomodatícia do BC japonês.

“Essas medidas foram implementadas para conduzir a flexibilização monetária de maneira sustentável e harmoniosa”, à medida em que aprimora a transmissão da política monetária e cria as condições para aumento de salários no Japão, argumentou o dirigente, durante a Reunião dos Conselheiros da Federação Empresarial do Japão, em Tóquio. Em 2022, o mercado de juros do JGB (como são chamados os títulos da dívida pública japonesa) sofreram com a volatilidade nos mercados estrangeiros, o que deteriorou seu funcionamento, de acordo com Kuroda.

“Definitivamente, este não é um passo para uma saída. O Banco visará atingir a meta de preço de forma sustentável e estável, acompanhada de aumentos salariais, continuando com o afrouxamento monetário sob controle da curva de juros”, afirmou. A decisão recente do BoJ foi vista como mais hawkish que de costume para a entidade, e mercados no Japão reagiram de forma brusca: a bolsa de Tóquio acumulou fortes perdas e o iene teve apreciação robusta ante o dólar.

Após o núcleo da inflação ao consumidor atingir seu maior nível desde 1981, em alta de 3,7% em novembro, Kuroda espera que os preços no Japão comecem a moderar adiante. Segundo ele, a maioria dos aumentos de preços se deram por repasses por conta do encarecimento de commodities, alimentos e outros produtos “altamente dependentes de importação”. Os efeitos desses repasses devem terminar ao longo dos próximos meses e levar a inflação japonesa para baixo, resumiu.

Kuroda espera ainda por um crescimento “gradual” no ritmo de aumento salarial no Japão. O dirigente avalia que haverá maior demanda à medida que a economia japonesa se recupera dos efeitos da pandemia de covid-19, ao mesmo tempo em que parte da população mais idosa deixará o mercado de trabalho, criando um aperto tanto na demanda quanto na oferta. Essa dinâmica beneficiaria primeiro os salários de trabalhadores não regularizados, com impacto posterior nos pagamentos de regularizados, disse Kuroda.

O emprego formal representa a maior parcela do mercado de trabalho no Japão e é necessário ver mudança nesse setor para que os salários subam de forma sustentável no Japão e puxem a inflação para a meta de 2%, segundo ele.