08/09/2020 - 18:05
O Ibovespa estacionou um pouco acima dos 100 mil pontos nesta retomada de negócios pós-feriado no Brasil e nos EUA, com os índices de Nova York em correção pela terceira sessão consecutiva, tendo o Nasdaq mais uma vez a liderança do movimento, em queda de 4,11% no encerramento desta terça-feira. Na B3, a perda foi bem mais moderada, de 1,18%, a 100.050,43 pontos, o pior nível de fechamento deste começo de setembro, em sessão na qual o índice oscilou entre mínima de 99.372,98 e máxima de 101.239,34 pontos, com giro a R$ 24,7 bilhões, após duas sessões em que ficou acima de R$ 30 bilhões, na quinta e sexta-feira. Em setembro, o Ibovespa avança 0,69%, com perdas no ano a 13,49%.
Em dia de forte ajuste nas cotações do petróleo (WTI -7,57% e Brent -5,31%, ambas as referências cotadas abaixo de US$ 40 por barril), as ações da Petrobras estiveram entre as mais punidas durante a sessão, embora tendo moderado as perdas perto do encerramento, em queda de 2,88% para a PN e de 3,47% para a ON no fechamento – as perdas da ON, durante a sessão, chegaram a ser superadas apenas pelas da PetroRio, em queda de 6,08% em sua estreia, nesta terça, na carteira Ibovespa. No lado oposto, Azul fechou em alta de 6,79%, seguida por Localiza (+5,87%) e Iguatemi (+4,55%).
Acompanhando o movimento em mais um dia de forte ajuste na Nasdaq, parte das ações das empresas de varejo eletrônico na B3, que acumulam sólidos ganhos no ano, também seguiu em terreno negativo nesta sessão, especialmente Via Varejo, em queda de 3,97% no fechamento – segunda maior perda da carteira Ibovespa na sessão -, enquanto Lojas Americanas subiu 0,42% e Magazine Luiza teve ajuste mais contido, em baixa de 1,22% no encerramento.
“A observar a correção na Nasdaq, é de se pensar que um movimento de reavaliação do varejo eletrônico, um dos que mais avançaram neste ano, possa ocorrer também na B3, com alguma rotação para o comércio tradicional, de tijolo”, diz Shin Lai, estrategista-chefe da Upside Investor Research. “Nasdaq é um caso a parte por estar extremamente esticado, com empresas cotadas na casa de trilhões de dólares, embutindo, em casos como o da Amazon, expectativa de crescimento de 20% a 30% no longo prazo. Qualquer coisa exponencial fica absurda”, acrescenta o estrategista.
“Embora seja difícil estabelecer se temos agora algo pontual ou não, o ajuste em andamento tem semelhanças com o estouro da bolha de tecnologia, na virada dos anos 90 para os 2000, que demorou anos para ser revertido. Temos um movimento de grandes investidores se desfazendo de posições, e, por seu tamanho, acaba levando o mercado junto”, conclui Shin, chamando atenção também para a volatilidade que costuma prevalecer em meio a períodos eleitorais nos EUA marcados por incertezas, como o atual.
No contexto mais amplo, “as manchetes apontam para nova ebulição das tensões entre EUA e China”, aponta em nota Edward Moya, analista de mercado da OANDA em Nova York. “O governo Trump anunciou a proibição das importações de três empresas chinesas e sinalizou que mais seis poderiam ser visadas, enquanto tentam reprimir as acusações de trabalho forçado”, observa. “Ontem, o presidente Trump sugeriu ‘desacoplar’ a economia dos EUA da China e reiterou tarifas massivas dos EUA”, acrescenta o analista, referindo-se também à percepção do mercado, antes das eleições, de que não haverá “águas comerciais calmas”, na medida em que Trump “não está abrandando a retórica dura, mesmo com a continuação da liquidação no mercado de ações.”