19/06/2020 - 17:04
Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro indicam nas redes sociais que a nomeação de Abraham Weintraub para o Banco Mundial não se trata de um prêmio de consolação, mas de uma estratégia do presidente para tirar o ex-ministro do País e evitar sua prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Weintraub é investigado no inquérito das fake news, que tramita na Corte e já determinou a prisão de vários alvos.
Procurado para comentar se o objetivo do presidente de empregar Weintraub no Banco Mundial é apenas mandá-lo para Washington para evitar uma eventual prisão, o Palácio do Planalto ainda não respondeu.
Nas suas redes sociais, o ex-ministro informou nesta sexta-feira, 18, que precisa sair do País “o quanto antes”. Em entrevista à CNN Brasil, revelou o motivo. “A prioridade total é que eu saia do Brasil o quanto antes. Agora é evitar que me prendam, cadeião, e me matem”, disse ele.
O youtuber Bernardo Küster, um dos alvos do inquérito das fake news, foi o mais explícito. Num vídeo, afirmou que Weintraub vai exercer um cargo no exterior para “fugir” de ser preso pelo Supremo.
“Estão articulando a prisão desse homem e a vida dele vai se complicar. O Supremo já sinalizou que não vai dar moleza para ele quando o mantiveram no inquérito das fake news. O entendimento de muitos é de que a prisão dele vai acontecer, ou ia acontecer, não sei, mais dia, menos dia, e ele, para preservar sua vida e de sua família, ele vai embora do Brasil para fugir dessa perseguição ditatorial que já se instalou no Brasil”, afirmou.
Küster explicitou a preocupação com a perda da prerrogativa de foro de Weintraub. “Imagina se ele perde o foro privilegiado, fica aqui no Brasil, é capaz de ele ser preso, sim. Acontece que ele vai exercer um cargo no exterior e sair do Brasil. Ele sai por causa de um comentário feito privadamente numa reunião ministerial”, disse num vídeo gravado pouco antes de a demissão ser anunciada.
O empresário Leandro Ruschel, que também integra a rede bolsonarista, é outro que relacionou a saída do ex-ministro do País ao processo no Supremo. “Vivemos em pleno regime de exceção. Quando um ministro precisa se exilar por algo que ele falou, imagine o que resta ao cidadão comum”, disse a seus 410 mil seguidores no Twitter. “Agora o Brasil tem um ministro do governo que precisa buscar exílio para não ser preso por falar o que pensa”, afirmou o deputado Luis Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), um dos mais próximos do presidente.
Sem foro privilegiado
Como ex-ministro, Weintraub perde a prerrogativa de foro no Supremo Tribunal Federal. Com isso, investigações contra ele podem ser enviadas à primeira instância. É o que deve ocorrer com o inquérito em que é investigado por suspeita de racismo. No entanto, ele pode continuar sendo alvo do Supremo, ao menos por enquanto, no inquérito das fake news. Nesse caso, porque há pessoas com foro relacionadas, como deputados federais.
Weintraub é um dos alvos do inquérito das fake news por ter afirmado, em reunião ministerial, que os onze ministros do Supremo deveriam ser presos e se referido a eles como “vagabundos”. Dias depois, já investigado, repetiu que “já disse o que pensava desses vagabundos” num ato com apoiadores na Esplanada dos Ministérios. Ao determinar a liberação da gravação da reunião, Celso de Mello apontou para a ‘gravíssima aleivosia’ feita por Weintraub em ‘um discurso contumelioso e aparentemente ofensivo ao patrimônio moral’ dos ministros do Supremo. No entendimento do decano, as falas caracterizam possível delito contra a honra (como o crime de injúria).
O ministro tem afirmado que precisava preservar a segurança da sua família como uma das justificativas para deixar o País. A reportagem questionou a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República, e o próprio Weintraub, por meio do Ministério da Educação, e não há informações até o momento de que o ex-ministro tenha pedido investigação sobre ameaças a si e a familiares. A PF e o MEC disseram que só Weintraub poderia responder. A PGR ainda não respondeu.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) protocolou no Supremo nesta sexta, 19, um pedido para que o passaporte do ex-ministro seja apreendido para evitar que ele saia do País enquanto é investigado.
Quando era presidente, Dilma Rousseff também tentou uma manobra para evitar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, ela tentou nomeá-lo como ministro da Casa Civil, mas a medida foi interceptada pela Operação Lava Jato e o Supremo proibiu a nomeação.