21/01/2022 - 7:55
Após o diretor de Assuntos Jurídicos do Senado, Alexandre Silveira (PSD-MG), negar que considere “no momento” ser líder do governo na Casa, o presidente Jair Bolsonaro disse que ele assumirá o posto em fevereiro, quando acaba o recesso parlamentar no Congresso. O convite gerou mal estar na cúpula do PSD, que apoia a pré-candidatura de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, ao Palácio do Planalto.
A declaração de Bolsonaro foi feita nesta quinta-feira durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, quando ele estava comentando sobre a Ferrovia Norte-Sul. A obra, segundo o presidente, deve ser concluída no meio do ano. “A gente vai convidar [para a inauguração] a bancada mineira, tem que convidar, né, convidar todo mundo, convidar o novo líder do governo, que vai assumir agora em fevereiro, o Alexandre Vieira… desculpa, Silveira”, declarou o chefe do Executivo.
Apesar de ter confirmado que recebeu o convite, Silveira não garantiu que assumirá o posto. “Mas como não estou investido do cargo de senador da República, não posso considerar a avaliação da proposta no momento. Meu objetivo é, com responsabilidade e muito trabalho, cumprir um mandato que orgulhe os mineiros e as mineiras, independente de governos ou ideologias”, escreveu ele, no Twitter.
Aliado próximo de Pacheco, Silveira tomará posse em fevereiro no Senado, no lugar do senador Antônio Anastasia (PSD-MG), de quem é suplente, após o correligionário deixar o Congresso para ocupar uma cadeira no Tribunal de Contas da União (TCU).
Comandado pelo ex-ministro Gilberto Kassab, o PSD se distancia cada vez mais do governo. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, é filiado ao PSD, mas já está de malas prontas para o Progressistas.
A possibilidade de um senador do PSD assumir a função de líder do governo Bolsonaro provocou uma “rebelião” no partido. O movimento esbarrou nos planos de importantes nomes da sigla, como os senadores Omar Aziz (PSD-MA), Otto Alencar (PSD-BA), e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). Eles negociam em seus Estados uma possível aliança com o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Senadores do partido contrários ao governo de Bolsonaro afirmam que Silveira não tratou do assunto com a bancada e nem com a direção nacional da legenda.
Otto Alencar, candidato à reeleição no Senado na chapa encabeçada por Jaques Wagner (PT) ao governo da Bahia, afirmou que faz “uma oposição responsável” ao presidente. “Mas não acho que o PSD, que tem deputados e senadores com posição contrária ao presidente da República, deve ser o partido de um líder do governo”, destacou.
Alencar foi integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e fez duras críticas sobre a condução do governo na pandemia. Já Omar Aziz, que foi presidente da comissão, disse preferir conversar com Silveira e Kassab antes de emitir opinião sobre o assunto, mas destacou que é crítico a Bolsonaro. “Todo mundo sabe minha posição em relação ao governo”, disse.
Na série de viagens que tem feito pelo País desde quando retomou os direitos políticos, no início de 2021, Lula já se encontrou com diversos integrantes do PSD e debateu alianças regionais. Nomes como o do próprio Kassab, do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de Aziz e Alencar estão entre aqueles que conversaram com o petista.
Kassab já repetiu diversas vezes que o partido terá candidatura própria e sempre cita Pacheco. O ex-ministro tem feito críticas a Bolsonaro e também a outros pré-candidatos, mas poupa Lula.
Na quarta-feira, 19, Lula disse que dialoga com o PSD. “Eu tenho conversado muito com o PSD do Gilberto Kassab, com o Kassab. É possível que a gente possa construir alguma coisa juntos, é bem possível”, declarou o ex-presidente em entrevista a blogueiros ligados ao PT.
A escolha de Silveira para líder do governo também teria potencial para embaralhar o cenário eleitoral em Minas. Hoje, o PT trabalha com a possibilidade de apoiar Kalil, o prefeito de Belo Horizonte, para o governo mineiro, mas uma aliança ficaria difícil se o PSD ocupasse a liderança do governo no Senado.
Silveira é presidente do PSD de Minas Gerais e também pré-candidato ao Senado na eleição deste ano. Por meio de sua assessoria, Kalil procurou se distanciar do conterrâneo. “O prefeito nunca deu satisfações de suas decisões políticas e, por isso, também não cobra satisfações de ninguém”, afirmou, em nota.
O líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), seguiu a mesma linha. “Estamos construindo aliança é com o Kalil, e não com o Alexandre Silveira”, observou. Lopes definiu o governo Bolsonaro como “totalmente falido, em decadência e sem nenhuma perspectiva” e duvidou que o PSD fizesse “uma adesão de última hora”.