O presidente Jair Bolsonaro (PL) planeja chamar Célio Faria Júnior, chefe do Gabinete Pessoal, para substituir a ministra Flávia Arruda na Secretaria de Governo. Flávia deixará a equipe no fim do mês, ao lado de outros ministros que vão concorrer às eleições, porque vai se candidatar ao Senado.

A Secretaria de Governo é responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, tarefa que inclui a distribuição de emendas parlamentares. Na prática, porém, a função tem sido exercida pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas). Em conversas reservadas, integrantes do PL, partido de Bolsonaro e de Flávia, afirmam que não vale a pena brigar para manter o comando do ministério quando o poder real está nas mãos de Ciro.

Nome da confiança de Bolsonaro, Faria Júnior foi apontado por ruralistas como “ponte” para a reunião com pecuaristas que, na última segunda-feira, 7, levou ao Planalto potenciais doadores de campanha.

Avesso a declarações, e sempre ao lado de Bolsonaro, Faria Júnior tem como uma de suas missões organizar a agenda do presidente. Ao Estadão, ele não negou o contato com os pecuaristas para preparar a reunião, mas disse que assuntos de arrecadação e apoio eleitoral eram de responsabilidade do PL.

“Cabe ao partido político PL a estratégia de apoio e eventuais arrecadações de uma possível campanha”, disse o chefe de gabinete, que é economista e ex-servidor da Marinha. “Não são atribuições do Gabinete Pessoal essas duas questões. Por isso, não tenho qualquer envolvimento com elas.”

A reunião do último dia 7, no Planalto, só foi divulgada pelo governo um dia depois de realizada. Na agenda pública de Bolsonaro passou a constar um encontro com o “Movimento Ação Voluntária Amigos da Pecuária”, tendo como pauta “assuntos relativos à pecuária brasileira”. Estavam presentes o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Interlocutores de pecuaristas que pedem contribuições, os dois coordenam a pré-campanha para reeleger Bolsonaro. Procurados, eles não quiseram se manifestar.

O pecuarista de Ji-Paraná (RO) Bruno Scheid é um desses interlocutores com amplo acesso ao Planalto. Scheid disse ao Estadão que não houve pauta específica no encontro com Bolsonaro, apesar de terem sido convocados os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Agricultura, Tereza Cristina. A reunião, segundo ele, serviu para manifestar o “apoio do agro ao presidente e agradecer o que o governo tem feito pelo setor”.

Registros do encontro, feitos por pecuaristas, mostram declarações de apoio ao presidente. Parte dos convidados já havia se mostrado disposta a doar dinheiro e a pedir repasses para custear a campanha de Bolsonaro.

Scheid se sentou ao lado do presidente e discursou, assim como Maurício Tonhá, do Mato Grosso, dono da Estância Bahia Leilões. Tonhá afirmou que o agro está “em pé e à ordem” para defender o presidente.

“Vamos enfrentar o que for para manter o senhor aqui”, concordou Adriano Caruso (PL), pecuarista de São José do Rio Preto, que se disse “soldado” do presidente e também tem participado das articulações políticas.

Em nota publicada nesta quinta-feira, 10, Scheid voltou a negar que articule contribuições entre produtores rurais e pecuaristas. “Eu e diversos outros homens e mulheres ligados ao agronegócio nunca escondemos o nosso apoio ao presidente Jair Bolsonaro, mas que, da mesma forma, nunca tratamos de arrecadação de recursos para campanha política e muito menos ainda elegemos qualquer representante do agronegócio em Brasília”, disse ele. “Somos homens e mulheres ligados ao campo e que não desejamos mais ver a política nefasta e baixa do Partido dos Trabalhadores voltar ao comando do País.”

Sucessão

Flávia Arruda tratou de sua sucessão nesta quinta-feira, 10, durante almoço com Valdemar Costa Neto em um restaurante português, em Brasília. Na próxima semana, Bolsonaro reunirá ministros que vão disputar as eleições de outubro para tratar das substituições.

A expectativa no governo é a de que dez ministros deixem os cargos até o fim do mês. A lei eleitoral determina que ocupantes de cargos públicos deixem as funções a seis meses do primeiro turno, prazo que termina em 2 de abril.

Ciro Nogueira ia concorrer ao governo do Piauí, mas desistiu para coordenar a campanha de Bolsonaro. A relação de Ciro com Flávia Arruda está estremecida. A aliados, ela tem se queixado de que o colega acumula muito poder, mas não entrega resultados.

A ministra foi alvo de um ataque especulativo no fim do ano passado, quando parlamentares governistas do Republicanos e do Progressistas exigiram a antecipação de sua saída do cargo. Flávia atribui a coordenação dos ataques ao chefe da Casa Civil, que nega qualquer participação em atos desse tipo.