O Brasil e a China avançaram nas conversas de combate às mudanças climáticas, declarou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Como resultado da visita de Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, os dois países anunciaram o desenvolvimento de um satélite com tecnologia mais avançada capaz de monitorar a Amazônia mesmo com tempo encoberto e criaram uma subcomissão sobre o clima e meio ambiente na Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban).

“Até então não se tinha um subcomitê específico sobre meio ambiente”, afirmou Marina Silva a jornalistas ao final da visita de Lula. Houve um entendimento entre os dois países de que era necessário colocar o tema da mudança climática e da proteção do meio ambiente “no mais alto nível das prioridades”, ressaltou a ministra.

Com esse empenho, os dois países divulgaram ontem um comunicado conjunto sobre mudança climática e meio ambiente. O documento tem 14 parágrafos tratando do assunto e em seu primeiro já ressalta que “os presidentes Lula e Xi reconheceram que a mudança do clima representa um dos maiores desafios de nosso tempo”.

“A cooperação será ampla, na preservação da floresta e na transição energética”, disse Marina Silva. Os dois países se comprometeram no comunicado a “ampliar, aprofundar e diversificar a cooperação bilateral sobre clima”.

A ministra ressaltou que o Brasil tem capacidade de ser ao mesmo tempo uma potência agrícola e uma potência florestal. Pouco antes, Lula disse na reunião fechada com Xi Jinping que a economia brasileira pode dobrar sua produção agrícola “sem precisar derrubar nenhuma árvore”. “Nós estamos convencidos de que o desenvolvimento da agricultura brasileira não precisa fazer desmatamento irresponsável e muito menos queimadas”, afirmou o petista.

No combate ao desmatamento, o Brasil quer avançar em tecnologias de monitoramento e rastreabilidade, disse Marina Silva. A meta do governo dita por Lula nas reuniões com chineses é chegar a um desmatamento zero até 2030.

“A China tem grande experiência na área de reflorestamento, foram capazes de reflorestar cerca de 70 milhões de hectares”, ressaltou Marina aos jornalistas. Com grande quantidade de área degradada no Brasil, o país pode se aproveitar dessa experiência chinesa, afirmou a ministra.

“Lula enfatizou que o meio ambiente é de fato uma política transversal e que esses dois países em desenvolvimento têm grande contribuição a dar”, disse Marina Silva. Há ainda um esforço conjunto para que os governos das duas economias alcancem os objetivos do Acordo de Paris, acrescentou ela.

Na manhã deste sábado em Pequim, Lula disse que há uma conjunção de interesse para os países compreenderem que o planeta é um só. “Todos nós estamos dentro de um barco e se afundar não escapa ninguém. Os chineses têm responsabilidade com a questão ambiental, o Brasil tem responsabilidade e o mundo tem responsabilidade.”

Lula defendeu que o mundo industrializado precisa cumprir com a sua tarefa de preservação ambiental e não só oferecer dinheiro para os países pobres. Dinheiro, disse Lula, que “às vezes não aparece”. “Às vezes têm muito discurso de dinheiro e pouco dinheiro aparece. É preciso que todos, do mais industrializado ao menos industrializado, a gente tenha preocupação.”