A presidente Dilma Rousseff, em seu discurso na Cúpula do Clima em Nova York, limitou-se a listar avanços obtidos pelo Brasil na questão do  desmatamento, que caiu 79% desde 2004. Apesar desse trunfo, não endossou o principal documento da cúpula, a Declaração de Nova York sobre Florestas. A redução no desmatamento evitou lançar na atmosfera, a cada ano, 650 milhões de toneladas de CO2. “O Brasil, portanto, não anuncia promessas. Mostra resultados”, afirmou a presidente.

A Declaração de Nova York é mais uma carta de boas intenções do que um plano para cortar pela metade o desmate até 2020 e zerá-lo até 2030. O Brasil não aderiu à declaração por discordar, segundo a reportagem apurou, do compromisso de desmatamento zero.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, diz que o país não foi chamado para debater o texto. Organizadores do documento afirmam que uma versão inicial foi apresentada ao governo em julho, mas a ministra negou tê-la recebido.

A maior restrição do Planalto diz respeito à ausência de distinção, no texto, entre desmatamento legal e ilegal. Como no Brasil se permite manejo sustentável de florestas para extração de madeira e derrubada de áreas para agricultura, o País não poderia aderir ao desmatamento zero.

O Plano Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil, adotado por decreto em 2007, estipulava eliminar a perda líquida de área de cobertura florestal até 2015. O tema esquentou a campanha eleitoral brasileira. Dilma, que como ministra de Minas e Energia de Lula vivia às turras com a do Ambiente, Marina Silva, disse em Nova York que a adversária está “mentindo” ao dizer que o desmatamento na Amazônia cresceu no último ano. Segundo a presidente, houve um “aumentinho” em 2013.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento cresceu 29% entre 2012 e 2013. Com 5.891 km² de florestas destruídas, porém, esta foi a segunda menor taxa  egistrada desde 1988.

Com o desmate zero proposto no texto, deixariam de ser emitidos por ano, a partir de 2030, de 4,5 bilhões a 8,8 bilhões de toneladas CO2, valor estimado para o que a destruição de florestas lança de poluição anualmente. Seria o mesmo que tirar de circulação o bilhão de carros que há hoje no mundo.

EUA e União Europeia apoiam a declaração. China e Índia, não. Outros países com floresta tropical assinaram (Peru, Colômbia, Guiana, República Democrática do Congo e Indonésia). Mas nenhum chega perto dos 4 milhões de km2 de mata amazônica do Brasil.