A disputa entre XP e BTG Pactual por agentes autônomos de investimento teve reflexos no valor das ações das duas companhias. No mês de maio, os papéis do BTG, negociados na B3, subiram 13%, enquanto os da XP, listados na Nasdaq, em Nova York, ficaram no zero a zero. Com isso, o valor de mercado do BTG ultrapassou o da rival.

Na segunda-feira, 31, o BTG tinha valor de mercado de R$ 147,4 bilhões, e a XP, de US$ 22,2 bilhões, ou R$ 115,8 bilhões. Desde o dia 17, o banco controlado por André Esteves está à frente em termos de valor de mercado, o que se explica pela baixa do dólar, que reduz o total da XP em reais, mas também pela perda de ímpeto da ação da corretora. Em múltiplos entre preço e lucro do negócio, porém, a ação da XP está mais cara: é equivalente 42,1 vezes, versus 21,4 vezes do BTG.

Dados da Economática mostram que o BTG também passou a valer mais que a XP em dólares – algo que não acontecia de forma consistente desde dezembro de 2019. Os números consideram o valor do banco dividido pelas cotações da moeda americana em relação ao real.

Essa inversão de desempenho é explicada pelos últimos movimentos do BTG, que entre a conquista de escritórios de agentes antes credenciados à XP e aquisições como a da Universa (dona da Empiricus). “A expectativa do mercado para o crescimento do BTG aumentou bastante”, diz Henrique Esteter, analista da Guide. Esse otimismo levou a ação a subir com o anúncio de que o banco captará até R$ 3 bilhões em uma nova oferta de ações.

Mas a XP é um rival forte. Em relatório divulgado na última semana, o Credit Suisse ponderou que, mesmo em um cenário de mais concorrência, a XP tende a aumentar em 31% ao ano o volume de ativos sob custódia, em 2021 e em 2022, ante um crescimento de 10% do mercado.

Segundo o Credit, a redução da rede de agências por bancos tem causado uma migração de investimentos para os agentes autônomos. Exatamente por isso, a competição por agentes é decisiva. “O horizonte de médio prazo (da XP) continua muito mais incerto, dado que o BTG continua a ‘cutucar’ a base de agentes de investimento da XP (o que pode reduzir o crescimento futuro)”, escreveram os analistas Marcelo Telles e Alonso Garcia.

Disputa

O discurso da XP é de que seus maiores concorrentes são os bancos, e não outras plataformas. Mesmo assim, a companhia começou a responder à estratégia do BTG, dando ouvidos aos anseios de seus maiores agentes autônomos que querem se tornar corretoras.

O BTG Pactual e a XP carregam DNAs diferentes e seus negócios se cruzaram apenas nos últimos anos, quando o banco decidiu ingressar no segmento de varejo. Ao mesmo tempo, a corretora criada por Guilherme Benchimol se estrutura como banco, rivalizando com o BTG.

“Ninguém espera que a XP se desfaça dos agentes. Ela vai ampliar a atuação em outros mercados”, diz o coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV/Eaesp, William Eid. O professor acrescenta que o BTG, no entanto, descobriu nos agentes e no varejo um tremendo filão. “O BTG tem atuado com força, oferecendo luvas (aos agentes), por exemplo”, diz Eid.

Os agentes são fundamentais para as plataformas de investimento porque dão a elas capilaridade, inclusive regional, especialmente com o enxugamento da rede de agências dos grandes bancos. Desde sua fundação, a XP foi a plataforma que deu atenção a esse público, que se tornou uma das maiores alavancas de seu crescimento.

Para um especialista que acompanha de perto a movimentação dos rivais, o BTG tem sido premiado pela iniciativa de erguer um negócio de varejo digital anexo a um negócio financeiro já rentável. “Está usando a vaca leiteira para investir em um negócio digital”, diz o analista, que pediu anonimato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.