RICARDO COTRIM Búfalo dourado “Iniciamos o ano com crescimento entre 20% a 25%” (Crédito:Divulgação)

Assim como na maioria das espécies é difícil precisar a data da origem do búfalo. Mas, uma descoberta revelada no fim do ano passado traz uma pista que revela que sua convivência com os humanos é bastante antiga: quatro búfalos-anões estão retratados na obra de arte mais antiga do mundo datada de 43.900 anos atrás descoberta na Indonésia. Sua presença no Brasil, no entanto, é bem mais recente. A primeira importação de bubalinos foi realizada em 1895 pelo criador paraense Vicente Chermont de Miranda, que adquiriu búfalos da raça Mediterrâneo do Conde italiano Rospigliosi Camilo, de Roma. A porta de entrada foi a Ilha de Marajó, no Pará. Nestes mais de 100 anos, as criações se espalharam pelo País que hoje tem o maior plantel das américas com duas milhões de cabeças.

NA PRATELEIRA Do faturamento de US$ 1 bilhão previsto para 2020, 70% vêm da venda do leite de búfalas e derivados. Os demais 30%, da carne que não conquistou o gosto do brasileiro (Crédito:Divulgação)

Apesar da aparência bruta, os criadores garantem que são sensíveis, inteligentes e dóceis. Tais características aliadas à facilidade de adaptação a diversos ecossistemas, à longevidade, à fácil reprodução e à possibilidade de comercialização do leite e derivados, couro e carne fazem do búfalo ótima opção para criadores de várias partes do mundo. Estima-se que a população mundial de bubalinos seja de aproximadamente 200 milhões de cabeças, com 193 milhões na Ásia (56% deles na Índia); 3,7 milhões na África; 4,2 milhões na América; 440 mil na Europa e 100 mil na Austrália. Neste cenário, o plantel do Brasil – com suas dimensões continentais – parece pouco perto do potencial.

maior parte do plantel para produção de leite e stá no sudeste. No norte, o foco é no transporte

 

DE GERAÇÃO em geração A criação de bubalinos da família Almeida Prado começou com a mãe, Maria Cecília. Hoje, são as filhas que tocam o negócio (Crédito:Divulgação)

Das 182 espécies registradas no mundo, o País tem somente quatro: Carabao, Murrah, Mediterrâneo e Jafarabadi. A grande parte concentrada na região Norte, com 922,6 mil cabeças, seguida pelo Nordeste com 125,3 mil, Sudeste com 188.753 mil, Sul com 100,1 mil e Centro-Oeste com 53,2 mil, segundo último censo agro do IBGE disponibilizado em 2018. Uma peculiaridade chama atenção. O plantel distribuído entre Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins é, em sua maioria, voltado para o transporte e não para atender a demanda do mercado. “A maior parte do rebanho está na Ilha de Marajó, porém a maior concentração de bubalinos para a produção de leite e derivados está na região Sudeste, em especial no interior de São Paulo e Minas Gerais”, afirmou Caio Rossato, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bubalinos (ABCS). A carne de búfalo, apesar de registros do seu alto valor proteico, não ficou popular entre os brasileiros.

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Uma das fazendas dedicadas à produção de leite para a produção dos derivados é a Rio Pardo, localizada em Bocaina, no interior paulista. Maria Cecília de Almeida Prado adquiriu a propriedade em meados de 1980 e dedicou os 190 mil hectares para a criação dos bubalinos, hoje com um rebanho de 550 búfalas e 7 touros. Da produção surgiu a marca Almeida Prado. “As primeiras búfalas compradas eram da propriedade vizinha. Minha mãe se encantou pelos benefícios nutricionais do leite e pela docilidade dos animais”, disse Mariana de Almeida Prado, filha de Maria Cecília e atual gestora da fazenda. Com o interesse na expansão do rebanho, Maria Cecília buscou conhecimento sobre as técnicas adequadas para criação, manejo e melhoramento genético, e então comprou algumas cabeças da raça Murrah. “Temos todo o cuidado com genética, por isso verificamos o potencial de transferência da ancestralidade de cada um dos animais”, disse. A marca, fundada nos anos 1990, ganhou espaço nas prateleiras de mercados sofisticados, empórios e restaurantes renomados. “Neste último ano crescemos 14%”, afirmou Veridiana de Almeida Prado, diretora do Laticínio Almeida Prado.

EXPECTATIVA O mercado tem potencial para mais já que é crescente a demanda por alimentação saudável, muito associada aos subprodutos do leite dos bubalinos. “Além da saudabilidade dos produtos, também acredito que a gourmetização dos pratos ajuda no aumento do mercado”, afirmou João Ghaspar de Almeida, representante da América do Sul na diretoria da International Buffalo Federation (IBF). A expectativa é de uma evolução de 20% a 30% ao ano, puxado pelo aumento do consumo de derivados do leite. Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, o faturamento anual da cadeia de produtos de búfalos é de R$ 1,1 bilhão, sendo 70% proveniente do leite e seus derivados e apenas 30% do corte.

De olho no potencial do negócio, a Levitare criou uma rede para aumentar sua escala. Atualmente a empresa conta com mais de 200 fornecedores em 12 municípios do Vale da Ribeira. Juntos, somam aproximadamente 10 mil cabeças de búfalas leiteiras. Como resultado da estratégia, disse Jorge Direne Nakid, sócio e diretor comercial da empresa, a produção da marca passou de 200 litros em 2004 para 30 mil litros por dia em 2019. Entre os produtos, além da tradicional mussarela de búfalo, há também queijo cottage, burrata, manteiga, requeijão, ricota e até queijo minas.

Uma das principais características que impulsionam o produtor para a criação voltada à indústria leiteira é o alto índice reprodutivo com possibilidade média de 15 crias ao longo da vida. Com melhoramento genético é possível aumentar ainda mais a produtividade. “Fazemos o acompanhamento das fêmeas e uma seleção natural dos animais com melhor desempenho. Sem uso de ocitocina”, afirmou Fábio Cotrim, diretor geral da Fazenda Sesmaria, em Amparo. A propriedade fornece matéria prima exclusivamente para a fábrica Búfalo Dourado, pertencente à mesma família. O plantel tem cerca de 500 animais composto pela raça Mediterrâneo, de origem italiana. “Iniciamos o ano com crescimento entre 20% e 25% em relação ao início de 2019”, disse Ricardo Cotrim, CEO da empresa.
Com alta adaptabilidade a diversos biomas, possibilidade de criação tanto em terra firme quanto em áreas alagadas, fácil manejo e produção de leite e carnes nobres de alta qualidade, fica quase difícil entender porque o plantel é de apenas 2 milhões, contra o rebanho de 214,9 milhões de cabeças de gado. A explicação pode vir da ponta da cadeia. “É um produto de valor agregado, mais diferenciado e mais caro”, afirmou Caio Rossato, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bubalinos.