O banco BV (ex-Votorantim) encerrou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido recorrente de R$ 282 milhões, 27,4% menor que o do mesmo período do ano passado. A baixa se deve à piora no cenário para o crédito no País, que levou a uma aceleração no custo do crédito. Na comparação com o quarto trimestre de 2022, o resultado cresceu 1,1%.

As receitas totais, que incluem a margem financeira e as receitas com serviços, foram de R$ 2,5 bilhões, volume praticamente estável no comparativo com o mesmo intervalo de 2022.

A carteira de crédito somava R$ 84,4 bilhões, alta de 1,8% em três meses, e de 10,7% em um ano. O financiamento automotivo, que responde por metade do total, cresceu 1,6% em 12 meses, e o atacado aumentou 14,4%. Nos novos negócios, como o financiamento a painéis solares, o crescimento foi de 42,7%.

A inadimplência da carteira do BV no final de março era de 5,2%, pelos atrasos acima de 90 dias, alta de 1,1 ponto porcentual no comparativo anual. Na carteira de veículos, que é metade do crédito do banco, o índice estava em 4,7%, 0,5 ponto maior que no mesmo período do ano passado.

No segmento, a deterioração é menor que a vista no mercado, mesmo com a exposição do BV ao financiamento de veículos usados, de risco maior – houve queda na inadimplência em relação ao quarto trimestre, de 0,2 ponto porcentual. O CEO do banco, Gabriel Ferreira, atribui esse descolamento à maior cautela do BV nos últimos 15 meses.

“Vínhamos pressionados desde o final de 2021, as safras começaram a melhorar ao longo de 2022, e estamos vendo uma estabilização nessa carteira”, disse ele ao Broadcast. Na inadimplência como um todo, o executivo espera uma inflexão entre o segundo e o terceiro trimestres, também graças à originação mais cautelosa.

Ainda assim, o cenário pesa. O custo de crédito, em que o banco contabiliza provisões contra a inadimplência, praticamente dobrou em um ano, chegando a R$ 1,2 bilhão. Como resultado, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) do BV ficou em 9%, contra 13,4% no mesmo período de 2022.

O índice de Basileia do banco ficou em 14,2%, ante 16% em março de 2022.

Diversificação gradual

O CEO do BV afirma que a diversificação dos negócios, um dos pilares da estratégia, continua. Linhas como o financiamento a painéis solares, o empréstimo com veículo em garantia e as pequenas e médias empresas já representam 20% da carteira de crédito. Também entra no grupo o banco digital, em que o BV tinha 4,8 milhões de clientes em março, alta de 11% em base anual.

É neste segmento que ficam os cartões de crédito, produto que tem sido um dos de maior deterioração na inadimplência de pessoas físicas neste ano. Entre PFs, Ferreira não espera uma aceleração do crédito neste ano. “Não achamos que vai ser uma retomada tão pujante na virada de 2023 para 2024”, comentou.

Ainda assim, essas carteiras devem ganhar alguma importância no total do BV ao longo do ano, o que, na visão do executivo, mostra que a estratégia é consistente. “A estratégia de diversificação é de longo prazo, não temos uma ansiedade para um crescimento abrupto.”

Atacado

No atacado, segmento em que atende a grandes empresas, o BV observou inadimplência de 0,4%, alta de 0,2 ponto porcentual em um ano. Ferreira afirma que não houve novos eventos específicos no trimestre que elevassem as provisões do banco para o segmento.

No balanço do quarto trimestre, divulgado em fevereiro, o BV reconheceu provisões relacionadas à recuperação judicial da Americanas. A instituição financeira liquidou antecipadamente créditos da varejista através de depósitos que possuía como garantia, em operação prevista em contrato, mas que foi questionada pela varejista.

Sem citar a empresa nominalmente, Ferreira disse que as discussões judiciais continuam, mas com boa evolução, e que o BV entende ter agido da forma correta no caso. O banco não participa das negociações entre a Americanas e os credores.

O executivo destaca que o aumento da inadimplência no atacado está sob controle, e que é uma normalização após dois anos de índices muito abaixo da média. Entretanto, ele considera que o cenário para o segmento ainda inspira cautela. “Vemos com cautela o desenvolvimento dessa maior pressão de crédito. E por óbvio, isso depende muito do cenário macroeconômico.”