No final do ano passado, quando fechou seu balanço anual, a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), entidade que representa cerca de 30% do gado confinado no País, revelou um dado interessante. Uma pesquisa realizada entre seus associados mostrava que 39% dos pecuaristas acreditavam que iriam aumentar seus confinamentos em 2009. Um otimismo baseado no preço da arroba, que continua acima de patamares históricos, além da maior liquidez existente na pecuária, característica que faz do segmento um bom investimento em tempos de crise. Contudo, o dado também contradiz a frustração do setor em 2008, quando registrou crescimento de apenas 1%, enquanto a expectativa era de aumentar em 20% o volume de confinamentos.

RECUPERAÇÃO NO CONFINAMENTO: estagnado em 2008, setor espera voltar a crescer em 2009

Diante desse resultado tão atípico, ninguém ainda se arrisca a fazer projeções para 2009, mas o que se sabe é que, para melhorar o desempenho, alguns gargalos precisam ser superados, como explica o presidente da Assocon, Ricardo Marola. “O fato de o confinamento não apresentar crescimento em 2008 é relevante do ponto de vista histórico, pois é a primeira vez que acontece. Se não resolvermos problemas na produção 2009 pode ser igual.”

PECUARISTA RINO FERRARI: mesmo recuando 30% em 2008, produtor se mostra otimista para 2009

A principal preocupação está no aumento do preço do boi magro, que chegou a ser cotado a R$ 100 a arroba, enquanto o preço do boi gordo estava em R$ 90,18 a arroba, segundo levantamento da Scot Consultoria. Para o presidente da Assocon, no entanto, o aumento no preço do boi magro em 60% no ano tem explicação. “Isso se deve em boa parte ao abate de matrizes no passado e levará um tempo para se normalizar”, pondera Marola.

Além de caro, o boi magro também está escasso no mercado e mesmo quem está disposto a pagar não encontra animal. Esse é o caso do pecuarista Rino Ferrari. “Tenho área para aumentar em mais de quatro mil cabeças meu confinamento, mas simplesmente não encontramos boi para comprar. Já diminuímos em 30% nosso confinamento”, conta Ferrari, que confina cerca de 15 mil cabeças por ano em sua propriedade de 750 hectares, localizada em São Carlos (SP). Apesar de não crescer, Ferrari conta que conseguiu rentabilidade. “Consegui baixar meu custo de alimentação dos animais usando polpa cítrica e mantive as margens. Estamos trabalhando para ampliar o confinamento neste ano.”

Diante de tantos desafios, o setor ainda se prepara para uma batalha contra os frigoríficos, que, com a baixa demanda das exportações de carne para a União Européia, resolveram diminuir e, em alguns casos, suspender o prêmio pago às fazendas habilitadas a vender para o mercado europeu.

Segundo a Assocon, o ágio, que era de 12% sobre o preço da arroba, foi reduzido para 2,4% e em alguns casos os frigoríficos suspenderam o pagamento. “Faltou visão estratégica para os frigoríficos. Não é interessante para o produtor manter a certificação sem uma bonificação”, explica Marola, que acredita que a medida pode inviabilizar exportações futuras. “Quando a Europa retomar as compras, o Brasil não terá gente habilitada para vender. Não é só apertar um botão e retomar a produção no padrão que os europeus querem”, conclui.

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