A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes do País. Transformada em etanol, ela representa hoje 32% na matriz de combustíveis. Em eletricidade, o processamento de palha e bagaço, resíduo da produção de etanol e açúcar, produz 27% do consumo no País. No entanto, apesar da importância de sua cadeia produtiva, o posto de presidente da principal entidade de representação do setor, a União da Indústria da Cana-de-açúcar( Unica), continua vago, seis meses depois do pedido de demissão intempestivo de seu antigo ocupante, o economista Marcos Jank , no dia 27de março. Desde então, quem ocupa o posto, interinamente, é o diretor técnico da Unica, Antônio de Pádua Rodrigues, que se sente notoriamente desconfortável na função. “Gostava muito mais do meu cargo anterior”, disse Pádua à DINHEIRO RURAL. “Espero, em breve, retomar o meu antigo posto.” Mas, pelo andar da carruagem, Pádua, como é mais conhecido, ainda pode continuar por mais algum tempo na função de interino.

Uma primeira tentativa de contratar um novo presidente para a entidade – e que veio a público – aconteceu em meados de abril. Na época, foi cogitado o nome de Elizabeth de Carvalhaes, presidente-executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). A notícia da contratação dava a impressão de que a executiva iria aceitar o cargo. No entanto, em comunicado oficial e sob o pretexto de que tinha muito a fazer ainda pelo setor de papel e celulose, Elizabeth disse não à Unica. Nos bastidores da entidade, comenta-se que o motivo verdadeiro teria sido a recusa de Elizabeth de segurar a batata quente de um setor fragilizado pelas quebras sucessivas de safras, praticamente sem interlocução no governo federal e sem uma política clara para os próximos anos. Segundo Sérgio Prado, representante da Única em Ribeirão Preto, a escolha de um novo presidente está agora nas mãos do conselho administrativo da entidade, liderado por Pedro Parente, presidente da Bunge. Apesar da demora em encontrar um presidente para a entidade, Prado diz que a Unica continua honrando a sua agenda de compromissos. “Nada mudou desde a saída de Jank”, afirma.

Mas, para fontes do setor que não quiseram se identificar, a história não é bem essa. Para elas, a entidade vive em pé de guerra, com fortes disputas políticas entre os próprios associados. “Os interesses mudaram”, diz uma dessas fontes. “Agora, empresas exclusivamente sucroalcooleiras, como Cosan e ETH, não se entendem com empresas de outros setores, como Bunge e Cargill.” Para piorar a situação, a interlocução com o governo também está mais lenta. José Carlos Hansknecht, sócio da consultoria MBAgro, de São Paulo, afirma que, com a saída de Jank, a Unica ficou sem um intermediador dos interesses políticos da entidade no governo. “A Única não parou suas atividades por estar sem um presidente”, diz Hansknecht. “Mas a falta de liderança acaba atrapalhando as conversas com o governo.” Até mesmo os relatórios sobre a safra da cana-de-açúcar, divulgados todos os meses pela Unica, mostram quão confusa estão as relações no setor. Hoje, nem mesmo o governo federal confia plenamente nos dados divulgados pela entidade. Segundo Luís Carlos Job, coordenador-geral de açúcar e álcool do Ministério da Agricultura (Mapa), o próprio ministério prefere acompanhar o desempenho da cana somente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Sistema de Acompanhamento de Produção Canavieira (Sapcana). A situação está tão complicada para a Unica que até mesmo as boas notícias têm um viés atravessado. Na última atualização sobre a perspectiva de produção para a safra deste ano, apresentada no dia 25 de setembro, a Unica divulgou que as usinas devem moer 518 milhões de toneladas de cana, na região Centro-Sul. O volume representa um aumento de quase 2% sobre a estimativa de 509 milhões de toneladas divulgada no levantamento de abril, o primeiro da atual safra. Mas, apesar do aumento da produtividade da cana por hectare, as intensas chuvas de abril impactaram severamente a qualidade da cana colhida. Até o início de setembro, a quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR ), por tonelada de cana, totalizou apenas 129 quilos, valor abaixo dos 132 quilos observados no mesmo período da safra 2011/2012. “Menos ATR significa produção menor”, diz Pádua. “Só não vamos ter menos álcool e açúcar porque a área de plantio é maior.”