18/02/2025 - 8:25
Café, carne e azeite estão entre os vilões da inflação de alimentos, de acordo com o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) no acumulado de doze meses até janeiro. O preço do café moído disparou 50%. Carnes (21%) e azeite (17%) também subiram muito acima da inflação do período, que ficou em 4,56%.
A alta no preço dos alimentos é um dos principais desafios neste começo de ano para o governo Lula, que tenta recuperar a popularidade que anda em baixa. A expectativa de uma safra recorde de grãos em 2025 traz esperança para a queda de preço, mas será que isso é o suficiente para fazer café, carne e azeite baixarem de preço?
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A Dinheiro Rural ouviu especialistas para entender até o que esperar para os preços de café, carne e azeite .
Café
O café moído vem em uma alta acentuada desde o final do ano passado, quando as maiores companhias produtoras de café anunciaram o aumento nas prateleiras. Mas foi em janeiro que o consumidor sentiu no bolso um preço amargo. No IPCA de janeiro o produto subiu 8,56%.
A analista de Inteligência de Mercado da Hedgepoint, Laleska Moda, explica que a alta em 2025 já era esperada por conta de baixos estoques de café em diversos países do mundo, combinada com uma produção menor do Vietnã nas safras de 2023 e 2024.
“Tivemos nos últimos 4 anos, mais ou menos, nas quatro últimas safras, uma produção um pouco menor do que o consumo. Isso levou a uma redução dos estoques globais, com a Europa, por exemplo, atingindo os níveis mais baixos de estoques da história”, destaca.
Já no Brasil, as secas afetaram a safra do ano passado, que foi um pouco menor do que o esperado. Com isso, alguns produtores tiveram que realizar podas nos pés que ficaram prejudicados com a estiagem entre os meses de setembro e outubro, ponto que pode prejudicar as safras dos próximos anos. “Isso acabou afetando o potencial produtivo dos cafezais”, diz.
A especialista traça um cenário pouco otimista sobre uma possível queda do preço do café no curto prazo para o consumidor final.
“Muito provavelmente vai ter mais aumento para o consumidor ao longo dos próximos meses, pois as cotações de café na bolsa de Nova York estão atingindo recordes, o que deve se refletir nos preços para o consumidor final no Brasil”, acredita.
Um outro ponto levado em consideração são os produtores que estão segurando café para comercializá-los a preços mais altos. Laleska explica que, caso esse aumento nos preços afete diretamente a demanda do consumidor pelo produto, é possível que haja um ajuste nos preços para baixo no curto prazo.
Carne
O ano de 2024 foi positivo para a pecuária brasileira em se tratando de produção e consumo interno. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de carne bovina atingiu 10,91 milhões de toneladas, a maior já registrada pelo órgão.
No entanto, a alta de preço para o consumidor final aconteceu por aspectos como o climático, a diminuição dos bois prontos para o corte e o apetite da China pela carne brasileira aliado com o dólar valorizado.
“O Brasil enfrentou secas severas no ano passado, o que reduziu drasticamente as áreas de pasto e encareceu a alimentação do gado. Outro ponto foi que houve uma redução no rebanho porque muitos pecuaristas venderam fêmeas para abate ao invés de manterem a criação. O resultado desse movimento é uma menor quantidade de boi pronto para o corte, também fazendo com que o preço suba na prateleira dos supermercados. O dólar valorizado também se torna um incentivo para comercializar a carne para diversos outros países, já que a exportação se torna ainda mais lucrativa”, afirma Leandro Rosadas, economista e especialista em gestão de supermercados.
Rosadas acredita que há pouco espaço para queda no preço da carne bovina no primeiro semestres, mas que caso as pastagens melhorem e o dólar se desvalorize mais, o custo poderá baixar no segundo semestre. “Se o dólar continuar valorizado, os frigoríficos vão seguir exportando mais e deixando menos carne no Brasil”, contou.
Azeite
O azeite subiu 0,36% em janeiro e acumula uma alta de 17% em 12 meses. A alta foi sentida em todo o mundo nos últimos anos por conta de safras menores de azeitonas nos principais países produtores, principalmente Espanha, Turquia, Grécia e Itália.
A notícia boa é que após duas safras ruins, a safra de 2025 tende a voltar à normalidade. A previsão de produção global para a campanha 2024-2025 é de cerca de 3,1 milhões de toneladas de azeitonas, o que representa um aumento de 23% em relação à última safra. Esse crescimento é impulsionado principalmente por safras abundantes na Espanha, Tunísia, Turquia e Grécia, que devem ajudar a equilibrar o mercado e responder à demanda reprimida.
Por outro lado, após dois anos de muita dificuldade, os produtores vão querer repor os estoques de azeitonas. Com isso, na visão do mestre largar e diretor da Prosperato Rafael Marchetti, ainda vai levar algum tempo para o brasileiro sentir a queda no preço.
“Os reflexos desse aumento de safra não são imediatos assim. Foram duas safras muito ruins e agora os produtores vão querer repor os estoques perdidos nos anos anteriores”. Marchetti também acredita que uma valorização do real frente ao dólar pode fazer com que o produto abaixe de preço. “A taxa de câmbio é um fator determinante no preço do azeite importado”, encerrou.
O mesmo se aplica para a azeitona, que acumula em 12 meses alta de 11,46%. “A colheita da Argentina, que é o maior exportador de azeitonas para o Brasil, não aconteceu como o esperado, dificultando a queda nos preços. Outro fator que tem impactado é a variação cambial. No ano passado, tivemos uma alta de 17% no dólar, o que afeta diretamente o preço da azeitona, que é 100% importada”, afirma Martin Nucete Hernando, gerente nacional de vendas do Grupo Vale Fértil.
Projeções para o IPCA
De acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira, 17, a expectativa do mercado para o IPCA é de alta de 5,60% ao fim deste ano, de 5,58% na pesquisa anterior, no que foi a 18ª semana consecutiva de aumento na previsão. Para 2026, a projeção para a inflação brasileira é de 4,35%, de 4,30% anteriormente.
O centro da meta perseguida pelo BC é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.