Em todo inverno é assim. O sol mal aponta por cima das montanhas de São Sebastião da Grama, em Minas Gerais, e o observador atento começa a enxergar uma vastidão de pés de café carregados de grãos. É ali na Serra da Mantiqueira, entre os estados mineiro e de São Paulo, que se concentra parte das 1,3 mil fazendas brasileiras licenciadas para o fornecimento dos grãos especiais para a Nespresso. Dessas, 49 propriedades, que juntas somam 18,4 mil hectares, alcançaram a nota máxima de excelência da marca, o triple A. A concentração geográfica, como explicou o chefe do Programa AAA de Qualidade Sustentável na Nespresso no Brasil e no Havaí, Guilherme Amado, não é mero acaso. “Estar nas montanhas com solos vulcânicos mais férteis, exposição de sol ideal e baixas temperaturas à noite cria condições perfeitas para que os grãos atinjam uma qualidade superior.”

Uma dessas fazendas triple A é a centenária Cachoeira da Grama, que sempre produziu cafés de alta qualidade e hoje é uma das pioneiras em cafés especiais. Comandada pelo produtor Gabriel Carvalho Dias, a propriedade de 411 hectares tem o Bourbon Amarelo como uma das variedades produzidas. Após ser colhido manualmente com muito cuidado, esse grão é selecionado e embalado em uma Edição Limitada para a Nespresso. Os pés são cultivados em altitudes que variam de 1,1 mil a 1,25 mil metros, faixa ideal para que a amplitude térmica deixe seu registro no gosto do líquido final. “Assim como nas uvas usadas na produção de vinhos, no café essa diferença também é importante”, afirmou Amado. Isso porque, segundo o especialista, os níveis de acidez e doçura aumentam, elevando a complexidade aromática desses frutos. “Por isso falamos que a qualidade está na montanha e ela está diretamente ligada ao terroir.”

Qualidade A soma do terroir com os cuidados no cultivo e no manejo eleva o padrão da bebida

Para a marca, a qualidade dos grãos desde a colheita até a torra é uma questão fundamental do negócio. Isso explica os investimentos que ultrapassam a linha dos US$ 10 milhões ao ano somente nessa área. Os resultados compensam. Cerca de 80% dos fornecedores de cafés especiais são pequenos produtores altamente engajados com a marca e com os padrões de qualidade acima dos exigidos pelo mercado. Um comportamento que começou a crescer no Brasil não faz muito tempo e que está mudando a imagem internacional de um país produtor de café commodity para o de produtor de grãos com os mais altos padrões de excelência. Não por outro motivo, o Brasil e a Colômbia são hoje os maiores fornecedores da Nespresso.

“Esse terroir oferece condições ideais para que os grãos atinjam uma qualidade superior” Guilherme Amado, Nespresso (Crédito:Gabriel Reis)

MERCADO Atualmente, o Brasil é o maior produtor global de café tipo commodity e o segundo maior consumidor da bebida do mundo. Em 2021, a média de produção global chegou a 167 milhões de sacas do grão, das quais quase 50 milhões foram de origem brasileira, o equivalente a 28%. Entre as variedades estão o Arábica e o Robusta (ou Conillon), além de outras como Mundo Novo, Catuaí, Icatu e o Bourbon. Sendo que, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para este ano a previsão é que a produção de café Robusta/Conilon seja recorde com 17,7 milhões de sacas, ante 16,29 milhões sacas em 2021. Já o café Arábica deve somar 35,7 milhões de sacas, alta de 13,6% a mais em relação ao ano anterior.

Havia um receio de repetir nesse ano a quebra de 10% da safra dos anos anteriores, devido à geada. Mas o medo acabou não se concretizando. O clima sem chuva ficou perfeito para o desenvolvimento final do grão. “Café e uva não amadurecem depois de colhidos. Se tirar verde, a adstringência passa para a bebida, que fica dura”, disse Amado, da Nespresso. O clima também ajudou no lento processo de secagem dos especiais que pode chegar até 30 dias. O resultado são os bons números de produção apontados pela Conab. Junto a isso, o produtor ainda comemora os preços no mercado internacional. De acordo com dados da cooperativa Cooxupé, o valor da saca vinha aumentando na virada do ano, passando de um patamar de US$ 255, em dezembro de 2021, para uma cotação recorde de US$ 285 em fevereiro deste ano, até dar sinais de que está se estabilizando em valores que ficam entre US$ 200 e US$ 210 no início deste segundo semestre. Com tantas boas notícias para o setor, vale celebrar com uma bela xícara de café aos pés da serra que abrigam os cafezais triple A da Nespresso.

INVESTIMENTO Por ano, Nespresso aplica US$ 10 milhões para ter os melhores cafés (Crédito:Gabriel Reis)