05/07/2025 - 7:00
Agentes do mercado de café acreditam que a recomposição dos estoques globais de café deve levar pelo menos duas boas safras, após déficits sucessivos no balanço de oferta e demanda, em meio a um consumo que mostra resiliência apesar de preços historicamente elevados.
O cenário mostra os desafios globais do setor, que viu os preços dispararem para máximas históricas, e indica que mesmo uma grande safra esperada em 2026 para o Brasil, maior produtor e exportador global, pode não trazer alívio imediato no preço para consumidores.
“Eu acho que a gente ainda está num momento que não é confortável. Eu não acredito em formação de estoque deste ano para o ano que vem. Acho que a gente precisaria de no mínimo umas duas safras boas”, afirmou o superintendente comercial da cooperativa Cooxupé, Luiz Fernando dos Reis, à Reuters, durante o Coffee Dinner & Summit, nesta sexta-feira.
Grande safra de café em 2026 pode não ser suficiente para alívio nos preços
O executivo da maior cooperativa de cafeicultores do mundo lembrou que, mesmo que o Brasil produza uma grande safra no ano que vem (2026/27), a seguinte não deve ser tão boa, já que as lavouras de arábica, que dominam a cultura no Brasil, oscilam entre anos de alta e baixa produtividade.
“Acho que não vamos conseguir recompor esses estoques no ano que vem”, disse ele.
Reis destacou ainda que o Brasil deve enfrentar um “aperto” na oferta no começo do ano que vem, até a chegada da safra 2026/27, “como nós tivemos neste ano”. As cotações atingiram máximas históricas de mais de US$4/libra-peso em fevereiro na bolsa de Nova York.
Com uma queda recente nos preços em relação às máximas, o produtor “tende até a segurar um pouquinho mais” as vendas, enquanto pode trazer paralelamente algum impulso ao consumo, concordou o superintendente.
Atualmente, o valor na bolsa ICE está um pouco abaixo de US$ 3/libra-peso.
“Ainda está num preço bom, se a gente comparar, não é o que teve, mas ainda é um preço bom. O produtor está colhendo, vendendo uma parte, mas se cair mais…”, acrescentou.
Período de recuperação de estoque é consenso no mercado
O diretor de pesquisa de café da Louis Dreyfus Company, Charles Chiapolino, disse durante a apresentação que após anos de déficits não vai ser fácil recompor estoques no mundo.
“Para recompor os estoques que tínhamos quatro anos atrás, vai levar pelo menos dois anos de safras muito boas, com tudo positivo, e sabemos das dificuldades de o clima ficar alinhado em todo o mundo dois anos seguidos, é quase impossível”, afirmou Chiapolino.
O CEO da Federação dos Cafeicultores da Colômbia, Germán Bahamón, concorda, lembrando que os estoques caíram na origem e nos destinos, nos últimos anos, com o consumo forte.
“Neste momento, ninguém consegue construir estoques com a demanda estável e crescendo em alguns países… difícil ver os estoques crescendo como estávamos acostumados anteriormente”, afirmou.
O presidente da Divisão da América Latina da StoneX Financial, Oscar Schaps, disse que a estrutura do mercado invertido, na qual os preços de vencimentos mais próximos estão mais altos do que os contratos mais distantes, não ajuda na formação de estoques.
“A bolsa tem que mostrar incremento de estoques para acabar com o backwardation (mercado invertido)”, disse.
Ele disse esperar que a safra de 2026 do Brasil ajude a melhorar o nível de estoques.
Brasil pode adicionar 23 mi sacas de café ao mercado na próxima década
Chaipolino também estima que o Brasil poderá adicionar 23 milhões de sacas de 60 kg ao mercado nos próximos dez anos, após ter aumentado a produção em 9 milhões de sacas na última década.
O especialista lembrou que a demanda global pelo produto está resiliente apesar dos preços recordes no início do ano, enquanto o Brasil tem desafios como a logística para ser capaz de elevar a produção.
Diante das mudanças climáticas, ele disse que a solução para o Brasil deve ser mais investimentos em irrigação, como foi feito no Espírito Santo, que enfrentou uma seca no ano passado sem maiores problemas.
“Se querem ser resilientes, devem estar preparados em termos de aquecimento global”, afirmou.
Ele disse que, se o Brasil quiser exportar mais de 20 milhões de sacas, precisaria também investir em logística.
Além de investimentos em sustentabilidade, o Brasil deveria estar pronto para atender novos hábitos de consumo de café, acrescentou.