07/06/2025 - 7:00
Pequenos cafeicultores da região sul do estado de Minas Gerais estão participando de um programa de reflorestamento da Mata Atlântica e preservação de nascentes de rios.
Organizado pela torrefadora JDE Peets (grupo holandês donos das marcas Pilão e L´OR) e pela Comexim, o programa, batizado de Growing Together, nasceu no início de 2023, e que atende hoje a 43 famílias, conseguiu recuperar 61 nascentes. Além disso, a expectativa é que o reflorestamento e a preservação das nascentes consigam tirar 30 mil toneladas de CO₂ da atmosfera pelos próximos 30 anos.

O programa conta com o auxílio do Instituto Federal (IF) da cidade mineira de Inconfidentes, que visita as fazendas dos produtores que se interessam pelo programa, realiza o mapeamento da área protegida e oferece mudas que serão plantadas, todas elas nativas da Mata Atlântica.
“É um trabalho que se alinha aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS], contribui para as metas nacionais de restauração florestal e quantifica um impacto real na luta contra a mudança global do clima, além de oferecer um ganho para a propriedade com o tratamento de água. É o caminho para uma agricultura verdadeiramente sustentável que beneficia não só a propriedade, mas toda a bacia e a sociedade”, explicou a professora de Engenharia Florestal Lilian Vilela Andrade Pinto.
As mudas são cedidas pelo instituto, que cultiva diversas espécies em uma área própria dentro do IF e as plantam após estarem em um tamanho em que a raiz vá conseguir se manter no solo. A equipe dos alunos da professora Lilian também visita as fazendas de seis em seis meses para analisar como o projeto está se desenvolvendo e prestar qualquer auxílio para o produtor.
Produtor vê melhora da terra em tempos de estiagem

Um dos primeiros desafios do programa é conseguir convencer o produtor a reservar uma parte de sua terra para realizar os plantios. A reportagem visitou a fazenda do produtor Wendel Rodrigues de Morais, proprietário do Sítio Santo Antônio, na cidade de Bueno Brandão (458 km de BH), que precisou reservar uma área de 4.122 m² para a proteção da nascente do rio. Foram plantadas 450 mudas de árvores nativas nessa área.
Uma das diferenças que ele sente é a umidade do solo no local. “Em setembro, quando é uma época seca por aqui, ainda é possível perceber que a terra está úmida”, explicou o produtor. Isso acontece porque quando a água da chuva tem a chance de se infiltrar no solo em áreas conservadas, ela verte da nascente continuamente ao longo do ano. Se a água não infiltrasse, ela seria perdida após a chuva, escoando da propriedade.
Outra vantagem pode ser a certificação de produção sustentável de café que a fazenda pode conseguir, além de, em algumas cidades, ser possível adotar aos programas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que remunera o produtor que preserva e aumenta a quantidade de água disponível.
Preservação de polinizadores
Outra vantagem do reflorestamento nessas áreas é o aumento de polinizadores, como abelhas, que são essenciais para a produção cafeeira.
“Ao preservar fragmentos, seja no entorno da nascente, dos cursos d’água ou no topo do morro, a propriedade mantém a biodiversidade. Essa biodiversidade inclui elementos cruciais para a produção agrícola, como os polinizadores e os inimigos naturais das pragas”, explicou a professora.
Cafeicultura familiar de Rondônia apresenta balanço favorável de carbono
O projeto vem em um momento em que a pegada de carbono da produção de café no Brasil está sendo alvo de muitos estudos, impulsionados pela Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP 30, que vai acontecer em novembro na cidade de Belém (PA).
A Embrapa realizou um estudo com cafeicultores familiares de Rondônia que apontou que a produção cafeeira na região sequestra mais carbono do que emite.
A pesquisa demonstra que o balanço anual de carbono da região registra um saldo favorável de 3.883,3 kg, ou cerca de 4 toneladas por hectare ao ano. A média vem da diferença entre o carbono estocado na biomassa das plantas (6.874,8 kg) e a emissão de gases de efeito estufa (GEE) durante a fase de produção do café (2.991,5 kg). Por seu ineditismo, o balanço poderá ser utilizado como referência para outras pesquisas e, até mesmo, para abertura de linhas de créditos de carbono.
“Estamos muito felizes com o resultado dessa pesquisa”, afirma Juan Travian, presidente da Cafeicultores Associados da Região das Matas de Rondônia (Caferon). “O estudo comprova a sustentabilidade da cafeicultura praticada no bioma Amazônia. Para nós, é importantíssimo mostrar ao mundo, por meio da ciência, que a produção de café na Amazônia é sustentável”, complementa.
O projeto com os Cafés Robustas Amazônicos foi selecionado para ser apresentado na vitrine viva do Espaço AgriZone, exposição que será a casa da agricultura sustentável brasileira durante a COP30.
Sistema de biodigestor devolve água tratada para a natureza

Outra iniciativa que faz parte do programa é o sistema de biodigestores implantado nas propriedades. Na fazenda de Wendel, não havia qualquer tratamento de esgoto, que era descartado por meio de uma “‘fossa negra”, ou seja, um sistema bastante primitivo, que faz um buraco sem qualquer estrutura, apenas para destino dos desejos.
Com isso, a água era liberada no meio ambiente sem qualquer condição de uso, podendo prejudicar o solo. “Isso é melhor para o meio ambiente em geral”, acredita o produtor.
Com o sistema de biodigestores, a água é tratada e liberada na natureza totalmente apta para o uso. A água descartada é analisada por um laboratório do Instituto Federal de Inconfidentes.
*A reportagem viajou a convite da JDE Peets