21/11/2025 - 12:51
O presidente americano, Donald Trump, retirou as tarifas extras de 40% aplicadas a diversos produtos brasileiros nesta quinta-feira, 20. Entre os setores mais impactados, o café recebeu a notícia com alívio e expectativa de retomada no fluxo de exportações.
+Preços globais do café despencam após Trump remover tarifas sobre café brasileiro
Porém, nem tudo é motivo de comemoração. Em pronunciamento à imprensa, o presidente do Conselho Nacional dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, alertou que, apesar da alegria com a retirada das tarifas, o setor continua atento. O café solúvel, produto de maior valor agregado e responsável por cerca de 10% das exportações brasileiras para os EUA, permanece sujeito à tributação.
“Temos uma tarefa pela frente: resolver a questão do café solúvel, que continua tarifado não apenas o do Brasil, mas também de outras origens. Já mantive contato com a embaixada do Brasil em Washington, com Brasília e com nossos importadores lá fora. Estamos trabalhando ativamente nessa questão. Costumo dizer que para cada emprego gerado pelo café em grão, três ou quatro são gerados pelo café solúvel, que tem maior valor agregado por ser um produto final acabado”, afirmou Márcio Ferreira.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS) comemorou a reversão das tarifas para outras categorias agrícolas, mas lamentou que o café solúvel brasileiro, “um produto de importância histórica e econômica fundamental para ambos os países”, permaneça sujeito à taxa adicional de 40%, que totaliza 50% quando somadas às tarifas recíprocas de 10%.
“Essa situação contrasta com o progresso geral nas negociações bilaterais e representa um desafio contínuo para o setor”, destacou a associação.
Segundo a ABICS, desde a implementação do tarifaço, em agosto de 2025, a indústria de café solúvel brasileira enfrenta impactos severos:
Queda abrupta nas exportações: os embarques para os EUA caíram mais de 52% em volume desde agosto, evidenciando o efeito imediato da medida tarifária;
Perda de liderança histórica: os EUA sempre foram o maior mercado para o café solúvel brasileiro, uma parceria que remonta à década de 1960. Em 2024, o país respondia por 38% das importações de café solúvel;
Impacto financeiro e competitivo: atualmente, os EUA representam cerca de 20% do volume total das exportações brasileiras de solúvel, com receitas anuais de aproximadamente US$ 200 milhões, equivalentes a 800 mil sacas de café. A manutenção da tarifa compromete a competitividade do produto, favorecendo concorrentes de outras origens;
Reconfiguração do mercado global: pela primeira vez, os EUA deixaram de ser o principal destino do café solúvel brasileiro, com a Rússia assumindo essa posição.
“A presença no mercado americano é estratégica para o Brasil. A ABICS alerta para o risco de que o café solúvel brasileiro seja permanentemente substituído por produtos de outros países. Uma vez perdida essa fatia de mercado e a lealdade do consumidor, a recuperação será extremamente difícil, com prejuízos para toda a cadeia produtiva, dos cafeicultores às indústrias e trabalhadores”, afirmou a associação.
A ABICS finalizou reiterando seu compromisso com a continuidade das negociações, destacando que está mobilizada em todas as frentes diplomáticas e comerciais para buscar a isenção completa do café solúvel das tarifas adicionais.
*Estagiário sob supervisão
