O Seminário  Nacional da Cafeicultura Familiar, um dos eventos internos do 14° Simpósio Nacional do Agronegócio Café- Agrocafé, reuniu aproximadamente 300  mini e pequenos cafeicultores hoje pela manhã, encerrando definitivamente a edição 2013 do Simpósio. A seca, que se estende e agrava desde o ano passado, a necessidade de crédito emergencial e acesso aos recursos, a falta de assistência técnica e extensão rural, e também de uma política de preço mínimo foram alguns dos pontos que unificaram os anseiosdesses produtores, oriundos de diversas regiões do estado da Bahia.  Os agricultores tiveram a logística e a participação custeada pelo Agrocafé, que contou para isso, e para a mobilização, com o apoio especial da Federação dos Trabalhadores da Agricultura da Bahia ­ Fetag/BA e do Sebrae.

³Pelas próprias dimensões do estado da Bahia, e pelas dificuldades de acesso desses produtores o Agrocafé virou um grande fórum de representatividade. O evento de hoje foi muito bom, e chamou a atenção para a dificuldade que a cafeicultura familiar está enfrentando neste momento de seca e preços baixos do produto. Com esta seca, podemos dizer que três safras serão comprometidas, desde o ano passado, passando pela que está em curso e a próxima², pondera o presidente da Assocafé, João Lopes Araújo.

Na mesa diretora estavam o presidente da Fetag Bahia, Claudio Bastos, o  delegado federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) na Bahia, Wellington Hassegawa, e o consultor técnico da Secretaria da Agricultura Familiar do MDA, Victor Rossi. O painel foi coordenado pelo diretor da EBDA, João Bosco Ramalho.

³Um Brasil rural, com pessoas produzindo, enfatizando a diversidade do país, constitui de fato a grandeza do Brasil. Este Brasil rural é responsável por tudo o que está acontecendo de bom à nação. A crise urbana do passado foi resultado de uma crise agrária e o país agora reposiciona o foco para os pequenos municípios², assinalou o delegado do MDA na Bahia, Wellington Hassegawa.

De acordo com os números expostos pela Fetag e pelo MDA, das 129 milhões de sacas de café que o mundo produziu em 2009, 96 milhões foram provenientes da agricultura familiar. Cerca de 25% do café brasileiro também vem de pequenas propriedades. Na Bahia 24 mil fazendas de mini e pequenos cafeicultores respondem pela produção de 88% do café produzido no estado. Despreparados

A seca, segundo os palestrantes, ³pegou o cafeicultor despreparado², e, se eles dispusessem de mais tecnologia, assistência técnica e acesso ao crédito, os efeitos devastadores da estiagem poderiam ter sido menores. Cláudio Bastos afirma que, de uma maneira geral, os custos de produção do café hoje empatam com a renda, e é preciso que haja uma política de preço mínimo para o café.

³Estamos em permanente diálogo com os governos Estadual e Federal, e vamos entregar no próximo dia 20, em Pernambuco, a nossa pauta para esta situação emergencial, defendendo a anistia das dívidas com as instituições de crédito para quem perdeu 100% da produção², declarou.

Os palestrantes defenderam ainda o investimento na melhoria da qualidade do café da agricultura familiar, com instituição de indicação geográfica de origem e fomento ao consumo justo e solidário. Além disso, trataram de aperfeiçoamento do modelo de sistema agroflorestal.

 

Mulheres

Lembradas em diversos momentos em virtude de março ser o Mês da Mulher, as agricultoras familiares marcaram presença na plateia do fórum. A presidente da Cooperativa de Produtores Orgânicos da Chapada Diamantina (Cooperbio), Brígida Salgado, reivindicou a reestruturação da EBDA. ²A assistência técnica para a agricultura familiar e assentamentos tem de ser pública, e este modelo funciona em outros estados. Vamos chamar a Assocafé para defender conosco este direito², afirmou. Ela relatou as dificuldades de se manter como produtora de café orgânico,

A agricultora Ana Vitória Almeida de Aguiar, de 60 anos, viajou do município de Boa Nova para Salvador para participar do evento. Ela planta dois hectares de café e não colheu praticamente nada. ³O pouco que veio, foi de péssima qualidade², lamenta. Em sua propriedade, também cultiva feijão, milho e hortaliças e o que colheu foi graças ao pequeno sistema de irrigação que tem instalado.  ³Esse evento foi maravilhoso. Estou assistindo todas as palestras desde o primeiro dia, e tem muita informação importante², disse sobre o Agrocafé.

O Agrocafé 2013 contabilizou 1000 participantes e foi uma realização da Associação de Produtores de Café da Bahia ­ Assocafé, Federação da Agricultura do Estado da Bahia ­ Faeb, e Centro do Comércio de Café da Bahia.