26/03/2019 - 13:22
Quinze mil quilômetros separam o Brasil da Índia, o equivalente a 30 vezes a distância entre Rio de Janeiro e São Paulo ou quatro viagens do Oiapoque ao Chuí. Seria pouquíssimo provável, portanto, que um animal que vive no país asiático procriasse com outro em terras brasileiras. Mais improvável ainda, se nenhum deles saísse de sua nação de origem. Mas
é exatamente o que pesquisadores da Embrapa estão fazendo com búfalos da Índia e do Pará. Na primeira semana deste ano, os zootecnistas Guilherme Minssen, José Otávio Lemos e Ribamar Marques embarcaram para Nova Delhi, com a missão de comprar sêmen de búfalos. A viagem, que durou 10 dias e incluiu visitas a quinze fazendas e onze institutos de pesquisa em três cidades idianas, faz parte do Programa de Melhoramento Genético de Búfalos com Inovação (Promebull), executado pela Embrapa Amazônia Oriental, para o Pará.
Com cerca de 600 mil cabeças de búfalos, o Estado possui a maior população do animal no Brasil, tem grande tradição em produção familiar e transforma todo o leite produzido em queijo, dos tipos requeijão do Marajó e manteiga. Por tudo isso, o Pará foi escolhido para servir de laboratório ao projeto, que abrangerá regiões do Marajó e do Baixo Amazonas, além de áreas do nordeste e sudeste paraenses. “Nosso objetivo é, com base na introdução do sêmen dos búfalos indianos, que é de altíssima qualidade, promover o melhoramento genético dos nossos animais”, diz Ribamar Marques, gestor do Promebull. Realizado em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) e com o Governo do Pará, o Promebull tem quatro grandes focos: boas práticas de manejo animal, manejo alimentar e nutricional, manejo sanitário e melhoramento genético. Mas o maior objetivo do programa é a garantia de material genético superior no rebanho de búfalos. É aí que entra a viagem dos pesquisadores à Índia.
FOCO NA PRODUÇÃO Da Ásia, os especialistas brasileiros trouxeram 3 mil doses de sêmen de bubalinos, a um custo médio de R$ 30 por dose, o que dá um gasto total por volta dos R$ 90 mil. No Pará, todas as ações do projeto serão realizadas em áreas de produtores previamente selecionados. “Após a escolha de animais de qualidade superior nos rebanhos paraenses, serão utilizadas biotécnicas de inseminação artificial, para garantir uma linhagem de búfalos melhorados geneticamente”, explica Marques. Outra meta do projeto é o aumento da produtividade do rebanho bubalino do Pará. Atualmente, cada búfala produz, em média, 4,4 litros de leite por dia. “Pretendemos dobrar essa quantidade, ultrapassando os 8 litros por dia, em menos de 5 anos”, destaca o pesquisador da Embrapa.
Segundo ele, esse objetivo será alcançado com o uso do sêmen dos animais indianos. Ao levar as fêmeas a gerar filhotes mais vigorosos, o processo cria um círculo virtuoso, já que búfalos mais fortes seguirão gerando filhotes de linhagem superior, tanto machos quanto fêmeas. “Com isso, podemos ter um aumento de mais de 80% na produção de carne e leite”, diz Marques, destacando que a pecuária bubalina no Brasil rende cerca de R$ 20 bilhões ao ano, dos quais R$ 12 bilhões (60%) saem
dos Estados do Pará e Amapá.
Somando todos os benefícios que o uso do sêmen indiano pode trazer ao rebanho paraense – inclusive a exportação de sêmen -, o pesquisador calcula um ganho de até 100% sobre os valores atuais. “Estamos diante do maior programa de melhoramento genético já registrado na pecuária de búfalos do País”.