Foi na Segunda Guerra Mundial, nos laboratórios da Marinha e do Exército americano, que imensos computadores nasceram para calcular a trajetória de projéteis disparados por armas de fogo. Mas, de 1945 para cá, o computador deixou de ser associado à guerra. A maior parte deles se transformou em máquinas leves, cada vez menores e cada vez mais integradas à vida cotidiana das pessoas. Daquela época em diante, somente as Forças Armadas continuaram com os equipamentos pesados, os chamados computadores robustecidos, que com o tempo também foram incorporados ao trabalho da polícia e de algumas áreas da engenharia. Agora, os fabricantes dessas máquinas estão prontos para  mais uma tacada: eles querem irpara o campo, não o de guerra, mas o de cultivo de grãos e cereais. “O agronegócio é a nossa nova fronteira”, diz João Simões, gerente de operação comercial da japonesa Panasonic para a linha toughbook (em inglês, computador resistente) no Brasil. “Queremos cravar a tecnologia nas lavouras do País.”

A Panasonic, com sede em Osaka e receita de US$ 100 bilhões por ano, é a primeira empresa do setor a apostar no agronegócio brasileiro como um cliente potencial para os seus computadores robustecidos. Há outras marcas desse tipo de equipamento no mercado, entre elas a americana Dell e sua compatriota Toshiba, mas nenhuma havia até agora se posicionado no mercado rural. Os equipamentos que a Panasonic quer levar para o campo resistem a quedas de quase dois metros de altura, trepidação, poeira e chuva, permitem a visualização na tela mesmo em dias de muito sol e podem funcionar sob temperaturas extremas, com variações que vão de menos 50 graus a mais de 120 graus centígrados. Além disso, eles têm alta mobilidade com Global Positioning System (GPS), conexões bluetooth, wi-fi e wireless 3G. “Esses computadores podem ajudar o homem do campo a ser mais eficiente no controle da lavoura e na criação de animais, um setor cada vez mais conectado”, diz Simões.

Os computadores robustecidos são fabricados nos formatos de notebooks e tablets, e podem custar entre R$ 7 mil e R$ 22 mil. No caso da Panasonic, eles são montados na unidade de Kobe, cidade da província de Hyogo, importante centro econômico do Japão, e exportados para o mundo todo. Os Estados Unidos são o mercado que mais demanda esse tipo de máquina. “Temos 75% do mercado de computadores robustecidos, nos Estados Unidos”, diz Simões. Segundo ele, o agronegócio brasileiro já representa 10% do volume de vendas da Panasonic, mas até agora foram vendidos apenas equipamentos de uso em ambiente interno, para fabricantes de insumos e implementos agrícolas.

O setor mais interessado na expansão do uso de computadores no campo é o de tecnologia da informação (TI). Gigantes como a alemã SAP e a brasileira Totvs, e empresas de médio porte, como a americana Neoris e a também brasileira Bisalc, estão de olho nesse mercado. Segundo Sidnei de Sicco, diretor da Biosalc, de Ribeirão Preto (SP), a empresa oferece há uma década soluções de TI para empresas como a Vale, no setor de biodiesel, Cargill, Bunge e Agropalma, do Pará. “A Agropalma, por exemplo, gerencia 107 mil hectares de terras com cultivo de palmeiras para biodiesel”, diz De Sicco. “Se não fosse a TI, seria muito difícil ligar toda essa área à indústria de refino, aos laboratórios e ao terminal de exportação.”

O mercado de TI no Brasil movimentou US$ 102 bilhões no ano passado, um crescimento de 11,3% em relação a 2010, segundo dados da americana International Data Group (IDG), empresa especializada em mídia, pesquisas sobre TI e internet. Não há, porém, um estudo que mostre qual é a participação do agronegócio nesse universo. Frederico Vilar, presidente da Neoris no Brasil, acredita que hoje os serviços prestados no campo estejam caminhando para 10% das receitas totais de TI, basicamente concentradas na indústria sucroalcoleira, nas tradings de grãos e empresas de logística. “Por isso, o setor agrícola tem muito que se modernizar, expandindo a TI para toda a cadeia produtiva”, diz Vilar. “Esperamos crescer 30% ao ano, a partir de 2013”, afirma. No ano passado, a receita global da Neoris foi de US$ 360 milhões.

Gilsinei Hansen, diretor de segmentos da Totvs, que há duas décadas investe em softwares especializados na agroindústria, discorda em parte de Vilar. “O mercado de TI para o campo, no Brasil, é um dos mais avançados do mundo”, diz. “Mas há, sim, um gargalo que  precisa se modernizar.”No País, são 4,8 milhões de propriedades rurais com inúmeras culturas, desde pequenos produtores até grandes empreendimentos agroindustriais e energéticos, além das cooperativas. “Por causa dessa diversidade no campo, ainda há níveis de maturidade na aplicação de TI muito diferentes.” Para ele, o principal desafio é atender e dar suporte aos clientes nas fronteiras agrícolas. “As distâncias são grandes demais e há falhas de infraestrutura e de telecomunicações”, afirma Hansen.

Cláudio Lot, gerente de desenvolvimento de agronegócios na SAP, empresa que está no Brasil há 16 anos e em 2007 começou a definir estratégias de atuação no campo, acredita que o maior desafio é atuar em todas as frentes do agronegócio. “É quase impossível, principalmente da porteira para dentro”, afirma. Segundo ele, é por isso que a maior parte das empresas de desenvolvimento de softwares ainda está focada em aplicativos de soluções integradas a partir da chegada da commodity, por exemplo, a uma trading até a sua liquidação através de contrato. “Mas o País é, de fato, a bola da vez para a TI”, diz Lot. De acordo com ele, as oportunidades estão nos sistemas de controle de custos aliados à mobilidade no campo, entre elas a possibilidade de utilização dos equipamentos mais adaptados, como os computadores robustecidos. “Cada vez mais serão necessários aplicativos que se integram, estando perto ou não das fábricas”, diz Lot.