“Somente o marketing rural será capaz de limpar essa forma caolha de a sociedade enxergar a roça”

Xico Graziano

Ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

Época de eleição vende esperança. O que esperam do futuro os agricultores brasileiros? Em minha modesta opinião, dentre tantos problemas a serem resolvidos, os produtores rurais sonham um dia serem devidamente valorizados pela sociedade. Querem, simplesmente, respeito.

Desde quando se iniciou o forte processo de industrialização de nosso País, há 50 anos, começou a crescer um sentimento de descaso para com o campo. Isso chateia demais o homem do interior. Chega a ser curioso. Um país que era essencialmente rural, de repente despreza seu passado e passa a enxergar os produtores rurais com desdém e preconceito. Uma tragédia do pensamento.

Tenho procurado há tempos entender as razões desse estranho fenômeno ideológico. Na rapidez do processo de urbanização reside um motivo. Lá, nas nações europeias, durante séculos ocorreu a transição entre o mundo rural e o urbano. Houve tempo para a acomodação social. Por aqui, ao contrário, tudo se passou num grande atropelo. O êxodo rural, avassalador, entupiu as cidades e esvaziou a roça em uma geração. Depressa demais.

Rápido e com causas distintas. Séculos de latifúndio colonial mantiveram a população brasileira excluída da riqueza gerada pela cana-de-açúcar, pelo gado, pela borracha, pelo tabaco, pelo cacau e, depois, pelo café. Coisas da história. Culturalmente, quem se mudou e progrediu na cidade passou a enxergar os agricultores como os que ficaram para trás, gerando uma oposição entre o moderno e o atrasado. O agricultor virou caipira.

Recentemente, certos produtores rurais acabaram, infelizmente, contribuindo para criar essa imagem deformada. A oligarquia agrária resistiu para libertar os escravos, e depois que o fez, continuou tratando seus trabalhadores como servos, negando-lhes a cidadania ainda por muito tempo. Alguns proprietários rurais, sem perceber os novos valores ambientais da sociedade, continuaram desmatando suas fazendas e queimando florestas como nos tempos de outrora. Não pode.

Restou um terrível desafio a ser enfrentado pela agropecuária: sua imagem negativa na opinião pública urbana. Isso precisa mudar, e há base para tanto. Existe gente nova, bem preparada, organizada, disposta a comandar o rumo; tecnologia boa, amiga da natureza, sustentável, como o plantio direto; elevada produtividade, gado melhorado, pastagem bem cuidada. Melhorou demais a qualidade da produção rural.

Cabe agora investir na comunicação. Somente o marketing rural será capaz de limpar essa forma caolha de a sociedade enxergar a roça. Precisa mudar o discurso ruralista, falar com simpatia para a opinião pública, uma conversa mais moderna, positiva, antenada com os valores jovens do mundo. “Quem não se comunica se estrumbica”, dizia Chacrinha.

 

 

COMUNICAÇÃO: mudando o olhar urbano sobre o campo

Mudar a imagem facilita melhorar a política agrícola. Será feliz o futuro se a renda da agropecuária se estabilizar, se os preços se equilibrarem, os juros caírem, o câmbio despencar, o custo diminuir. Um governo que não atrapalhe tanto, regras claras sobre o emprego, código florestal resolvido. Por fim, já pensaram acordar em 2011, governo novo, e escutar na televisão que os invasores de terra desapareceram? Vai parecer um sonho.

Se, todavia, em vez de sonhar, os agricultores se organizarem e, politicamente, lutarem para conseguir impor sua agenda, ela vira realidade. Braços cruzados e choramingos tolos não levam a nada. Democracia exige participação. Agricultores, à luta!