Ainda que a safra de cana-de-açúcar em 2024 tenha registrado queda, a produção em valores teve aumento de 3% em 2024, alcançando R$ 105,0 bilhões. Com isso, a cultura ultrapassou o milho e ocupa agora segunda posição no ranking de valor de produção agrícola, conforme divulgação feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na quinta-feira, 11.

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O valor de produção das principais culturas agrícolas do país em 2024 atingiu R$ 783,2 bilhões, um recuo de 3,9% em relação a 2023, mostrou o levantamento do IBGE.

No caso da cana-de-açúcar, a cultura teve queda na produtividade em função do clima e ocorrências de queimadas em áreas de canaviais. A produção alcançou um total de 759,7 milhões de toneladas, queda de 2,9% em relação ao ciclo anterior. Já o aumento na mesma proporção no valor de produção foi, principalmente, por conta da valorização do preço do etanol e o consequente repasse às usinas de cana.

Winicius Wagner, supervisor da pesquisa, diz que a maior demanda interna por etanol absorveu boa parte do processamento da cana-de-açúcar, em busca de maior rentabilidade, mesmo com o aumento da concorrência do etanol à base de milho.

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As áreas destinadas aos canaviais, que vinham reduzindo na última década, voltaram a registrar expansão em 2023 e 2024, superando 10,1 milhões de hectares. Destes, 66% se concentram na região Sudeste. O estado de São Paulo, mesmo com queda de 4,7% no volume produzido, respondeu sozinho por 53,6% do valor de produção nacional, com um total de R$ 56,3 bilhões, seguido por Minas Gerais, com R$ 12,2 bilhões.

A região Centro-Oeste registrou aumento de 3,5% da área plantada, totalizando 1,9 milhão de hectares, que produziram 153,2 milhões de toneladas, aumentando sua participação para 20,2% do total nacional. Entre os estados, os destaques são Goiás e Mato Grosso do Sul, que aparecem na 3ª e 4ª posições entre os maiores produtores do país, respectivamente.

Veja ranking das culturas agrícolas por valor de produção

(em bilhões)

  • Soja (em grão): R$ 260,2
  • Cana-de-açúcar: R$ 104,9
  • Milho (em grão): R$ 88,1
  • Café (em grão): R$ 69,2
  • Algodão (herbáceo): R$ 31,3
  • Laranja: R$ 28,5
  • Arroz: R$ 22,3
  • Mandioca: R$ 8,1
  • Banana: R$ 6,1
  • Cacau: R$ 5,3
  • Outros: R$ 129

Soja lidera

A soja se manteve como maior destaque entre os produtos agrícolas levantados na pesquisa, respondendo por 33,2% do valor da produção total. Mesmo com o registro de queda de 19,3% nas receitas com as exportações do grão, a soja consolidou-se como o produto agrícola que mais gerou divisas ao país. O maior parceiro comercial continua sendo a China, destino de 73,0% na soja exportada pelo Brasil em 2024.

O Mato Grosso, com decréscimo de 13,6% no volume colhido no ano, segue sendo o maior produtor nacional de soja, com 38,4 milhões de toneladas. Esse volume gerou R$ 63,8 bilhões, o que representa uma queda anual de 35,5% no valor de produção da oleaginosa. Entre os municípios, São Desidério (BA) lidera a produção de soja, com 2,1 milhões de toneladas e R$ 3,7 bilhões de valor da produção.

No comércio internacional, com a menor oferta do produto no mercado e o menor valor da commodity, as exportações brasileiras de soja apresentaram recuo de 3,0% no volume exportado, totalizando 98,8 milhões de toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Milho: redução em área, produtividade e preço

A soja e o milho representam quase 88,7% da produção de grãos, e foram os cultivos mais afetados pelas questões climáticas e queda de preços.

A área plantada do país, considerando todas as culturas pesquisadas, totalizou 97,3 milhões de hectares em 2024. Isso representa ampliação de 1,1 milhão de hectares, ou seja, 1,2% superior à registrada no ano anterior, mantendo o crescimento observado ao longo dos últimos anos.

O milho respondeu por 20,4% do valor de produção total de cereais, leguminosas e oleaginosas no país no ano passado, após uma safra de números abaixo do esperado. Houve redução da área plantada, da produtividade média das lavouras e dos preços da commodity, o que resultou em queda de 12,9% na quantidade produzida, totalizando 115,0 milhões de toneladas colhidas.

Segundo o IBGE, devido à safra recorde de 2023 e aos elevados estoques, as cotações da commodity permaneceram em patamares considerados baixos ao longo de 2024.

“Esses fatores, associados à queda na produção, resultaram em uma retração de 13,5% no valor de produção, que somou R$ 88,1 bilhões. A cotação da commodity, que já vinha caindo desde 2023, desestimulou os produtores a investirem nas áreas de cultivo, substituindo por culturas mais rentáveis e de menor risco, como a soja e o algodão”, explica Wagner.

Houve redução de 4,9% da área total de milho plantada no país, que somou 21,4 milhões de hectares, e retração de 8,2% no rendimento médio, por causa do clima adverso para o desenvolvimento da primeira safra em Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Piauí e Bahia, e na segunda safra no Paraná e em Goiás.

Mesmo com uma redução de 5,6% na produção anual, Mato Grosso ainda responde por 41,2% da produção nacional de milho. O valor de produção no estado teve queda de 1%, alcançando R$ 29,2 bilhões. Por sua vez, o Paraná, segundo maior produtor de milho, com 15,5 milhões de toneladas, teve queda de 13,3% na produção e retração de 9,5% no valor de produção, gerando R$ 13,6 bilhões.

Entre os municípios, Sorriso, no Mato Grosso, registrou novamente o maior volume de milho produzido no país, com 3,7 milhões de toneladas, que geraram R$ 2,4 bilhões, seguido por Nova Ubiratã, no mesmo estado, com 2,4 milhões de toneladas e R$ 1,5 bilhão gerado.

Como consequência da quebra na produção nacional, em 2024, houve recuo dos números da exportação brasileira de milho, que, segundo dados da Secex, alcançou 39,8 milhões de toneladas, uma redução de 28,8% na comparação com o período anterior. Com isto, o Brasil perdeu para os Estados Unidos a posição de maior exportador mundial do produto.

Já entre os produtos que vêm ganhando mais espaço no campo, a soja se destacou com o acréscimo de 1,8 milhão de hectares da área cultivada, seguida pelo algodão, com aumento de 280,8 mil hectares.