O cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP), prevê uma disputa municipal entre quem defende e quem se opõe ao presidente Jair Bolsonaro destaca o Estadão. Em função da pandemia do coronavírus, a tendência apontada pelo pesquisador é que temas globais, como desigualdade social e crise financeira, tenham tanto apelo quanto questões locais.

Qual será o impacto dos debates nacionais na eleição 2020?

Eleições municipais têm muito a ver com o poder local pela proximidade com as pessoas. Porém, essa eleição é excepcional por ocorrer no contexto da pandemia, que afetou o País de maneira severa, tanto pelo número de mortes, mas também pelo desemprego, perda de renda, mudanças culturais. A pandemia chamou a atenção do cidadão para esses temas e a importância do Estado. Essa percepção desloca o eleitor do contexto local para o nacional. No radar do eleitor estão temas como mobilidade urbana e saúde, mas também desigualdades sociais e raciais.

Há também uma forte influência da polarização política.

Sim, é a outra face nacional que estará em debate. Isso já fica claro em São Paulo com os movimentos do presidente Jair Bolsonaro para apoiar Celso Russomanno, por exemplo, e, do outro lado, o posicionamento de Bruno Covas como centro moderado, se opondo à candidatura ligada ao presidente. A aliança de Russomanno com o PTB confirma esta hipótese de oposição entre candidatos apoiadores e contra Bolsonaro.

Que espaços ocuparão as demais candidaturas ligadas à direita, como Joice Hasselmann?

Essa eleição vai desempenhar um papel de reorganizar o sistema partidário, que se desorganizou em 2018. O ‘PT versus PSDB’ desapareceu e os partidos que eram fortes com esses dois, como MDB e DEM, também viram suas bancadas diminuírem. Parte dos bolsonaristas que viu as críticas da Joice a Bolsonaro ainda vai vê-la como candidata do PSL, partido que elegeu o presidente. Não sei se ela vai conseguir fazer a distinção.

O PT se mantém isolado na disputa pela Prefeitura e vê o crescimento da adesão à chapa do PSOL, enquanto o PSB se alia com o PDT. O que indica a divisão da esquerda?

Indica uma crise política muito séria. Mostra que a esquerda tem uma dificuldade de se unificar mesmo em situações que são uma ameaça à própria esquerda. Mesmo no contexto que pediria aliança, há uma divisão maior. O PT demonstra dificuldade em buscar uma ‘frente ampla’ e se mantém isolado, insiste desde 2018 numa política voltada para salvaguardar a posição de seu líder máximo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De qualquer forma, vejo essas alternativas à esquerda com menos expressão do que a polarização Russomanno x Covas.

O que eleição municipal pode nos adiantar sobre 2022?

Aquilo que a pandemia nos trouxe com mais clareza. O tema do desemprego, das desigualdades sociais, raciais. Os eleitores vão carregar essa realidade. Não dá para o candidato falar só das questões locais. Ele vai ter que fazer referência à crise econômica e social que o País está vivendo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.