Iguais: aos três meses, os clones da raça jersey são exemplos do sucesso da técnica no Brasil

Os três bezerros da foto acima são exemplares da raça jersey, nascidos há três meses. Ao olhar para os bichinhos, pode-se dizer sem dúvida nenhuma, a exemplo do que diz o ditado popular: “.” Entre eles não há diferenças de manchas ou marcas. A explicação para tamanha semelhança é simples: eles são cópias perfeitas de outro animal. Resumindo: são clones. Em 1997, quem assistiu ao nascimento da ovelha Dolly, o primeiro clone do mundo de um mamífero adulto, não imaginaria que essa tecnologia seria desenvolvida no Brasil com tanta eficiência.

A responsável por essa façanha é a In Vitro, empresa de fertilização in vitro (FIV) que em 2005, por meio de uma joint venture, adquiriu por R$ 1 milhão a Cyagra Brasil, subsidiária de uma das maiores empresas de clonagem do mundo, a Cyagra Inc. Por trás dessa iniciativa está Antonio Carlos Porto Filho, sócio do banco BTG Pactual e tradicional pecuarista, criador das raças gir, aberdeen e wagyu, cuja picanha pode custar R$ 200.

Conhecido no meio rural como “Totó”, ele e seus outros seis sócios na empresa começaram há cinco anos o processo de multiplicação da elite dos rebanhos em todo o Brasil. “Este é o maior projeto de clonagem já realizado no País, para não dizer no mundo”, comemora Porto.

High tech: Henrique e Andréa contam que muitos países vêm buscar aqui a tecnologia da clonagem

De fato, este é um segmento de mercado que começa a crescer no Brasil e que oferece muitas vantagens aos pecuaristas. “A principal delas é a possibilidade de conservar as melhores genéticas do criatório por gerações e multiplicálas”, explica José Henrique Fortes, veterinário e um dos sócios de Porto. Além disso, o custo baixo é um atrativo a mais para quem pretende adquirir uma “cópia”, algo em torno de R$ 50 mil para dois animais. Até pouco tempo atrás os clones, mesmo que fossem cópias idênticas do “original”, não eram registrados porque havia uma série de dúvidas sobre como proceder com esses animais e questionamentos jurídicos acerca dos direitos de comercialização do material genético.

Ocorre que, no ano passado, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) regularizou esse comércio e os pedidos literalmente disparam na In Vitro. Desde então, a produção, que girava em torno de 40 animais ao ano, não para de crescer. “Neste ano já temos 50 clones em fase de gestação.” Só em 2009 a clonagem rendeu à empresa R$ 1 milhão, com 25 exemplares das raças jersey, gir e nelore, enquanto no mesmo período de 2008 foram comercializados sete clones, que renderam R$ 400 mil. Ainda neste ano a empresa planeja iniciar também a produção de clones de ovinos, caprinos e equinos. “Com isso, esperamos um crescimento de 20% em ambas as frentes, FIV e clonagem”, explica Fortes.

Ousadia: para Porto, projeto de clones da In Vitro por meio da Cyagra é um dos maiores já realizados no mundo

Para alcançar esses resultados em um mercado ainda novo, foram investidos R$ 2 milhões para a fundação da In Vitro em 2002 e muita pesquisa. São 11 laboratórios, oito no Brasil, um na Colômbia, no Panamá e África do Sul, mas só a unidade de Mogi Mirim está apta para a clonagem.

R$ 50 mil É o custo médio de uma clonagem, usada para preservar linhagens

O primeiro animal a ser clonado pela Cyagra no Brasil foi o touro Bandido, que ficou famoso ao participar de uma novela. “Fizemos cinco exemplares dele em 2005 e todos foram vendidos”, conta Andréa Basso, especialista em reprodução e sócia da In Vitro. Com esse trabalho e a receptividade cada vez maior dos pecuaristas, o cenário é positivo. “Muitos países vêm buscar aqui a tecnologia para produzir lá fora”, conta Fortes. Para Porto, a disseminação do melhoramento genético na cadeia produtiva vai surtir efeitos na qualidade da carne, no menor custo de produtividade e maior rendimento. “Com isso saem ganhando do produtor ao consumidor final.”