E m meados de agosto, depois de quase duas semanas no mar, um navio ancorou no porto de Santos, realizando um feito inédito. Pela primeira vez no País, uma viagem de cabotagem entre as regiões Norte e Sudeste transportou uma carga de óleo de palma, ou óleo de dendê, como é popularmente conhecido o produto extraído da palmeira “Elaeis guineensis”. Inédito também foi o destino da carga. Desde a ancoragem do navio, o óleo desembarcado vem sendo transferido por caminhões para o município de Limeira, no interior paulista, onde foi inaugurada no final de julho a primeira refinaria de óleo de palma fora da maior região produtora do País, o Estado do Pará, onde estão 170 mil hectares cultivados, 81% da área nacional. “A refinaria é a primeira do País e a quinta do mundo que faz o fracionamento contínuo de óleo de palma”, diz Marcello Amaral Brito, presidente da Agropalma, um método mais eficaz e moderno de processamento da polpa do fruto. “Da mesma forma será feita a coleta da vitamina E, que antes se perdia na industrialização.”

Por trás da construção da refinaria está o grupo Alfa, um conglomerado com patrimônio estimado em R$ 8,5 bilhões, que atua no mercado financeiro, no agronegócio, na indústria de alimentos, em materiais de construção, comunicação e hotéis de luxo, comandado pelo empresário Aloysio de Andrade Faria, de 95 anos. Apenas no setor de palma Faria investiu R$ 1,3 bilhão em três décadas, a maior parte no Estado do Pará. São 106 mil hectares de terras, dos quais 50 mil hectares são cultivados com palma, além de seis usinas de extração de óleo, duas refinarias e um terminal portuário. “Investimos R$ 550 milhões nos últimos três anos e estamos mudando o mapa da palma no País”, diz Brito. Desse total, R$ 260 milhões serviram para montar a refinaria de Limeira. O projeto começou a ser analisado há nove anos, foi aprovado por Faria há quatro anos e começou a sair do papel em 2014.


Visão de futuro: em três décadas, o banqueiro Aloysio Faria investiu R$ 1,3 bilhão na cadeia produtiva da palma

Para o presidente do banco Alfa, Rubens Bution, o investimento se justifica. “O investimento da Agropalma no projeto significa 20% de seu capital. É muito, mas não pensando no agora e sim nas próximas décadas”, afirma ele. “A refinaria foi planejada para duplicar sua capacidade e é nisso que o grupo está de olho.” A Agropalma vai processar em Limeira 144 mil toneladas anuais do óleo vegetal. Em Belém, onde está a outra refinaria, são mais 110 mil.

Mas ainda é pouco, de acordo com Bution, e ele sabe do que está falando. O Brasil é o décimo maior produtor mundial de óleo de palma. Atualmente, produz 320 mil toneladas por ano, extraído da polpa da fruta, mas consome 590 mil toneladas. Se levado em conta o palmiste, que é o óleo extraído da amêndoa da fruta, a demanda total sobe para 820 mil toneladas anuais. Quase toda a produção, cerca de 97%, vai para a indústria de alimentos, como massas e doces. Para suprir toda essa demanda, o País deveria aumentar a sua área plantada em 117 mil hectares, além dos atuais 210 mil hectares já cultivados. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês), a produção mundial de óleo de palma é de 61,8 milhões de toneladas, em 17 milhões de hectares. A Indonésia e a Malásia são as maiores produtoras, com 33 milhões de toneladas e 20,5 milhões, respectivamente.

A Agropalma é a maior das nove empresas de porte que atuam no País, seguida pela Biopalma, uma sociedade da Vale com o Grupo MSP, e a Mejer Agroflorestal, de capital nacional, mas ambas com atuação no mercado a partir da capital Belém. “O projeto da Agropalma em colocar uma refinaria em São Paulo vai mudar a nossa estratégia logística”, diz Brito. “Com a produção só no Pará, quase todos os nossos clientes estavam a cerca de 2,5 mil quilômetros da empresa. Agora, a maiorparte está em um raio de 500 quilômetros.”

A escolha de Limeira foi estratégica, depois da análise de 42 municípios candidatos a receber a refinaria. No seu entorno estão 65% do consumo nacional do óleo vegetal, equivalente a 530 mil toneladas anuais. Brito diz que a previsão para a Agropalma é faturar R$ 750 milhões neste ano. Para 2017, a expectativa é que a nova refinaria acrescente uma receita de R$ 390 milhões, fechando o ano com R$ 1,14 bilhão.  “Vamos, também, gerar muitos impostos”, diz ele. Somente de Imposto sobre o Comércio de Mercadorias e Serviços (ICMS), São Paulo deve receber R$ 150 milhões por ano. Não por acaso, o prefeito do município, Paulo Cezar Junqueira Hadich, é o mais novo garoto propaganda dos benefícios de se investir no campo. “Nós também estamos conectados com o agronegócio”, diz Hadich. “Estamos colhendo o resultado do que significa plantar e isso é só o começo.”