01/03/2011 - 0:00
Sedutora, Xamego, Chica Boa, Tentação, Escandalosa, Gostosona, Tarada e Baiana Boa são alguns dos rótulos de cachaça, nomeados em homenagem às mulheres, responsáveis por suas dores de cotovelo e principal motivo alegado dos apreciadores da aguardente para justificar sua bebedeira. Em outros casos, os rótulos ganhavam a linguagem popular, como Comigo Ninguém Pode, Vê Se Te Agrada, Nem Que Morra, Eu Quero Sassaricá, Pingo De Ouro, Alegria De Pobre e Tem Nego Bebo Aí? Essas e outras curiosidades fazem parte da mostra Carinhosamente Engarrafada, inaugurada em fevereiro e que vai até 10 de abril no Instituto Tomie Ohtake, na capital paulista. A “caninha”, a “branquinha”, a “pinga”, não importa o apelido, mereceu entrar para o seleto grupo de temas que fazem parte do ciclo de exposições Anônimos e Artistas. Os rótulos expostos pertencem ao curador da mostra, o designer gráfico e pesquisador carioca Egeu Laus, e à Fundação Joaquim Nabuco, do Recife (PE), um dos mais importantes centros de estudos sociais dedicados à cultura nordestina. O objetivo de Carinhosamente Engarrafada é retratar o desenvolvimento da memória gráfica brasileira. “Só para se ter ideia, existem 40 mil produtores de cachaça no Brasil”, diz Laus. “Imagine a quantidade de produção gráfica que foi e é desenvolvida.”
A mostra reúne 600 rótulos com sete temas: humor, figuras indígenas, paisagens, santos, animais, mulheres e lugares. A maioria delas foi produzida entre as décadas de 1940 e 1950, mas também inclui marcas atuais como a Velho Barreiro e a Cachaça 51. De rótulos artesanais aos industriais, revela a evolução dos designers de todas as regiões do País nesse período.
De acordo com Laus, seu o trabalho começou há mais de dez anos, com a exposição de antigas capas de disco. Depois, outros temas ganharam espaço, entre eles a da mais popular bebida brasileira. A cachaça atravessou diferentes períodos históricos, circulou em todos os meios sociais, caiu no gosto do homem urbano ao trabalhador rural, do miserável ao bon vivant. “Na época anterior à República, a bebida era considerada nobre. Mais aí chegou o uísque e a cachaça passou a ser consumida pelas classes mais baixas”, diz. “Atualmente, a bebida vem recebendo a devida importância e novamente conquistando o paladar da classe alta. Até os ingleses se renderam ao produto.”
“Antes da República, a cachaça era considerada nobre. Hoje, volta a conquistar o paladar da classe alta”
EGEU LAUS, designer gráfico e curador da mostra
Com um olhar mais atento para a mostra observa-se que mesmo em cidades muito distantes os desenhos apresentam semelhanças de temas, traços e cores. Muitas vezes, o rótulo era desenvolvido pelo próprio dono do alambique. Em outras, a gráfica desenvolvia e apresentava o desenho final já impresso. “Os rótulos mais antigos, datados da década de 1940, eram realizados por meio de litografia, ou seja, impressos sobre pedras calcárias”, diz Laus.
CARINHOSAMENTE ENGARRAFADA
Terça a domingo, das 11h às 20h.
Até 10 de abril – grátis
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201 – São Paulo – SP
www.institutotomieohtake.org.br