O mito do hormônio na carne e frango, há muitos anos, tem sido veiculado e disseminado como se fosse uma verdade comprovada. Informações desencontradas sobre a presença desta substância no processo produtivo do frango lesam, não apenas toda a cadeia avícola, mas prejudicam a saúde da população, vítima de tamanha inconsistência.

Os mitos a respeito de itens da alimentação humana não são de hoje. A exemplo do antigo mito do colesterol presente no ovo, o mito do hormônio na carne de frango é mais uma inverdade que se difunde de forma rápida e nociva, confundindo a população. E o grande risco da disseminação de um dado tão alarmante é que a população pode mudar seus hábitos alimentares, afetando até mesmo suas condições de saúde.

O suposto efeito anabolizante do hormônio na carne de frango, além de absurdo, é ilegal e impraticável. E são quatro as principais evidências para que o mito caia por terra.

Em primeiro lugar, qualquer tipo de hormônio carece de um tempo de latência para sua atuação e resposta funcional em um organismo vivo. Geralmente, este tempo varia entre 60 e 90 dias. Atualmente, as aves são abatidas e processadas no período de 42 a 50 dias de idade. Não há nem mesmo tempo hábil para que os tais hormônios de que tanto se fala possam produzir qualquer efeito ou reação no corpo do frango, durante seu tão curto período de vida.

Outro aspecto importante é que o hormônio, por ser uma molécula de proteína, caso seja ingerido pelo animal, será quebrado em várias pequenas moléculas por seu aparelho digestivo. Isso acontece em função da atuação das enzimas
digestivas ali presentes, como parte do processo normal de digestão e absorção da ave. Assim sendo, o hormônio se degradaria e perderia sua característica física, o que descarta qualquer possibilidade de administração por via oral (pela ração ou água de bebida).

Um terceiro ponto a se considerar é que a substância tampouco poderia ser administrada de forma injetável, a mais comum para administração deste tipo de substância. Se considerarmos que esta indústria trabalha com populações
grandes de aves, que variam entre 30 e 150 mil aves por lote, chegamos a conclusão de que não há,  por razões práticas e operacionais, a mínima possibilidade de se injetar hormônios nos plantéis de frango.

Uma última razão, além das descritas acima, é que não há disponível no mercado mundial qualquer produto comercial com função hormonal para uso em avicultura.

Vale ainda esclarecer que o frango consumido hoje pelos brasileiros é fruto do intenso e importante trabalho  de melhoramento animal realizados pelas casas genéticas , através de intensos e sofisticados programas de seleção genética para garantir progressos constantes em performance e rendimento do frango, ano pós ano. O frango de hoje tem ótimo ganho de peso e conversão alimentar, ou seja, come menos a cada ano, para produzir a mesma quantidade de carne à mesma idade. O trabalho realizado com as aves pedigrees nos Estados Unidos e na Europa é continuado no Brasil, a fim de imprimir, todos os anos, ganhos progressivos e constantes, que são frutos de programas de pressão de seleção intensos e continuados há mais de 50 anos.

Assim, todos os anos, seleciona-se aves com maior capacidade de ganho de peso e melhor conversão alimentar, gerando um ganho médio de 50 gramas ao ano por ave, além da redução de 40 a 50 gramas no consumo de ração para cada frango que a indústria processa. Para se ter uma ideia, em 1960 se processava um frango com 90 dias de idade com um peso médio de 1,5 Kg. Atualmente, o frango é processado com os mesmos 1,5 Kg, aos 30 dias de idade. Em resumo, a cada ano, a ave é abatida para o mesmo peso com um dia a menos, tendo consumido 50 gramas de ração a menos.

Por todas as razões técnicas, científicas, práticas e econômicas aqui expostas, fica claro que o hormônio na carne de frango não passa de um mito que precisa ser derrubado. Por todas as suas propriedades organolépticas (sabor e textura) da carne de frango, somadas à qualidade em alto nível de proteína, fácil digestibilidade e baixo teor de gordura, a carne de frango, que hoje perde apenas para a suína no ranking das mais consumidas no mundo, deve alcançar o topo no período entre 2025 e 2030, passando a ser a proteína mais consumida em todo o planeta .

E se levarmos em conta o quanto o Brasil é referência na avicultura mundial, sendo o maior exportador de frango e acreditado pelos mais exigentes mercados e países, temos que seguir entregando a estes mercados, produtos de qualidade, sem lendas, mitos e empirismos! Sendo assim, é óbvio perceber que esta não é uma prática aceitável ou conveniente ao setor.