27/01/2015 - 10:37
Fechadas as contas de 2014, a indústria exportadora de proteína animal, proveniente de bovinos de corte, aves e suínos, espera por um crescimento de 4% nas exportações de 2015. No ano passado, o Brasil
vendeu ao exterior o equivalente a 6,1 milhões de toneladas de carne in natura congelada, industrializada, miúdos, tripas e ovos, arrecadando US$ 16,85 bilhões, segundo os levantamentos iniciais
das duas principais entidades que reúnem as empresas do setor, a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), para bovinos, e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), para
aves e suínos. Os números oficiais devem ser apresentados até o final deste mês. “Foi um ano muito bom para as exportações, batemos recorde novamente no faturamento de 2014, comparado a 2013, e vamos para um 2015 promissor”, diz Antônio Camardelli, presidente da Abiec. “Aumentamos a presença no mundo, mas ainda vamos avançar mais porque podemos dobrar as vendas para países nos quais já temos o mercado aberto”, afirma Francisco Turra, ex-ministro da Agricultura e presidente da ABPA.
Para o setor de proteína animal, as boas expectativas em relação ao que pode ocorrer neste ano estão baseadas em alguns mercados bem definidos, concentrados na Ásia, principalmente Hong
Kong e China, mais a Rússia, a despeito da crise econômica que atravessa o país do presidente Vladimir Putin. De acordo com Camardelli, em relação à carne bovina para a China, é esperado o
retorno de uma demanda que era crescente até 2012, e que foi interrompida após a identificação de um caso atípico do mal da vaca louca em um animal leiteiro no Paraná, no qual não foi
constatada manifestação clínica da doença. Em novembro passado, quando o líder chinês Xi Jinping esteve no Brasil em visita oficial, ocasião em que anunciou o fim do embargo, a expectativa era reiniciar o comércio de carne nos primeiros meses de 2015, com previsão de negócios da ordem de US$ 1,2 bilhão no ano.
A China atualmente se abastece de carne brasileira através de Hong Kong, porta de entrada no continente asiático. No ano passado, Hong Kong importou 370 mil toneladas por US$ 1,5 bilhão, superando a
Rússia, que adquiriu 305 mil toneladas, no valor de US$ 1,3 bilhão, no posto de cliente número 1 do Brasil. “Temos abastecido praticamente 50% da demanda desses dois mercados”, diz Camardelli. “E a China representa uma oportunidade de negócios da mesma grandeza, sem perder o espaço já conquistado em Hong Kong.” Em 2013, último dado disponível, com base no International Trade Centre (ITC) e no On Comtrade, órgão de estatísticas da Organização das Nações Unidas, os chineses compraram no mundo 315 mil toneladas de carne bovina. A Austrália foi o principal fornecedor, com 52%, seguida por Uruguai com 25% e Nova Zelândia com 12%. Do Brasil, em 2012, ano do embargo chinês, o país comprou apenas 17 mil toneladas de produtos bovinos por US$ 75 milhões, basicamente miúdos, como diafragma, medula, testículo, pulmões, tendões e ligamentos bovinos, e pouco volume de carne in natura. “O retorno do mercado chinês pode vir num patamar diferente, com produtos de valor agregado maior”, diz Camardelli. “A China deve importar cada vez mais carne in natura dos países produtores porque há um aumento constante do poder aquisitivo de sua população.” De acordo com um estudo do banco americano Goldman Sachs, a China poderá ter até 3/4 de sua população alçada à classe média entre 2015 e 2025. Isso significa que do 1,6 bilhão de habitantes previsto para essa data, a classe média deverá responder por 1,2 bilhão de pessoas, quatro vezes mais do que o contingente atual. “Não há como planejar o comércio mundial sem ter esse país no foco das estratégias”, diz Camardelli.
Os Estados Unidos também representam uma boa oportunidade de negócio para o Brasil de agora em diante, na importação de carne bovina in natura congelada. Os americanos são clientes do Brasil apenas para a carne industrializada, cozida e enlatada, que rendeu ao País, no ano passado, US$ 585 milhões, ante US$ 5,4 bilhões da in natura vendida para o restante do mundo. Embora o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) não tenha se pronunciado oficialmente a respeito dessa abertura que vem sendo estudada desde 2013, a Abiec recebeu extraoficialmente a informação de que a análise já está concluída e que até maio de 2015 deve ocorrer o anúncio da liberação. Assim como o Brasil, os americanos são grandes exportadores, mas também compram muita carne in natura no mundo, principalmente para o processamento de hambúrguer. Esse mercado, abastecido por Austrália, Canadá e Nova Zelândia, é de um milhão de toneladas por ano. “Estamos muito otimistas em relação aos americanos”, diz o presidente da Abiec.
É exatamente essa perspectiva da conquista de novos consumidores que vem orientando as ações da indústria frigorífica exportadora brasileira. Dos cerca de 140 países para os quais o Brasil exporta carne bovina, em cerca de 20 o volume foi superior a seis mil toneladas, no ano passado, com destaque para a Venezuela e os países da União Europeia, respectivamente terceiro e quarto maiores importadores. A Venezuela adquiriu 146 mil toneladas, por US$ 780 milhões, e os europeus, 122 mil toneladas, por US$ 840 milhões. Para o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex- Brasil), Mauricio Borges, as parcerias entre o órgão e as duas associações de exportadores têm sido fundamentais nesse processo. Para este ano, por exemplo, em relação à carne bovina estão
previstas ações em vários países, entre eles Taiwan, Indonésia, Japão, Tailândia, Myanmar, Marrocos, Coreia do Sul e Coreia do Norte. “São mercados ricos ou emergentes que podem fazer com que
as vendas do País avancem rapidamente”, diz Borges.
AVES E SUÍNOS – Segundo dados da ABPA, entre 2014 e 2023, a produção mundial de proteína animal deve sair do atual patamar de 458 milhões de toneladas de carne bovina, suína, aves, ovinos e peixes, para 543 milhões de toneladas. “São 85 milhões de toneladas a mais de carnes, um incremento de 19% na produção global”, diz Turra. Entre as proteínas, a produção de carne de aves é a que mais deve crescer. Serão necessários mais 28 milhões de toneladas adicionadas à atual produção de 110 milhões de toneladas ao ano, crescimento de 25%. De suínos, que também têm uma produção global na casa de 110 milhões, serão necessários mais 16,7 milhões de toneladas anuais, crescimento de 15%. Para comparação, o crescimento da produção mundial de carne bovina deve ser de 13% e a de peixes 17%. A carne ovina, que deve representar o menor volume, com apenas 3,7 milhões de toneladas adicionais, em percentual será o maior crescimento, na casa de 27%. A atual produção global é de 14,1 milhões de toneladas.
No caso da carne de frango, proteína em que o Brasil figura como maior exportador mundial com quatro milhões de toneladas vendidas no ano passado, por US$ 8,5 bilhões, o País poderia dobrar o volume apenas focando em mercados já abertos. “São mercados nos quais a carne brasileira é bem aceita e que depende agora de o Brasil se impor”, diz Turra. A Ásia, por exemplo, tem um consumo doméstico
de 26,9 milhões por ano e um mercado potencial de 33,9 milhões. O Brasil exporta para lá apenas 1,1 milhão de toneladas. Outro exemplo é o Oriente Médio, mercado que consume 4,1 milhões de toneladas por ano, mas o potencial é de 5,2 milhões. “O Oriente Médio é o espaço mais promissor de crescimento”, diz Turra. “Exportamos 1,4 milhão de toneladas, mas a esse volume poderia ser adicionado 1,8 milhão de toneladas de carne.”
No caso da carne suína, a história se repete com a Ásia e a Rússia, apontados como principais mercados potenciais de expansão para o produto brasileiro. “Podemos ir a um milhão de toneladas”, afirma Turra. “No ano passado, recuperamos mercados que havíamos perdido em 2013, principalmente o russo”. No ano passado, a Rússia comprou quase 38% de tudo o que foi exportado, equivalente a 190 mil toneladas. A maior parte foi de cortes congelados.
De acordo com Turra, a suinocultura é um setor que tem nos produtos processados, como embutidos, por exemplo, boas chances de ganhar mais. No ano passado, a receita por tonelada cresceu 18%, saindo de US$ 2,6 mil por tonelada em 2013 para US$ 3,2 mil, mais em função da demanda do que da agregação de valor. “Ainda exportamos muitos cortes, mas o caminho do lucro passa pela industrialização cada vez em maior escala”, diz. Um exemplo é a China, que consome atualmente 15% de carne processada e 85% in natura, enquanto nos Estados Unidos a relação é de 68% para 32%. No país asiático,
maior consumidor mundial de suínos com 58 milhões de toneladas por ano, a tendência é que esses mercados se invertam. “Queremos ganhar espaço nessa inversão”, diz Turra. Atualmente, a China importa 750 mil toneladas de carne suína, mas dentro de uma década a previsão é subir para 1,2 milhão de toneladas.