A briga dos herdeiros do construtor Waldomiro Zarzur por um espólio bilionário acaba de ganhar um novo capítulo, com mais uma ação da Justiça. Desta vez, uma das personagens da história, Adele Zarzur, que já tinha entrado com uma ação na Justiça pedindo a reabertura do inventário do patriarca, agora quer que seus irmãos, Roberto e Ricardo, que estão à frente da gestão do grupo deixado pelo pai sejam afastados de seus cargos.

E a briga pelo espólio de Waldomiro Zarzur, que morreu há uma década, não para por aí. Em outra investida contra os irmãos, Adele contratou um especialista nos Estados Unidos para fazer uma varredura sobre eventuais bens que podem estar escondidos no exterior; com isso, sinaliza que o contencioso pode ganhar um perfil internacional.

Conforme a nova ação, à qual o Estadão teve acesso, Adele aponta que a gestão dos irmãos é temerária e que vem gerando danos, incluindo a acusação de que teria havido ocultação e desvio de bens. “Adele reabriu o inventário de seu falecido pai, Waldomiro Zarzur, pois, ao que tudo indica, para além de praticarem fraudes do seio do Grupo WZ, seus irmãos sonegaram bens do patriarca do procedimento de partilha”, afirma, no documento.

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Adicionalmente, Adele pede que a Justiça exija que Roberto e Ricardo indenizem o grupo “por todos os danos que lhes causaram na condição de sócios-administradores”. “Os atos ilícitos dos Réus levaram as sociedades a ficarem privadas de valiosos ativos, dos mais variados tipos; e tais desvios devem ser contemplados para fins indenizatórios, a fim de que as sociedades tenham seu patrimônio devidamente recomposto”, aponta o processo.

O que está em jogo é uma fortuna bilionária deixada pelo patriarca, estimada em ao menos R$ 5 bilhões. Ao falecer, em 2013, Waldomiro deixou uma montanha de bens incluindo usinas hidrelétricas, prédios comerciais, fazendas e hotéis, como o WZ, na esquina da Alameda Lorena com a Avenida Rebouças. O empreendimento mais famoso é até hoje o edifício mais alto do centro de São Paulo, o Mirante do Vale.

Na ação, Adele, representada pelos escritório Warde Advogados, destaca que os irmãos “não convocam reuniões de sócios; não prestam contas; não submetem demonstrativos financeiros das sociedades”. “Por suas condutas enquanto sócios-administradores, Roberto e Ricardo impingiram graves danos às Sociedades do Grupo WZ: essas sociedades ficaram privadas dos valiosos ativos desviados do grupo, recursos ilicitamente vertidos para os Réus mediante atos irregulares de gestão”.

Essa acusação de eventual desvio de recursos remonta a um argumento já usado por Adele na ação em que pediu a revisão da repartição dos bens deixados pelo pai. Ela retoma a alegação de que os irmãos teriam usado “laranjas” para desviar bens e recursos. Na mesma ação, Adele aponta que bens foram transferidos a Roberto e Ricardo com Waldomiro em vida, em detrimento das herdeiras mulheres, Adele e a irmã Gisele.

Assim, além do afastamento dos irmãos do comando dos negócios da família, Adele pede a nomeação de um interventor judicial, com poder de acesso irrestrito aos documentos das sociedades do Grupo WZ e poder de veto sobre quaisquer operações entre partes relacionadas e entre as sociedades do Grupo WZ. Ela solicita ainda domínio sobre “as sociedades formadas por prováveis laranjas dos Réus, bem como sobre quaisquer pagamentos a serem feitos a essas sociedades”.

Peso-pesado

Para dar tração a uma investigação também fora do Brasil, Adele contratou Robert Zink, do escritório americano Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan, um dos maiores nomes na área de investigação de heranças. No primeiro movimento no exterior, já sinalizando que poderá haver uma empreitada na Justiça americana, Zink notifica o JPMorgan, pedindo informações sobre contas bancárias dos dois irmãos e de Waldomiro Zarzur, além de documentos que comprovem comunicação para transferência de ativos.

Procurados, Roberto e Ricardo Zarzur não comentaram até o fechamento desta reportagem.