Santos, 23 – A “explosão” das exportações de café conilon neste ano no Brasil não representa risco de desabastecimento interno, garante o diretor técnico do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Eduardo Heron do Carmo. À reportagem, ele reforçou que “não existe possibilidade de faltar o grão no Brasil para a indústria torrefadora”. Essa variedade é utilizada principalmente para a fabricação de café solúvel, embora componha blends com arábica também. “O setor, no País, já passou por outras crises internas, como a estiagem de 2017, que afetou severamente a produção de conilon. Mesmo assim, tivemos a indústria abastecida”, lembrou. Carmo conversou com a reportagem nos bastidores do 24º Seminário Internacional do Café, organizado pela Associação Comercial de Santos (ACS).

Conforme dados mais recentes do Cecafé, divulgados em 13 de maio, a exportação da variedade canéfora (robusta e conilon) somou 2,559 milhões de sacas embarcadas entre janeiro e abril deste ano, avanço de 548% ante igual período do ano passado. “O País está preparado para atender tanto à demanda interna quanto externa”, afirmou.

A demanda reforçada pelo café robusta ocorreu porque o Vietnã, principal produtor, enfrenta seca e redução da produção, o que levou o mercado a recorrer ao produto brasileiro. “Além disso, o Brasil tem preço competitivo e oferta, já que a safra foi boa.”

Ele acredita ainda que, se o mercado externo refluir para o Brasil quando o Vietnã retomar a produção, o mercado interno dará conta de absorver a safra. “Somos o segundo maior consumidor global de café”, informou. Assim, as vendas ocorrem respeitando-se as leis de oferta e demanda, normalmente. “Se o preço lá fora está mais atrativo, e há demanda, o setor exporta mais, e vice-versa.”

Colheita

A safra de café que está começando a ser colhida no Brasil, referente ao ciclo 2023/24, inicialmente tem apresentado grãos menores do que se esperava, embora ainda “seja cedo” para cravar que esse padrão seguirá até o fim do ciclo, disse o diretor do Escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes. “Eu diria, porém, que a média das peneiras pode ser menor; se ficar abaixo de 10% do padrão ideal será um problema muito sério”, acrescentou ele, nos bastidores do 24º Seminário Internacional de Café, em Santos (SP).

Outro fator preocupante, segundo o executivo, é que na variedade arábica tem ocorrido um fenômeno que ele “nunca viu” – Carvalhaes é a quarta geração de sua família a lidar com a commodity em Santos -, que é apenas 10% da safra colhida até o momento estar apresentando “peneiras mais altas, de 17 a 18”, ou seja, grãos maiores. “Isso (o tamanho do grão) pode aumentar com o avanço da colheita”, continua. “Mas este fator tem assustado o mercado, porque, até agora, em todas as regiões produtoras, poucos cafezais estão dando peneiras comuns ao padrão de safra.” Ele reforça, porém, que ainda “é cedo” para cravar que os grãos desta safra, tanto conilon quanto arábica, serão miúdos. “Teremos certeza disso ou não somente a partir de meados de junho e fim de julho, com a colheita mais avançada.”

Outro fator que o mercado esperava não tem se concretizado: a colheita “adiantada” do conilon. “Todo mundo falou que ia adiantar (por causa do clima) e não adiantou, diz Carvalhaes, acrescentando que a safra na Zona da Mata, região produtora de conilon, por exemplo, “está entrando devagar por enquanto”.