O Brasil é o País que mais tem áreas agrícolas certificadas no mundo. As propriedades que já receberam selos internacionais para as suas produções socialmente corretas ocupam 218,5 mil hectares cultivados com café, cana-de-açúcar, ervas para chá, citrus, cacau e, mais recentemente, bois. Os produtores brasileiros que estão certificando suas produções dentro de normas rigorosas querem seduzir um consumidor exigente e disposto a pagar mais por alimentos, principalmente em países da Europa.

“Produtos certificados é uma tendência nas gôndolas dos supermercados no mundo todo, não importa se a economia do país vai bem ou mal”, diz Eduardo Trevisan Gonçalves, secretário- executivo-adjunto do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), certificadora credenciada no País pela Rainforest Alliance e Rede de Agricultura Sustentável (RAS), d uas instituições internacionais de validação de processos produtivos. “Para produto com garantia de origem, sempre há comprador na Alemanha, Inglaterra, França e Itália, principalmente”, diz Gonçalves. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), há cinco anos esse segmento de mercado movimentava no mundo US$ 40 bilhões. Neste ano, a expectativa é de que a economia verde atinja US$ 70 bilhões.

As britânicas Tesco, Mark&Spencer e Sainsbury’s são algumas das redes que abastecem suas gôndolas no Brasil

Foram as grandes redes de varejo mundiais, como as britânicas Tesco, Mark&Spencer e Sainsbury’s, e a canadense Loblaws que identificaram há quase duas décadas o mercado de alimentos com selo de garantia de origem sustentável, como forma de incrementar o faturamento. E foi no Brasil que essas redes de supermercado encontraram a fonte para abastecer suas gôndolas.

O grupo JD, que pertence à viúva e aos filhos do francês Jacques Defforey, um dos fundadores do grupo Carrefour, é um deles. O JD é o maior produtor nacional de uva de mesa, com 20 mil toneladas por safra, no Vale do São Francisco – nos municípios de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia –, e possui um rebanho de 60 mil bovinos em Mato Grosso. Toda a produção das fazendas já recebeu diferentes certificações para atender ao mercado externo, como o selo de origem Carrefour, o Tesco Nature’s Choice, Walmart Ethical Standards, RAS e o Certificado Especial de Identificação e Produção (Ceip), do Ministério da Agricultura. Hoje, toda a uva cultivada pelo grupo JD vai parar nas prateleiras dos hipermercados Walmart, nos Estados Unidos, e Carrefour, na França. O mais recente selo conquistado pelo JD foi o da Rainforest Alliance, concedido pelo Imaflora para os bois criados nas fazendas localizadas nos municípios de Tangará da Serra, no bioma Cerrado, e em Juína, no bioma Amazônico. “Somos os primeiros no mundo a conquistar essa certificação”, afirma Arnaldo Eijsink, presidente do grupo.

De acordo com Luís Fernando Guedes Pinto, gerente de certificação da Imaflora, o gado do grupo JD se tornou totalmente rastreável, do momento em que o animal nasce até o abate. “A fazenda pode, por exemplo, comprovar em que tipo de pasto o animal se alimentou, quais os medicamentos que recebeu e quais foram as práticas de manejo no campo”, diz Guedes Pinto. Para Eijsink, a finalidade da certificação é acessar mercados que remunerem melhor a carne bovina e seus subprodutos, como o couro. “Já estamos em contato com empresas na Europa e, daqui a dois meses, devem começar as exportações de carne”, diz Eijsink. Segundo ele, a valorização dos produtos exportados deve ficar entre 3% e 5%, e serão pagos os investimentos para adequar as fazendas à certificação. “Nos últimos cinco anos, investimos R$ 240 mil no treinamento de funcionários e na estrutura para o bem-estar animal”, diz. Além da carne nas gôndolas dos supermercados, o couro deve ser vendido para a indústria de bolsas e calçados de marcas famosas italianas e para as fábricas de automóveis na confecção de bancos de veículos de luxo.

O País com selo de qualidade

As validações de institutos internacionais são para

– 218,5 mil hectares

– café, cana-de-açúcar, ervas para chá, citrus, cacau e bois

– propriedades têm 70,7 mil hectares preservados