André Mesquita é produtor rural em Franca, distante 400 quilômetros de São Paulo. O município é a segunda maior bacia leiteira do Estado, com 25 mil vacas que produzem diariamente 200 mil litros de leite. Há sete anos, todos os dias Mesquita entrega 2,5 mil litros de leite ao laticínio Jussara, em Patrocínio, cidade próxima de Franca. Entusiasmado com os bons preços do leite, ele tem planos de intensificar a produção, mas está encontrando dificuldade em arrumar tempo na sua agenda para se dedicar aos negócios do campo com mais afinco. É que, além de pecuarista, Mesquita ocupa a vice-presidência de produtos e operações do Banco Indusval & Partners, na capital paulista, uma instituição financeira focada no crédito corporativo.

Mesquita, vicepresidente – “O agronegócio tem sido um setor com excelente oportunidade de crescimento para o banco”

O banco tem entre seus sócios dois ex-presidentes da BM&F: Manoel Felix Cintra Neto e Luiz Masagão Ribeiro. No ano passado, a instituição transformou o agronegócio em um de seus principais focos ao adquirir a Serglobal Cereais, uma empresa de trading especializada em café, e passou a oferecer títulos agrícolas a seus clientes. Para Mesquita, com o crescimento do agronegócio, o produtor vai precisar de mais crédito do que as linhas oficiais podem fornecer, e a saída serão títulos do mercado financeiro. Os produtores podem obter recursos por meio das Letras de Crédito ao Agronegócio (LCAs) e de outros títulos específicos, como as Cédulas de Produto Rural (CPRs) física e financeira, e outros papéis menos conhecidos, como CDCA, CRA e CDA-WA (leia quadro). Essa sopa de letrinhas parece confusa, mas nada mais é do que um conjunto de títulos que pagam juros para o investidor e, de um modo ou de outro, têm sua rentabilidade garantida pelas atividades do agronegócio. “Em 2011, além dos títulos lastreados pela produção de café, o banco passou a negociar os papéis para soja, milho, algodão, etanol e açúcar, o que permitiu que nossa carteira se multiplicasse por cinco em relação a 2010”, diz Mesquita.

Nos resultados anunciados para 2011, o Indusval divulgou que sua carteira de crédito somou R$ 2,3 bilhões. Incluindo avais, fianças, cartas de crédito e os títulos agrícolas, o montante chegou a R$ 2,5 bilhões, um crescimento anual de 30,6%. No ano, as captações totais por meio de LCAs foram de R$ 225 milhões, e a emissão total de títulos do agronegócio cresceu 9%. Para Jair Ribeiro, presidente do banco, isso decorreu da adaptação dos títulos às necessidades dos produtores. “O agronegócio tem sido um setor com excelente oportunidade de crescimento para o banco”, diz. Segundo Mesquita, outros bancos estão começando a olhar com mais atenção para esse mercado, ainda dominado pelas CPRs. “São papéis extremamente seguros”, diz. Elas funcionam assim: um produtor rural assume uma dívida por meio da emissão de CPR, e a garantia é a produção em si (CPR física) ou seus ganhos (CPR financeira). Essa dívida é entregue em pagamento a um fornecedor – uma empresa de defensivos, por exemplo –, que repassa os papéis de diversos produtores para os bancos ou empresas de securitização. Lá, os lotes de CPR são empacotados em títulos como as LCA, as CDCA e as CRA. Ao “empacotar” esses papéis, o banco passa a ter o direito de receber o crédito, que é repassado para os investidores, que podem ser pessoas físicas ou fundos de investimento. Esse trabalho não assusta nem bancos nem produtores. Criada em 1994, hoje são emitidos R$ 20 bilhões de CPR a cada safra. No Indusval, 60% das CPRs têm como finalidade o crédito para a compra de insumos e 40% são para o custeio da safra. “Essa será uma atividade cada vez mais importante para o banco”, diz Mesquita. “Os bancos comerciais estão interessados no agronegócio, um setor que movimentou R$ 822 bilhões em 2011.”

LETRAS FÉRTEIS

OS PRINCIPAIS TÍTULOS DE CRÉDITO LASTREADOS PELO AGRONEGÓCIO

Cédula de Produto Rural (CPR) Física ou Financeira – título emitido pelo produtor rural e garantido pela produção

CDCA – Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio: título de crédito emitido por cooperativas, com lastro das CPRs

CRA – Certificado de Recebíveis do Agronegócio: parecido com o CDCA, mas inclui também os financiamentos ou empréstimos tomados pelo setor

 

CDA-WA – Certificado de Depósito Agropecuário e Warrant (financiamento de estoque): títulos emitidos pelo armazenador (CDA), garantidos pelo produto armazenado