Quem anda pelo bairro do Morumbi, uma das áreas residenciais mais nobres da cidade de São Paulo, não imagina o passado que há por trás daquelas ruas. No século XIX, toda aquela região abrigava uma grande fazenda, de nome Morumbi. Diz a história que a propriedade, de mais de 1.700 hectares, foi dada de presente por dom João VI ao produtor de chá preto John Maxwell Rudge, um britânico que ganhou as terras em 1813. Muito mais do que uma simples gentileza imperial, havia o interesse da realeza em que o agricultor suprisse a corte portuguesa de chá preto, já que o comum em terras brasileiras era o mate. Com o passar dos anos, o progresso de São Paulo foi avançando sobre a área rural. Não se sabe a data em que a fazenda foi vendida, mas a Academia Brasileira de Arte, Cultura e História (Abach), que há oito anos tem o local como sede, está em busca da informação. A verba para restauração da casasede da fazenda foi conseguida junto à iniciativa privada, por meio da Lei Rouanet. Hoje, 70% das instalações são usadas para exposição de artes plásticas e espetáculos teatrais. “Nos outros 30% funciona o restaurante, que é de onde tiramos receita para pagar o aluguel da casa”, explica Roberto Oropallo, presidente da Abach.

Entre as histórias contadas por Oropallo, uma das mais curiosas remete a outra área ilustre da capital paulista, o Viaduto do Chá, localizado na região central. Na época de sua construção, o nome escolhido para a obra foi Viaduto do Café, em função de o produto ser o mais importante da época. No entanto, o nome não caiu no gosto popular porque a região era chamada de Morro do Chá, devido a uma fazenda de chá-mate bem próxima à obra. Mas, voltando ao restaurante Casa da Fazenda Morumbi, ele fica a poucas casas do Palácio do Governo e é uma espécie de refúgio campestre em plena cidade. Dos oito mil metros quadrados da propriedade, quase metade é de árvores: araucárias, ipês, abacateiros, bananeiras, pessegueiros, mangueiras, etc.

DE VOLTA AO PASSADO: decoração clássica remete ao período do Brasil Colonial

O cliente tem a opção de ficar na área interna ou na varanda, que tem como vista o pomar de frutas. A decoração é clássica e as cadeiras remetem ao estilo colonial, o que passa a impressão de um retorno ao passado. Além de almoço e jantar, a casa é conhecida pelo chá da tarde, tradição inglesa herdada de Rudge, que na época da colheita do chá preto chamava os amigos para tomar um farto chá na fazenda com direito a muitas guloseimas. Mais requisitada no inverno, a opção custa R$ 39 por pessoa e inclui 33 itens entre doces e salgados, sem contar os chás, sucos e cafés. Segundo o chef da casa, o italiano Vicenzo Vessichio, “o chá da tarde é muito habitual entre as mulheres e elas adoram especialmente as sobremesas, as compotas de frutas e os bolos”, diz. No fim da campanha do agasalho, por exemplo, o local foi escolhido por Mônica Serra, esposa do governador José Serra, para um chá como forma de agradecimento às pessoas que a ajudaram. O restaurante também é ponto de encontro da Associação de Senhoras Latinas.

Por conta deste ambiente idílico, típico do Brasil Colônia, o restaurante já serviu de cenário para novelas, como Beto Rockefeller, A Moreninha e Sinhá Moça. E ainda hoje o local é usado em diversas produções. “Quase todo dia tem gente gravando aqui”, conta Oropallo. Além disso, o restaurante virou point de políticos e empresários. “A candidatura do Serra, por exemplo, foi fechada aqui”, diz. No entanto, a grande vocação do lugar é revelar novos artistas. “Damos oportunidade aos novatos, pois os que hoje são grandes contaram com pessoas que acreditaram no potencial deles”, diz o presidente. Para uma entidade que tem por meta preservar a história, a sede escolhida não poderia ser melhor. E o que significa Morumbi? Em tupi-guarani acha-se a expressão “morro ou colina verde”. Velhos tempos de uma São Paulo muito mais romântica.

ROBERTO OROPALLO: ele mantém viva a herança cultural do chá