Café

O cheirinho de um bom café é inesquecível para quase todo brasileiro. A bebida, a segunda mais consumida no País, depois da água, está em 98% dos lares. O atual consumo per capita anual é de 84 litros e aumenta, em média, 4% ao ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Esse cenário de crescimento da bebida no País faz parte de um movimento que ocorre globalmente. “Já estamos vivendo no Brasil o fim da terceira onda mundial da bebida”, afirma Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Abic. “Nela, aconteceu a ampliação do consumo de cafés de melhor qualidade e do número de cafeterias.” Agora, segundo Herszkowicz, o País está entrando na quarta onda, na qual todas as grandes empresas do setor estão abrindo os seus próprios negócios, ou comprando redes de cafés e lojas de alta qualidade para desenvolverem as suas marcas próprias e conhecerem as tendências de consumo.

No Brasil, um dos precursores desse movimento é o grupo Três Corações, com sede em Eusébio (CE). O grupo é líder nacional no segmento de café torrado e moído. São 21 marcas, entre elas a Três Corações, que é a principal, mais a Santa Clara, Fino Grão, Itamaraty, Iguaçu e Cirol. “Acreditamos no poder de vínculo com o consumidor, através de uma marca regional e na sua transformação em premium”, diz Pedro Lima, presidente do grupo Três Corações. Nesse modelo, a companhia possui duas cafeterias no Nordeste, uma em Natal e outra em Fortaleza. “Essas cafeterias servem como um laboratório da marca.” A empresa também mantém parceria com cerca de mil padarias. “Temos uma plataforma de negócios com essas casas, que estão desenvolvendo locais mais sofisticados para o consumo de café”, afirma o executivo. Não por acaso, o grupo Três Corações mantém um ritmo de crescimento na casa dos dois dígitos há vários anos. No ano passado, a receita do grupo foi de R$ 3,1 bilhões, ante R$ 2,5 bilhões no ano anterior. Em 2017, a expectativa é atingir cerca de R$ 4 bilhões. Com esse desempenho, a Três Corações sagrou-se campeã no setor Café do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017.

Lima credita o desempenho da empresa à transparência de suas operações e à crença de que é preciso aproveitar as oportunidades. “Na vida, o sucesso do passado não garante o do futuro. Por isso, o nosso maior desafio é continuar entendendo a cabeça do consumidor”, diz. “Precisamos estar antenados. Como foi o caso do e-commerce.” Nas aquisições de marcas regionais, a Três Corações tem mantido um ritmo forte. No ano passado, ela comprou a pernambucana Cirol por R$ 2,2 milhões, além de investir outros R$ 20 milhões para reposicioná-la no mercado. Nos últimos meses, a empresa entrou em processo de aquisição da mineira Toko. A marca de Juiz de Fora foi criada em 1920 e é avaliada pelo mercado em cerca de R$ 12 milhões. Para a marca Três Corações, nos últimos anos, a empresa tem apostado no mercado de cafés em cápsulas. Depois de cerca de dois anos de projeto, em 2016, o grupo iniciou a construção de uma fábrica de cápsulas no município de Montes Claros (MG), na qual foram investidos R$ 50 milhões. O início da produção ocorreu no primeiro semestre. A unidade tem capacidade mensal para 10 milhões de monodoses. “O investimento é para aumentarmos nossa fatia nesse segmento”, afirma.

Em 2016, foram comercializadas 80 milhões de monodoses, de acordo com Lima. “Para este ano, a expectativa é de 120 milhões de cápsulas vendidas, mas parte delas ainda é importada.” Em 2018, a empresa espera suprir o mercado com a produção nacional.

O grupo Três Corações é uma joint venture criada, em 2005, entre a brasileira São Miguel Holding e a holandesa Strauss Coffee, pertencente à israelense Strauss. É a união entre a empresa familiar e tradicional, mas de olho no futuro, junto com o capital estrangeiro, que tem mantido o ritmo de negócios na companhia. “Nosso conselho de gestão é muito organizado e atuante”, afirma Lima. “Seus integrantes se reúnem a cada três meses, de olho em preservar a sua boa governança.” Isso significa atenção total nos rumos do mercado.

Um dos mais recentes olhares do grupo, além das regiões Norte e Nordeste através das cafeterias, tem sido sobre o mercado da América Latina. Foi para avançar nessa região, que a empresa, também em 2016, comprou a Cia. Iguaçu, com sede em Cornélio Procópio (PR), uma das maiores do País no processamento de café solúvel. A empresa, que faturou R$ 458 milhões em 2016, era controlada pela japonesa Marubeni e dona das marcas Iguaçu, Cruzeiro e Amigo. “A compra foi importante ao nosso portfólio porque nos colocou em segundo lugar na área de café solúvel no Brasil”, diz Lima. A primeira do mercado é a Nescafé, marca criada pela Nestlé em 1938. “Além disso, a Cia. Iguaçu veio com uma plataforma de negócios no Uruguai, Chile, Paraguai e Bolívia, e vamos desenvolver planos para o mercado desses países.” O projeto coloca, definitivamente, a empresa como exportadora, um mercado que no ano passado movimentou US$ 5,5 bilhões com a venda de 1,9 milhão de toneladas de café.