19/05/2020 - 12:55
Hong Kong e Washington, 19 – A China aumentou significativamente as compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos nos últimos dois meses, de acordo com autoridades dos EUA. O movimento ocorre mesmo quando as compras em outros setores ficaram aquém das expectativas durante a primeira fase do acordo comercial entre os dois países.
Nas 10 semanas encerradas em 7 de maio, as vendas de milho e carne suína dos EUA para a China aumentaram cerca de oito vezes e as vendas de algodão foram três vezes maiores do que no mesmo período de 2017, antes do início da disputa comercial entre os dois países. As exportações de soja para a China, o maior componente das receitas agrícolas dos EUA, subiram cerca de um terço no mesmo período, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
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Importadores chineses compraram 1,19 milhão de toneladas de milho, 1,17 milhão de toneladas de algodão, 1,6 milhão de toneladas de soja e 244.532 toneladas de carne suína nas últimas 10 semanas, segundo dados do USDA. Além disso, o USDA foi notificado sobre vendas de aproximadamente 730 mil toneladas de soja a mais na semana desde 7 de maio, de acordo com seus relatórios.
Em janeiro, na assinatura da primeira fase do acordo bilateral, a China se comprometeu a aumentar as compras de bens e serviços dos EUA em US$ 200 bilhões em relação aos níveis de 2017 – antes dos impasses comerciais. O valor desembolsado pela China com importação de produtos agrícolas dos EUA deve equivaler a US$ 12,5 bilhões – acima do montante registrado em 2017. Em 2021, a receita deve ser ainda maior.
Apesar da retomada das aquisições chinesas de produtos agrícolas norte-americanos, o ritmo das compras está longe de atingir as metas de compras em geral. Uma pesquisa do Instituto Peterson de Economia Internacional mostra que, segundo o acordo, estava implícito que as importações chinesas em 2020 seriam de cerca de US$ 36,6 bilhões – ou aproximadamente US$ 9,1 bilhões no primeiro trimestre. No primeiro trimestre, as importações da China foram de apenas US$ 5,1 bilhões, embora o acordo comercial entrou em vigor somente em 14 de fevereiro. A pesquisa também releva que as compras da China em outras áreas, como de produtos energéticos, também estão bem abaixo das metas do ano.
Parte do desafio para a China cumprir o acordo são as condições econômicas domésticas que se deterioraram por causa da pandemia do novo coronavírus, reduzindo a demanda do país por commodities. Entretanto, o acordo estabelece que “considerações comerciais e condições de mercado” podem ser levadas em consideração, o que permitiria à China não cumprir seus compromissos.
A intensificação das compras agrícolas pela China ocorrem no mesmo momento em que o presidente norte-americano, Donald Trump, concede declarações conflitantes sobre sua visão do acordo. Em 3 de maio, Trump elogiou o “acordo comercial incrível”, mas ameaçou encerrá-lo se a China não cumprir seus compromissos de compra. Dez dias depois, ele afirmou que “100 acordos comerciais” não compensariam as vidas perdidas durante a pandemia do novo coronavírus, que ele chamou de “a praga da China”.
Os negociadores do governo Trump continuam pressionando Pequim sobre as compras – e a China continua sinalizando que pretende cumprir os compromissos de compra. Em 7 de maio, o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro Nacional, Steven Mnuchin, ligaram para o principal negociador chinês, o vice-primeiro-ministro, Liu He, para reafirmar o acordo comercial. Os negociadores concordaram em continuar cooperando e trabalhando na implementação do acordo comercial, de acordo com a agência estatal de notícias chinesa Xinhua.
A China estava pressionando para impulsionar as compras agrícolas antes que os negociadores conversassem. Trump geralmente ressalta as compras agrícolas como a pedra angular do acordo. Na semana passada, Pequim anunciou que agora os mirtilos e a cevada dos EUA podem ser exportados para a China.
Embora a demanda do consumidor na China tenha caído por causa da pandemia, Pequim está procurando cumprir suas metas, aumentando os estoques de alimentos, revisando a maneira como os gerentes das empresas estatais são aliviados como incluindo o cumprimento das metas da primeira fase e aumentando o crescimento econômico como a pandemia.
Dados do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China mostram que o país deve registrar excedentes para várias commodities agrícolas neste ano, incluindo a soja. O Ministério disse na semana passada que espera aumentar as importações de milho no na safra 2020/21 devido aos baixos preços globais, enquanto as importações de soja tendem a aumentar parcialmente neste ano, em esforço para cumprir o acordo comercial.
O Ministério também revisou para cima quantidade de algodão e soja que se espera importar no ano encerrado em 30 de setembro em 18% e 3,8% a mais, respectivamente. No entanto, outros países também devem se beneficiar, como o Brasil.