28/04/2021 - 14:17
Numa guinada de conteúdo em relação a seu antecessor Ernesto Araújo, o novo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto de Franco França, enfatizou nesta quarta-feira, 28, a deputados a importância atual da China para o Brasil e a expectativa de que continuará a ser um parceiro fundamental no futuro. “Um parceiro central para nós – é até redundante dizê-lo a Vossas Excelências – é a China”, disse.
O chanceler salientou que o país asiático é o maior parceiro comercial do Brasil e um dos cinco maiores investidores estrangeiros no País. Ele comentou que o comércio bilateral cresceu em 2020, apesar da pandemia, para um volume recorde de US$ 102,5 bilhões, com saldo superavitário, também recorde para o Brasil, de US$ 33 bilhões.
No primeiro trimestre deste ano, conforme França, já há mostras de que essa tendência deve perdurar. A corrente comercial do período atingiu US$ 28,5 bilhões, quase 20% a mais do que no ano passado. A China é, ainda, como lembrou o ministro, a principal origem externa de investimentos no PPI, com um quarto do total de investimentos previstos no programa.
“Olhando para a frente, observo que nossas exportações para a China, ainda concentradas em poucos produtos primários, poderão expandir-se e diversificar-se”, considerou ele, indicando que uma via seria pela aprovação de mais Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e pelo aumento da venda de proteína animal, com a habilitação de mais estabelecimentos.
O chanceler também mencionou que, no segundo semestre, haverá uma nova reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). “É foro de alto nível. Do lado brasileiro, é liderado pelo vice-presidente da República (Hamilton Mourão). Será oportunidade para o encaminhamento de questões que ajudarão a intensificar o comércio, os investimentos e a cooperação com a China”, previu.
Mercosul
O ministro apontou o Mercosul como o primeiro parceiro do Brasil e disse que o País está comprometido com a modernização do bloco, vista como uma peça importante de uma engrenagem mais ampla voltada para a melhor inserção do Brasil nos fluxos internacionais de bens, serviços e investimentos. “Ninguém tem ilusões quanto aos desafios inerentes a esse processo”, considerou.
Ao mesmo tempo em que se procura cultivar a agenda interna do grupo, há também um trabalho para impulsionar a agenda externa do bloco. “Temos dado grande atenção às negociações de acordos comerciais com parceiros externos.” É verdade, segundo ele, que os sócios do Mercosul podem ter tempos diferentes quando se trata de iniciar novas negociações e concluir processos em curso. Para o chanceler, no entanto, essas diferenças são naturais e devem ser respeitadas. “Mas estamos convencidos de que o Mercosul é capaz de articular as flexibilidades necessárias ao progresso de sua agenda externa. Estamos abertos a discutir possibilidades que sejam aceitáveis para todas as partes.”
UE
Sobre o acordo comercial com a União Europeia – que aguarda apreciação pelos parlamentos de todos os países envolvidos – França disse que a “aprovação do outro lado do Atlântico parece envolta em controvérsia”. “Aqui, temos ponderado a nossos amigos europeus que convém que nos concentremos nos fatos”, comentou. E ele disse que o Brasil está aberto à negociação de documento paralelo (chamado de “side letter”) para reafirmar os compromissos em matéria ambiental e social, ainda que não aceite a reabertura do texto do acordo, que é resultado de longa e complexa negociação – as partes costuraram o tratado por duas décadas.